sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

A Dama Vingadora - Capítulo 14



Capítulo 14


Steve não conseguia dormir. Havia coisas demais passando por sua cabeça. Estava preocupado com Bucky, com Natasha, com Phil, com o mundo.

Sim, ele sabia que precisava relaxar, que não podia tomar conta de tudo o tempo todo, mas era tão difícil para ele. Se o Bucky o visse agora...

Mas Bucky não era mais o amigo com o qual crescera. Ele passara por coisa terríveis, fizera coisas terríveis. Steve não sabia como ajudar o amigo, mas queria desesperadamente.

Jogou as cobertas no chão e começou a andar de um lado para o outro.

-Jarvis? –chamou hesitante.

-Como posso ajuda-lo, Capitão? –Jarvis respondeu quase imediatamente.

-Eu imagino que não tenha nada pra fazer chocolate quente aqui, né? –perguntou sem graça.

Agora que parava para pensar parecia uma coisa meio infantil de se pedir, mas era um de seus “luxos” preferidos dessa época. Talvez o ajudasse a dormir.

-Não no seu apartamento, Capitão. –Jarvis informou –Eu vou incluir na lista de compras para amanhã. No meio tempo, a única pessoa que tem todos os ingredientes necessários no apartamento seria a senhorita Lewis. No momento ela está acordada, assistindo uma maratona de Star Wars, se você quiser falar com ela.

Star Wars estava na lista dele, não estava?

-Obrigado, Jarvis, mas eu não vou interrompe-la. –Steve falou.

-A cozinha comunal também tem o necessário para chocolate quente. –Jarvis informou –E o filme “Nosferatu” de 1922 está prestes a ser exibido, caso você esteja interessado em ver algo.

-Eu lembro desse filme. –Steve falou com um pequeno sorriso –Muito assustador na minha época.

-É ainda considerado um clássico por muitos. –Jarvis informou.

-Eu vou subir e ver o filme. –Steve decidiu.

Porém quando ele entrou na sala alguém ja estava no sofá, esperando o começo desse exato filme.

-Toni?

Toni virou-se no sofá para olha-lo.

-Boa noite, Picolé. Também não conseguiu dormir?

-Sim. –ele se aproximou e viu que ela estava usando pijama de flanela xadrez –E você?

-As asas do seu amigo. –ela falou como se explicasse tudo –Eu queria continuar trabalhando nelas, mas Jarvis, o traidor, tem um acordo com a Pepper e ele desliga todos as luzes do meu laboratório se eu tentar varar a noite.

Steve imaginava que, se ela realmente quisesse, poderia reprogramar Jarvis ou arrumar alguma outra solução para o caso. Talvez Toni soubesse que não devia varar noites no laboratório.

-Então você vai varar a noite vendo filmes? –ele perguntou.

-Só esse. –ela falou –É um dos meus preferidos.

-Por que? –ele perguntou curioso.

-Sei la. Só é. Você vai sentar e assistir ou vai ficar falando na minha orelha?

Steve revirou os olhos e, esquecendo-se totalmente de porque tinha ido até ali pra começo de conversa, sentou-se ao lado de Toni.

-O que você está bebendo? –ele perguntou curioso vendo a garrafa de vidro na mão dela.

-Água de coco.

-Por que? –ele estava confuso.

-Porque eu gosto do sabor. –Toni estava olhando para Steve como se ele fosse louco –Que tipo de pergunta é essa?

-Nada, desculpa. –ele falou sem graça, voltando-se para a tv.

Quase falara que água de coco não tinha álcool, mas então percebeu como isso seria ofensivo. Não tinha direito nenhum de falar algo desse tipo para ela.

Steve já julgara Toni de forma injusta mais vezes do que devia. Ta, ela não era perfeita, mas ele também não. E nada dava a ele o direito de dizer o que era certo ou errado para a bilionária. Estava na hora de eles se acertarem de alguma forma de uma vez por todas.

De algum jeito...

-Toni, nós precisamos conversar. –ele falou virando-se para ela.

-Eu odeio essa frase. –Toni soltou um gemido sofrido –Nunca dá certo pra mim.

-Eu não quero brigar com você. –ele falou revirando os olhos –Na verdade, eu quero te agradecer por tudo.

Toni desligou o filme.

-Tudo o que? –ela perguntou chocada –Eu nem fiz nada.

-Como não? Você abriu sua casa para todos nós, você lutou com a gente, você está praticamente mantendo todos nós...

-Pode parar por aí. –ela falou –Eu não estou fazendo tudo isso porque eu sou uma pessoa generosa e bondosa.

-Então você está fazendo por que? –Steve desafiou.

-Porque eu quero!

Ele revirou os olhos mais uma vez.

-Dá pra você admitir que é um ser humano decente?

-Não, porque eu não sou! –ela protestou –Se você começar a me colocar em algum tipo de pedestal, você vai se decepcionar cedo ou tarde. Muito provavelmente cedo! É a única coisa que eu posso te garantir.

-Toni... –ele suspirou –Você ainda não me decepcionou.

-Bom, você está por sua conta e risco. –ela bufou cruzando os braços e olhando para o outro lado.

-Agora você não vai mais falar comigo? –ele provocou –Só porque eu fiz a besteira de dizer que você é uma boa pessoa?

Ela voltou-se para ele.

-Não. Eu vou mudar de assunto. –ela declarou.

E Steve nem teve tempo de perguntar como, antes de Toni pular para o colo dele.

-Eu prefiro esse. –Toni falou, extremamente satisfeita consigo mesma.

Daí, ele devia ter previsto que isso ia acontecer, mas mesmo assim não fez nada para evitar, porque ele nem queria parar. E estava na hora de admitir isso, não estava?

E se Toni estava surpresa porque ele estava participando, ela não estava demonstrando.

Ela chegou o mais perto possível, até o ponto que não havia mais espaço algum entre seus corpos. Uma das mãos de Steve estava no quadril dela, a outra afundando nos cabelos castanhos.

Sentiu as unhas dela arranhando suavemente seu pescoço e deixou um gemido escapar. Toni recompensou-o mordiscando seu lábio inferior.

Ela era pura perdição, melhor do que qualquer coisa que ele ja provara. Seria absurdamente fácil se deixar levar, mas havia algumas coisas que eles precisavam esclarecer ali.

Quando ela começou a tentar puxar a camiseta dele para cima, Steve parou tudo.

-Toni, uma coisa...

-Meu quarto fica mais perto. –ela informou beijando o pescoço dele.

-Eu não vou transar com você. –ele informou.

Toni parou de beija-lo e revirou os olhos.

-Ai meu saco, Picolé. –ela bufou –Você está obviamente muito interessado... –ela rolou os quadris de forma bem enfática para provar esse ponto –Eu estou obviamente muito disposta. Qual o problema?

-Eu não faço esse tipo de coisa...

-Sexo. –ela cortou.

-Casualmente. –ele completou.

-Você não está se salvando pro casamento né? –ela perguntou com uma careta.

-Eu não sou virgem, Toni. –Steve falou, levemente impaciente –Eu estou tentando te falar que, se você quer alguma coisa, você vai ter sair comigo antes.

Toni parecia chocada.

-Bom, eu acho que tomei algum tipo de droga e nem percebi. –ela falou por fim –Você está mesmo me falando que, se eu quiser transar com você, a gente precisa ter um relacionamento?

-É, mais ou menos isso mesmo.

Toni bufou e saiu do colo dele, sentando-se mais uma vez no sofá. Steve considerava uma pequena vitória o fato dela não ter simplesmente levantado e saído da sala.

-Você sabe como cortar o clima, Picolé. –ela falou cruzando os braços –E quem disse que eu quero alguma coisa de você, além de sexo, que só pra sua informação, seria fantástico?

-Eu não disse que você quer um relacionamento comigo, Toni. –ele falou calmamente –Só estou te dizendo que se você quiser esse tal sexo fantástico, vai ter que ser assim.

-Sabe, eu acho que você está confundindo os papéis aqui. –ela declarou voltando-se para ele –Porque você está soando como uma adolescente que acha que princípe encantado existe e eu como o cara que só quer uma trepada.

-Você tem que ser tão vulgar? –ele revirou os olhos.

-Você tem que ser tão puritano? –ela rebateu.

-Toni, você não tem que fazer nada que não quer. –ele falou –Isso inclui sair comigo. Mas eu não vou ser só mais um na sua longa lista de conquistas.

-Meu Deus, essa conversa é ridícula e eu me recuso a continuar nela. –ela levantou-se –Eu estou me sentindo um conquistador barato. Só falta o cavanhaque.

-Você está exagerando. –Steve falou.

-Não, você está exagerando! –ela rebateu, virando-se para ele e jogando as mãos pra cima –Qual o seu problema? Ta querendo salvar minha reputação? A sua?

-Eu sou de um tempo diferente, Toni. –ele falou por fim –Eu sei que pra você soa ridículo, mas na minha época você conquistava alguém aos poucos. Sim, a grande maioria das pessoas esperava até o casamento, mas não eram todos. Para mim, Steve Rogers, sexo não é pouca coisa, não é pra ser feito porque se está entediado ou curioso. Sexo é pra demonstrar afeto. Eu não estou preocupado com a sua reputação ou a minha. Só que, por mais que eu esteja interessado, e acredite, é até ridículo o quanto eu te quero, não vou jogar meus valores fora por uma noite de diversão.

Toni respirou fundo.

-Bom, se é isso que você está procurando, você definitivamente está olhando pra pessoa errada. –ela declarou antes de marchar pra fora da sala.

Ela tinha reagido um pouco melhor do que ele esperava. Mas se Toni achava que tinha terminado ali... Bom, ela estava muito enganada.

xXx

Na manhã seguinte Cora estava esperando por Toni para irem visitar Ozzy, como ela fazia todas as manhãs que trabalhavam.

Toni não estava no melhor dos humores, mas teria que ser cega para não perceber o sorriso no rosto de Cora.

Mesmo porque, a outra dificilmente mostrava o que estava sentindo tão claramente.

-Bom dia, Cordelia. –Toni falou assim que se aproximou –Eu devo imaginar pelo sorriso e saia de florzinha que rolou um sexo de boas-vindas ontem?

Cora tentou fazer cara de brava, mas não estava conseguindo parar de sorrir.

-Não, mas o dr Banner concordou em ir num encontro comigo. –ela falou animada.

-Ai, cacete! –Toni estourou –Qual é o negócio de vocês com encontros? Tudo precisa de encontro pra rolar? Não precisa, ta! Sexo ta ai pra ser feito.

Cora, que tinha ficado bem chocada com o começo da conversa, estava mais confusa no final dela.

-Oi? –ela perguntou.

-Não precisa de encontro pra transar, você sabe disso né? –Toni falou.

-Isso ta soando como um problema seu, não meu. –Cora falou.

-Longa história. –Toni fez um gesto de dispensa com a mão –Enfim. To feliz por você, Cora. –deu um tapinha na cabeça da outra mulher –O Bruce é um cara fantástico que merece ser feliz. E você é uma boa pessoa também. Que bom que vocês finalmente se acertaram.

Cora ficou vermelha.

-Obrigada.

-Mas chega de enrolar, que o Ozzy deve estar nos esperando.

-Ele ainda não resolveu falar com o Capitão? –Cora perguntou preocupada.

-Não. –Toni suspirou –Natasha vai ter que parar de frescura e vir pra cá o mais rápido possível. Ela é a única pessoa que deve ter alguma noção de como resolver essa situação.

-Lavagem cerebral? –Cora estava chocada.

-É, colega. Tem coisas sobre ela que nós não vamos entender nunca. –Toni falou.

As duas desceram em silêncio até o andar de Ozzy, só pra chegarem la e darem de cara com Steve.

-Vaza. –Toni falou na hora.

-Toni, vocês não deviam entrar la. –ele falou, ignorando o que ela dissera.

-Por que? –ela quis saber.

-Ele está inquieto, agitado. Eu não acho que seja seguro.

Toni foi até o painel e viu que Steve estava certo: Ozzy estava andando de um lado para o outro, os livros dele espalhados pelo chão. Nada quebrado ainda.

-Jarvis? Ele está assim desde quando? –ela quis saber.

-Ozzy não dormiu nessa noite, não comeu sua primeira refeição e pulou toda sua rotina matinal. –Jarvis informou –Ele está inquieto há 33 minutos, batimentos cardíacos levemente elevados, até agora sem sinais óbvios de agressão. Os livros ele derrubou por acidente, mas não se deu ao trabalho de recolhe-los.

-Bom, ative todos os protocólos de segurança para a Torre, se eu morrer é tudo da Pepper e abre a porta que eu vou entrar. –ela declarou.

-Toni, não! –Steve falou sério –É arriscado.

-Sim, querido, por isso existem protocólos de segurança. –ela falou com falsa doçura.

-Por que eu tenho a impressão de que sua definição de “protocólo de segurança” não seria aprovada por ninguem? –ele suspirou.

-Porque você me conhece. –Toni falou sinceramente –Jarvis, protocólos, porta, testamento. Fui! Cora espera aqui.

A mulher fez que sim com a cabeça.

-Você também, Picolé. –Toni falou séria –Eu tenho a impressão que ele está se sentindo estressado e você entrar ali não vai ajudar nada. Me dá cinco minutos. Se parecer que as coisas vão ficar sérias, você entra.

-Tudo bem. –Steve cedeu –Mas tome cuidado, Toni. Eu estou falando sério.

-Eu vou. –ela revirou os olhos –Ta tudo certo. Eu sei o que eu estou fazendo.

Steve não acreditava nisso nem por um segundo.

Assim que Toni entrou no quarto, Ozzy parou e se preparou para atacar.

-Sou eu, Ozzy. –Toni falou com calma.

-Eu preciso ir embora. –ele falou na hora –Eu não posso ficar aqui. Foi um erro. Eu tenho que ir.

-Não foi um erro. –Toni falou com calma –Está tudo bem, Ozzy. Vai passar, mas você precisa se acalmar.

-Eu falhei na minha missão. Eu devia retornar a base. Eu não devia estar aqui. –ele insistiu.

Toni deu um passo para frente com as mãos para cima, mostrando que não pretendia machuca-lo ou mesmo toca-lo.

-Sua missão acabou, Ozzy. HYDRA acabou. Você está livre agora. –ela falou –Nós queremos te ajudar, queremos que você entenda quem é.

-Eu não sei quem eu sou! –ele gritou.

-Então você pode começar do zero. –ela falou –Não importa.

-Você acha que não importa? –ele avançou na direção dela –Minhas mãos estão cobertas de sangue, minha roupas estão vermelhas de sangue, minha alma está encharcada. E você acha que não importa?

-Ozzy...

Ozzy pegou Toni pelo pescoço e colocou-a contra a parede, os dedos dos pés dela mal roçando o chão.

-Eu sou o Soldado Invernal. –ele rosnou para ela.

-Você está me machucando. –Toni falou o mais calma que pôde.

O que era impressionante só pelo fato de que mal estava respirando no momento.

-Ozzy! –Toni falou mais firme quando ele não respondeu –Você está me machucando e sabe que não é certo.

Os dedos dele apertaram o pescoço dela com mais força por um segundo. De repente Ozzy soltou Toni que desabou no chão. Ele foi parar do outro lado do quarto.

-O que eu fiz? –ele pergunto chocado, olhando para as próprias mãos.

-Foi um acidente. –Toni falou ofegante, levando a mão até pescoço. Isso ia deixar marcas –Eu não devia ter entrado com você assim.

-Eu devia ir embora. –ele falou mais uma vez.

-Chega dessa conversa! –Toni esbravejou com ele –Para com essa frescura de “devia”. O que você realmente quer? Ir embora? Porque se é isso, você pode sair, mas você nunca vai poder voltar. Essa é uma escolha sem volta.

Ozzy não disse nada.

-Você quer descobrir quem você é, quer começar de novo? –ela insistiu –Larga de ser mole, para de sentir pena de si mesmo. Você fica aqui, nós vamos te ajudar. Quantas vezes eu vou ter que falar isso antes de você acreditar?

Ozzy caiu sentado no chão.

-Eu preciso de ajuda. –ele falou baixo.

-Sim, você precisa e não há vergonha alguma nisso. –Toni falou séria –E eu sou a última pessoa no mundo que teria moral para dizer algo do tipo. Mas eu sou exatamente a pessoa que pode te dizer que não pedir ajuda não vai resolver nada. Vai te causar muito tempo perdido, noites mal dormidas e traumas desnecessários. Não vai ser fácil, mesmo com ajuda. Mas pra que fazer sozinho, se nós estamos aqui pra você?

-Por que? –ele eprguntou confuso –Você nem me conhece.

-Mas adoraria conhecer.

Ozzy respirou fundo várias vezes e Toni levantou-se com cuidado. O pescoço dela estava doendo pra cacete. Tudo bem, tinha previsto que algo do tipo fosse acontecer cedo ou tarde...

-Você ainda quer me ajudar? –ele perguntou.

-Sim. Mas isso? –ela apontou pro próprio pescoço –Nunca mais na sua vida! Principalmente com as outras pessoas da Torre.

Ele fez que sim com a cabeça.

-Eu vou mandar comida pra você de novo. –ela informou –Coma, se cuide. Eu estou trazendo ajuda, Ozzy.

-James.

-Oi?

-Você poderia me chamar de James? –ele pediu –Esse supostamente era meu nome.

-Fechado, James. Mas eu vou sentir saudade de Ozzy. –ela sorriu para ele.

James pareceu refletir.

-OK. Você pode me chamar de Ozzy, mas só você.

-Temos um acordo, querido. –ela riu –Comporte-se, coma alguma coisa e eu volto pra te ver no fim da tarde.

-Combinado.

xXx

Steve ia matar Toni!

O tal “protocólo de segurança” dela? Trancar todas as portas em caso de ataque, mesmo que com ela dentro da sala! Quando Bucky pegou-a pelo pescoço e colocou contra a parede, Steve quis entrar na sala e Jarvis não deixou!

Cora, que tinha ficado ali, parecia saber exatamente o que estava para acontecer com o tal protocólo e também não falou nada.

Steve não ia negar que Toni tinha resolvido o problema e acalmado Bucky, mas aquilo não era normal! Ela podia ter se machucado seriamente ou coisa pior.

Quando Toni deixou a sala ele teve que se segurar para não voar no pescoço dela, porque isso ja tinha acontecido uma vez hoje.

A vontade de Steve era pegar Bucky pelo pescoço por ter atacado Toni daquele jeito. Por mais que a bilionária se fizesse de durona ela não tinha treinamento algum. Não era como Natasha e Hill que teriam colocado Bucky no chão por pensar em encostar nela.

Ele não duvidava da capacidade de Toni, duvidava do bom senso.

-O que foi aquilo? –ele exigiu furioso.

-Uma situação que está sob controle. –Toni falou, levando a mão ao pescoço, provavelmente sem notar.

Ao ver as marcas na pele dela Steve quis matar Bucky. Sim, ele era seu amigo, mas aquilo era demais. O Bucky que ele conhecia, o Bucky que ele queria salvar, saberia que não era certo atacar alguém daquela forma.

Talvez Steve estivesse se iludindo.

-Não, Toni, aquilo não era uma situação sob controle. Aquilo foi perigoso e estúpido. –ele falou sem paciência.

Foi nessa hora que Cora resolveu virar e ir embora.

-Eu tinha controle sobre a situação. –Toni retrucou.

-Mentira! Você não tinha ideia do que você estava fazendo quando entrou naquela sala, o que ia acontecer! Toni, você podia ter se machucado seriamente! Você tem tão pouca consideração com a sua pessoa que...

-Eu tenho fé nele, Steve! –Toni cortou irritada –Eu não vou mentir que tive meus momentos auto-destrutivos ao longo dos anos e eles não foram poucos ou poéticos, mas não é isso! Não é que eu não me preocupe comigo mesma. Mas eu olho para ele e eu vejo... Eu vejo uma pessoa trancada numa cela, alguém que precisa desesperadamente de ajuda. E é uma ajuda que eu não posso dar. Eu não sei o que fazer exatamente para aliviar o sofrimento dele, mas eu gostaria muito de saber. Eu sei, melhor do que muita gente, o que é pedir socorro e não ter ninguem pra te socorrer.

E assim, com palavras, ela o quebrava. O que ele podia dizer depois disso?

-Olha, eu sei que você deve estar se preparando para me dar algum discurso, mas...

-Não. –ele respirou fundo –Eu não vou falar nada. Mas, Toni, me prometa que você não vai mais fazer nada do tipo.

-Olha, Picolé...

-Eu estou falando sério. –ele falou firme –Eu sei que você está querendo ajudar e que ele precisa da sua ajuda. Eu sei que você é capaz de tomar suas próprias decisões e de, geralmente, cuidar de si mesma. –ele segurou o rosto dela entre as mãos –Mas se você não quer pensar em você, pense nele. Como você acha que Bucky se sentiria se ele te machucasse seriamente? Se ele te matasse?

Toni bufou.

-Ta. Entendi. Saquei. Nós vamos arrumar um plano melhor.

-Nós vamos. –ele falou sorrindo –Enquanto isso... Quer sair pra jantar sábado a noite?

Ela estreitou os olhos.

-Eu não vou sair com você. –Toni falou por entre os dentes.

Steve abriu um sorriso que Toni nunca tinha visto antes. Um que era um pouco arrogante, um pouco cafajeste e totalmente delicioso.

-Quer apostar quanto?

xXx

Clint queria muito falar com Darcy. Aliás, ja teria falado com ela faz tempo, mas desde que ele voltara a garota o evitava a qualquer custo.

Não era justo.

Tudo bem que ele ja estava nessa vida ha tempo o bastante para saber que nada era justo, que coisas boas não aconteciam só porque você era “bom”. Essa história de você recebe o que você dá ao universo era a maior lorota ja inventada, para consolar pessoas de mente fraca. Ele, melhor que ninguém, sabia que as vezes ser bom não resolvia nada.

Mas será, que depois de todos esses anos, de tudo o que acontecera, depois de Bobbi e Barney, ele não merecia um pouco de paz? Só um pouco, só o bastante para tentar com Darcy.

-O que te faz tão sério, Barton?

Clint virou-se e deu um sorriso cansado para Thor.

-Nada, amigo. –ele bufou –Coisas, a vida.

-Lady Darcy? –Thor sugeriu.

-Como você sabe? –Clint geralmente era muito bom em esconder seus sentimentos.

-Eu ja vivi por muito tempo, companheiro. –Thor falou –Quando você vê tudo o que eu vi, fica fácil reconhecer os sinais. O fato de Darcy não estar falando com você te entristece.

-É. –ele admitiu –E eu sei que a culpa é minha.

-Não é uma questão de culpa, Barton. –Thor falou –A verdade é que, até esse ponto, sua vida e a de Darcy foram muito diferentes. Você viveu uma vida de segredos, mentiras, mortes. Teve que fazer coisas e tomar decisões para continuar vivo. Darcy, por outro lado, pode ter ouvido mentiras e segredos, mas ela era protegida, como a maioria das pessoas têm a sorte de ser. Você sabe que algumas missões requerem silêncio completo, segredo absoluto. Ela não pode aceitar isso, porque foi criada achando que precisa da verdade o tempo todo. Aposto que com Natasha não era assim.

-Não, não era. –ele falou baixo.

-Darcy está começando a entender e aceitar essa vida agora. Não vai ser fácil. –ele advertiu –Mas você tem que faze-la entender que ela não pode esperar de você o que esperaria de um outro pretendente. Que o que vocês têm agora, e tudo o que podem ter no futuro, sempre vai ser diferente do que ela está acostumada.

-Uau... –ele parecia chocado –Obrigado, Thor.

-De nada, amigo Barton. –Thor falou com um enorme sorriso, dando um tapa no ombro de Clint que quase mandou o outro homem pra longe –Você pretende falar com ela?

-Sim, hoje a noite. Toni estava certa, eu preciso buscar a Nat, onde quer que ela esteja. Mas não quero sair sem falar com a Darcy.

-Boa sorte.

É, ele ia precisar.

xXx

-E nosso amigo Ozzy aqui agora quer ser chamado de James. Menos por mim, porque eu sou especial. –Toni falou com um enorme sorriso, fazendo Jane rir e Cora revirar os olhos.

Como prometido ela voltara para ver James, que parecia muito mais calmo, quase sereno. Cora e Jane vieram com ela e Steve, o mala, estava do lado de fora.

-James combina com você. –Cora falou para ele –Te faz parecer um homem extremamente sério.

-Obrigado. –ele respondeu automaticamente.

-A gente só vai ter que trabalhar na sinceridade. –Toni revirou os olhos –Você não precisa dizer “obrigado” se não estiver realmente agradecido.

-Eu não sei se ser chamado de “sério” me faz sentir agradecido. –ele admitiu.

-Bom, depende do seu ponto de vista. –Jane ofereceu –Eu não me incomodaria.

-Eu ficaria ofendidissima! –Toni declarou.

-Que surpresa. –Cora remsungou, fazendo as outras rirem.

James assistia a tudo fascinado, como sempre fazia. A mente dele era uma tela branca. Não conseguia se lembrar de nada, mal lembrava-se de missões passadas, de líderes passados. Não sabia se já tinha rido ou sorrido algum dia na vida. Não sabia se realmente era “James”, ou “Ozzy” ou apenas um soldado sem nome.

-Eu trouxe livros novos para você, James. –Cora informou –“Emma” e “O Hobbit”. Eu vou deixar aqui na sua cômoda.

-Obrigado, boneca. –ele respondeu.

As três mulheres congelaram e James de repente pareceu percebber o que tinha dito.

-Eu te chamei de...

-Chamou. –Cora falou espantada.

-Eu sinto...

-Não, não! –ela cortou –Não tem problema, foi tão natural, como se você dissesse isso sempre.

-Escapou, eu não pensei em dizer isso. –ele admitiu.

-Eu acho, Ozzy, que existe uma personalidade ai dentro de você, louquinha pra sair e nos conhecer. –Toni falou sorrindo.

James pareceu refletir sobre isso.

-Eu acho que eu devia falar com o Capitão. –ele declarou por fim.

-Agora? –Toni perguntou chocada.

-Ainda não. –ele falou –Mas muito em breve.

-Quando você quiser, Ozzy. –ela prometeu.

xXx

Clint não podia esperar mais nem um segundo. Natasha tinha se enrolado de algum jeito e ele tinha que ir atrás dela.

Os dois tinham uma história muito complicada. Nat esteve lá em todos os momentos em que ele realmente precisou dela.

A ruiva achava que devia algo a ele, mas não era uma questão de débito. Clint nunca forçaria Natasha a ficar se ela realmente não quisesse. A verdade é que o arqueiro vira nela uma fragilidade, uma pessoa que andara na linha por tempo demais e estava prestes a se quebrar. Natasha precisava ser resgatada, reconhecendo isso ou não.

Sim, houve uma época em que algo mais físico acontecera entre eles, mas isso era passado. Ele sempre respeitaria Natasha, como colega de trabalho, como amiga, como agente, mas não a queria como mulher.

Estupidamente queria Darcy.

Então estava jogando todo seu (pouco) bom senso no lixo e indo atrás dela. Nesse exato minuto, literalmente.

Jarvis (que era fuxiqueiro e pelo jeito adorava se meter na vida dos outros) informara a Clint que Darcy estava, pra variar, na sala vendo maratona de sabe-se la o que dessa vez.

-Eu preciso falar com você. –ele declarou tão logo entrou na sala.

Darcy, longe de estar surpresa, resolveu ignora-lo.

-Eu estou vendo tv. –ela declarou sem virar-se.

-Que pena. –Clint falou. Em pouca passadas ele tinha se aproximado e tirado o controle do alcance dela para desligar o aparelho.

-Ei! –ela levantou-se num pulo, furiosa com ele.

-Nós vamos conversar, Darcy. –ele declarou sério –Nem que essa seja a última vez que você fale comigo.

Darcy cruzou os braços, então pareceu finalmente perceber que, embora fosse quase meia-noite, Clint estava vestido para sair, com uma bolsa jogada no chão, perto da porta do elevador.

-Onde você vai vai? –ela quis saber.

-Eu preciso buscar a Nat. –ele respondeu –Eu não acho que ela volta sozinha dessa vez.

Ao contrário do que ele esperava (e qual era a novidade? Darcy era imprevisível) isso fez a garota relaxar.

-Bom. –ela falou –Eu estava começando a ficar preocupada com ela.

-Eu também. –Clint admitiu –E Toni continua insistindo para eu traze-la de volta, para ajudar o Soldado, então acho que eu nem tenho mais escolha.

-Bom, boa viagem. –Darcy falou com falsa animação, dando a volta no sofá e dirigindo-se para a cozinha.

-Eu ainda não falei o que queria falar. –Clint observou.

-Que pena... –ela jogou as palavras dele de volta sem dó nenhum.

Então, hora de medidas drásticas.

Clint se aproximou de Darcy, pegou-a pela cintura (gritando e tudo) e depositou-a sentada no balcão da cozinha. Escolheu ficar entre as pernas dela para não ser chutado, o que talvez fosse um pouco demais para sua paz de mente.

-O que você pensa...

Clint segurou as mãos de Darcy antes que ela resolvesse estapea-lo.

-Deixa eu falar. –ele pediu sério –Se depois você quiser me bater, eu prometo que deixo. Mas agora me deixa falar.

Darcy bufou, mas fez que sim com a cabeça. Clint largou as mãos dela.

-Eu sei que pra você pode ser difícil de entender e aceitar, mas as vezes eu preciso sumir, Darcy. É normal na minha profissão. Nós ficamos em silêncio para preservar nossas identidades e informações. Eu não posso prometer que vou sempre te dizer onde estou, o que estou fazendo e quando volto, ou se eu volto. O que posso prometer é não mentir. Se você quer um relacionamento desses onde todos supostamente contam tudo o tempo todo, infelizmente eu não posso te dar isso. Eu queria muito. –ele admitiu num suspiro quase derrotado –Queria não ser danificado, não ter essa vida e essas memórias, porque você merece bem mais do que isso. Mas eu tenho problemas, traumas, possivelmente transtorno de estresse pós traumático. Eu nunca vou ser um cara normal. Só que eu quero você, quero estar com você. Não só como no Novo México, mas o tempo todo, sempre que possível. Mesmo que seja só pra ficar no sofá assistindo Simpsons.

Darcy não estava falando nada, mas os olhos dela estavam arregalados. Isso não podia ser um bom sinal.

-Darcy...

Ela lançou os braços em volta do pescoço dele, puxando-o para um abraço e afundando o rosto na curva do ombro dele.

-Volta logo. –ela pediu, sua voz abafada –Volta e a gente pede pizza, cerveja e conversa no meu sofá. Mas volta logo.

-Eu vou tentar, mas eu não prometo nada.

Mas ela não reclamou, apenas abraçou-o ainda mais apertado.

E nesse momento, isso era mais que perfeito.


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N/A: Ai está!

Muita fofura nesse capítulo, começando da Cora, passando pela Toni, o Clint e pelo Bucky e terminando  com o Steve sendo safado! hahahaha

COMENTEM!!!

B-jão

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