Capítulo 14
Steve não conseguia dormir.
Havia coisas demais passando por sua cabeça. Estava preocupado com Bucky, com
Natasha, com Phil, com o mundo.
Sim, ele sabia que precisava
relaxar, que não podia tomar conta de tudo o tempo todo, mas era tão difícil
para ele. Se o Bucky o visse agora...
Mas Bucky não era mais o
amigo com o qual crescera. Ele passara por coisa terríveis, fizera coisas
terríveis. Steve não sabia como ajudar o amigo, mas queria desesperadamente.
Jogou as cobertas no chão e
começou a andar de um lado para o outro.
-Jarvis? –chamou hesitante.
-Como posso ajuda-lo,
Capitão? –Jarvis respondeu quase imediatamente.
-Eu imagino que não tenha
nada pra fazer chocolate quente aqui, né? –perguntou sem graça.
Agora que parava para pensar
parecia uma coisa meio infantil de se pedir, mas era um de seus “luxos”
preferidos dessa época. Talvez o ajudasse a dormir.
-Não no seu apartamento,
Capitão. –Jarvis informou –Eu vou incluir na lista de compras para amanhã. No
meio tempo, a única pessoa que tem todos os ingredientes necessários no
apartamento seria a senhorita Lewis. No momento ela está acordada, assistindo
uma maratona de Star Wars, se você quiser falar com ela.
Star Wars estava na lista
dele, não estava?
-Obrigado, Jarvis, mas eu
não vou interrompe-la. –Steve falou.
-A cozinha comunal também
tem o necessário para chocolate quente. –Jarvis informou –E o filme “Nosferatu”
de 1922 está prestes a ser exibido, caso você esteja interessado em ver algo.
-Eu lembro desse filme.
–Steve falou com um pequeno sorriso –Muito assustador na minha época.
-É ainda considerado um
clássico por muitos. –Jarvis informou.
-Eu vou subir e ver o filme.
–Steve decidiu.
Porém quando ele entrou na
sala alguém ja estava no sofá, esperando o começo desse exato filme.
-Toni?
Toni virou-se no sofá para
olha-lo.
-Boa noite, Picolé. Também
não conseguiu dormir?
-Sim. –ele se aproximou e
viu que ela estava usando pijama de flanela xadrez –E você?
-As asas do seu amigo. –ela
falou como se explicasse tudo –Eu queria continuar trabalhando nelas, mas
Jarvis, o traidor, tem um acordo com a Pepper e ele desliga todos as luzes do
meu laboratório se eu tentar varar a noite.
Steve imaginava que, se ela
realmente quisesse, poderia reprogramar Jarvis ou arrumar alguma outra solução
para o caso. Talvez Toni soubesse que não devia varar noites no laboratório.
-Então você vai varar a
noite vendo filmes? –ele perguntou.
-Só esse. –ela falou –É um
dos meus preferidos.
-Por que? –ele perguntou
curioso.
-Sei la. Só é. Você vai
sentar e assistir ou vai ficar falando na minha orelha?
Steve revirou os olhos e,
esquecendo-se totalmente de porque tinha ido até ali pra começo de conversa,
sentou-se ao lado de Toni.
-O que você está bebendo?
–ele perguntou curioso vendo a garrafa de vidro na mão dela.
-Água de coco.
-Por que? –ele estava
confuso.
-Porque eu gosto do sabor.
–Toni estava olhando para Steve como se ele fosse louco –Que tipo de pergunta é
essa?
-Nada, desculpa. –ele falou
sem graça, voltando-se para a tv.
Quase falara que água de
coco não tinha álcool, mas então percebeu como isso seria ofensivo. Não tinha
direito nenhum de falar algo desse tipo para ela.
Steve já julgara Toni de
forma injusta mais vezes do que devia. Ta, ela não era perfeita, mas ele também
não. E nada dava a ele o direito de dizer o que era certo ou errado para a
bilionária. Estava na hora de eles se acertarem de alguma forma de uma vez por
todas.
De algum jeito...
-Toni, nós precisamos
conversar. –ele falou virando-se para ela.
-Eu odeio essa frase. –Toni
soltou um gemido sofrido –Nunca dá certo pra mim.
-Eu não quero brigar com
você. –ele falou revirando os olhos –Na verdade, eu quero te agradecer por
tudo.
Toni desligou o filme.
-Tudo o que? –ela perguntou
chocada –Eu nem fiz nada.
-Como não? Você abriu sua
casa para todos nós, você lutou com a gente, você está praticamente mantendo
todos nós...
-Pode parar por aí. –ela
falou –Eu não estou fazendo tudo isso porque eu sou uma pessoa generosa e
bondosa.
-Então você está fazendo por
que? –Steve desafiou.
-Porque eu quero!
Ele revirou os olhos mais
uma vez.
-Dá pra você admitir que é
um ser humano decente?
-Não, porque eu não sou!
–ela protestou –Se você começar a me colocar em algum tipo de pedestal, você
vai se decepcionar cedo ou tarde. Muito provavelmente cedo! É a única coisa que
eu posso te garantir.
-Toni... –ele suspirou –Você
ainda não me decepcionou.
-Bom, você está por sua
conta e risco. –ela bufou cruzando os braços e olhando para o outro lado.
-Agora você não vai mais
falar comigo? –ele provocou –Só porque eu fiz a besteira de dizer que você é
uma boa pessoa?
Ela voltou-se para ele.
-Não. Eu vou mudar de
assunto. –ela declarou.
E Steve nem teve tempo de
perguntar como, antes de Toni pular para o colo dele.
-Eu prefiro esse. –Toni
falou, extremamente satisfeita consigo mesma.
Daí, ele devia ter previsto
que isso ia acontecer, mas mesmo assim não fez nada para evitar, porque ele nem
queria parar. E estava na hora de admitir isso, não estava?
E se Toni estava surpresa
porque ele estava participando, ela não estava demonstrando.
Ela chegou o mais perto
possível, até o ponto que não havia mais espaço algum entre seus corpos. Uma
das mãos de Steve estava no quadril dela, a outra afundando nos cabelos
castanhos.
Sentiu as unhas dela
arranhando suavemente seu pescoço e deixou um gemido escapar. Toni
recompensou-o mordiscando seu lábio inferior.
Ela era pura perdição,
melhor do que qualquer coisa que ele ja provara. Seria absurdamente fácil se
deixar levar, mas havia algumas coisas que eles precisavam esclarecer ali.
Quando ela começou a tentar
puxar a camiseta dele para cima, Steve parou tudo.
-Toni, uma coisa...
-Meu quarto fica mais perto.
–ela informou beijando o pescoço dele.
-Eu não vou transar com
você. –ele informou.
Toni parou de beija-lo e
revirou os olhos.
-Ai meu saco, Picolé. –ela
bufou –Você está obviamente muito interessado... –ela rolou os quadris de forma
bem enfática para provar esse ponto –Eu estou obviamente muito disposta. Qual o
problema?
-Eu não faço esse tipo de
coisa...
-Sexo. –ela cortou.
-Casualmente. –ele completou.
-Você não está se salvando
pro casamento né? –ela perguntou com uma careta.
-Eu não sou virgem, Toni.
–Steve falou, levemente impaciente –Eu estou tentando te falar que, se você
quer alguma coisa, você vai ter sair comigo antes.
Toni parecia chocada.
-Bom, eu acho que tomei
algum tipo de droga e nem percebi. –ela falou por fim –Você está mesmo me
falando que, se eu quiser transar com você, a gente precisa ter um
relacionamento?
-É, mais ou menos isso
mesmo.
Toni bufou e saiu do colo
dele, sentando-se mais uma vez no sofá. Steve considerava uma pequena vitória o
fato dela não ter simplesmente levantado e saído da sala.
-Você sabe como cortar o
clima, Picolé. –ela falou cruzando os braços –E quem disse que eu quero alguma
coisa de você, além de sexo, que só pra sua informação, seria fantástico?
-Eu não disse que você quer
um relacionamento comigo, Toni. –ele falou calmamente –Só estou te dizendo que
se você quiser esse tal sexo fantástico, vai ter que ser assim.
-Sabe, eu acho que você está
confundindo os papéis aqui. –ela declarou voltando-se para ele –Porque você
está soando como uma adolescente que acha que princípe encantado existe e eu
como o cara que só quer uma trepada.
-Você tem que ser tão
vulgar? –ele revirou os olhos.
-Você tem que ser tão
puritano? –ela rebateu.
-Toni, você não tem que
fazer nada que não quer. –ele falou –Isso inclui sair comigo. Mas eu não vou
ser só mais um na sua longa lista de conquistas.
-Meu Deus, essa conversa é
ridícula e eu me recuso a continuar nela. –ela levantou-se –Eu estou me
sentindo um conquistador barato. Só falta o cavanhaque.
-Você está exagerando.
–Steve falou.
-Não, você está exagerando!
–ela rebateu, virando-se para ele e jogando as mãos pra cima –Qual o seu
problema? Ta querendo salvar minha reputação? A sua?
-Eu sou de um tempo
diferente, Toni. –ele falou por fim –Eu sei que pra você soa ridículo, mas na
minha época você conquistava alguém aos poucos. Sim, a grande maioria das
pessoas esperava até o casamento, mas não eram todos. Para mim, Steve Rogers,
sexo não é pouca coisa, não é pra ser feito porque se está entediado ou
curioso. Sexo é pra demonstrar afeto. Eu não estou preocupado com a sua
reputação ou a minha. Só que, por mais que eu esteja interessado, e acredite, é
até ridículo o quanto eu te quero, não vou jogar meus valores fora por uma
noite de diversão.
Toni respirou fundo.
-Bom, se é isso que você
está procurando, você definitivamente está olhando pra pessoa errada. –ela
declarou antes de marchar pra fora da sala.
Ela tinha reagido um pouco
melhor do que ele esperava. Mas se Toni achava que tinha terminado ali... Bom,
ela estava muito enganada.
xXx
Na manhã seguinte Cora
estava esperando por Toni para irem visitar Ozzy, como ela fazia todas as
manhãs que trabalhavam.
Toni não estava no melhor
dos humores, mas teria que ser cega para não perceber o sorriso no rosto de
Cora.
Mesmo porque, a outra
dificilmente mostrava o que estava sentindo tão claramente.
-Bom dia, Cordelia. –Toni
falou assim que se aproximou –Eu devo imaginar pelo sorriso e saia de florzinha
que rolou um sexo de boas-vindas ontem?
Cora tentou fazer cara de
brava, mas não estava conseguindo parar de sorrir.
-Não, mas o dr Banner
concordou em ir num encontro comigo. –ela falou animada.
-Ai, cacete! –Toni estourou
–Qual é o negócio de vocês com encontros? Tudo precisa de encontro pra rolar?
Não precisa, ta! Sexo ta ai pra ser feito.
Cora, que tinha ficado bem
chocada com o começo da conversa, estava mais confusa no final dela.
-Oi? –ela perguntou.
-Não precisa de encontro pra
transar, você sabe disso né? –Toni falou.
-Isso ta soando como um
problema seu, não meu. –Cora falou.
-Longa história. –Toni fez
um gesto de dispensa com a mão –Enfim. To feliz por você, Cora. –deu um tapinha
na cabeça da outra mulher –O Bruce é um cara fantástico que merece ser feliz. E
você é uma boa pessoa também. Que bom que vocês finalmente se acertaram.
Cora ficou vermelha.
-Obrigada.
-Mas chega de enrolar, que o
Ozzy deve estar nos esperando.
-Ele ainda não resolveu
falar com o Capitão? –Cora perguntou preocupada.
-Não. –Toni suspirou
–Natasha vai ter que parar de frescura e vir pra cá o mais rápido possível. Ela
é a única pessoa que deve ter alguma noção de como resolver essa situação.
-Lavagem cerebral? –Cora
estava chocada.
-É, colega. Tem coisas sobre
ela que nós não vamos entender nunca. –Toni falou.
As duas desceram em silêncio
até o andar de Ozzy, só pra chegarem la e darem de cara com Steve.
-Vaza. –Toni falou na hora.
-Toni, vocês não deviam
entrar la. –ele falou, ignorando o que ela dissera.
-Por que? –ela quis saber.
-Ele está inquieto, agitado.
Eu não acho que seja seguro.
Toni foi até o painel e viu
que Steve estava certo: Ozzy estava andando de um lado para o outro, os livros
dele espalhados pelo chão. Nada quebrado ainda.
-Jarvis? Ele está assim
desde quando? –ela quis saber.
-Ozzy não dormiu nessa
noite, não comeu sua primeira refeição e pulou toda sua rotina matinal. –Jarvis
informou –Ele está inquieto há 33 minutos, batimentos cardíacos levemente
elevados, até agora sem sinais óbvios de agressão. Os livros ele derrubou por
acidente, mas não se deu ao trabalho de recolhe-los.
-Bom, ative todos os
protocólos de segurança para a Torre, se eu morrer é tudo da Pepper e abre a
porta que eu vou entrar. –ela declarou.
-Toni, não! –Steve falou
sério –É arriscado.
-Sim, querido, por isso
existem protocólos de segurança. –ela falou com falsa doçura.
-Por que eu tenho a
impressão de que sua definição de “protocólo de segurança” não seria aprovada
por ninguem? –ele suspirou.
-Porque você me conhece.
–Toni falou sinceramente –Jarvis, protocólos, porta, testamento. Fui! Cora
espera aqui.
A mulher fez que sim com a
cabeça.
-Você também, Picolé. –Toni
falou séria –Eu tenho a impressão que ele está se sentindo estressado e você
entrar ali não vai ajudar nada. Me dá cinco minutos. Se parecer que as coisas
vão ficar sérias, você entra.
-Tudo bem. –Steve cedeu –Mas
tome cuidado, Toni. Eu estou falando sério.
-Eu vou. –ela revirou os
olhos –Ta tudo certo. Eu sei o que eu estou fazendo.
Steve não acreditava nisso
nem por um segundo.
Assim que Toni entrou no
quarto, Ozzy parou e se preparou para atacar.
-Sou eu, Ozzy. –Toni falou
com calma.
-Eu preciso ir embora. –ele
falou na hora –Eu não posso ficar aqui. Foi um erro. Eu tenho que ir.
-Não foi um erro. –Toni
falou com calma –Está tudo bem, Ozzy. Vai passar, mas você precisa se acalmar.
-Eu falhei na minha missão.
Eu devia retornar a base. Eu não devia estar aqui. –ele insistiu.
Toni deu um passo para
frente com as mãos para cima, mostrando que não pretendia machuca-lo ou mesmo
toca-lo.
-Sua missão acabou, Ozzy.
HYDRA acabou. Você está livre agora. –ela falou –Nós queremos te ajudar,
queremos que você entenda quem é.
-Eu não sei quem eu sou!
–ele gritou.
-Então você pode começar do
zero. –ela falou –Não importa.
-Você acha que não importa?
–ele avançou na direção dela –Minhas mãos estão cobertas de sangue, minha
roupas estão vermelhas de sangue, minha alma está encharcada. E você acha que não importa?
-Ozzy...
Ozzy pegou Toni pelo pescoço
e colocou-a contra a parede, os dedos dos pés dela mal roçando o chão.
-Eu sou o Soldado Invernal.
–ele rosnou para ela.
-Você está me machucando.
–Toni falou o mais calma que pôde.
O que era impressionante só
pelo fato de que mal estava respirando no momento.
-Ozzy! –Toni falou mais
firme quando ele não respondeu –Você está me machucando e sabe que não é certo.
Os dedos dele apertaram o
pescoço dela com mais força por um segundo. De repente Ozzy soltou Toni que
desabou no chão. Ele foi parar do outro lado do quarto.
-O que eu fiz? –ele pergunto
chocado, olhando para as próprias mãos.
-Foi um acidente. –Toni
falou ofegante, levando a mão até pescoço. Isso ia deixar marcas –Eu não devia
ter entrado com você assim.
-Eu devia ir embora. –ele
falou mais uma vez.
-Chega dessa conversa! –Toni
esbravejou com ele –Para com essa frescura de “devia”. O que você realmente
quer? Ir embora? Porque se é isso, você pode sair, mas você nunca vai poder
voltar. Essa é uma escolha sem volta.
Ozzy não disse nada.
-Você quer descobrir quem
você é, quer começar de novo? –ela insistiu –Larga de ser mole, para de sentir
pena de si mesmo. Você fica aqui, nós vamos te ajudar. Quantas vezes eu vou ter
que falar isso antes de você acreditar?
Ozzy caiu sentado no chão.
-Eu preciso de ajuda. –ele
falou baixo.
-Sim, você precisa e não há
vergonha alguma nisso. –Toni falou séria –E eu sou a última pessoa no mundo que
teria moral para dizer algo do tipo. Mas eu sou exatamente a pessoa que pode te
dizer que não pedir ajuda não vai resolver nada. Vai te causar muito tempo
perdido, noites mal dormidas e traumas desnecessários. Não vai ser fácil, mesmo
com ajuda. Mas pra que fazer sozinho, se nós estamos aqui pra você?
-Por que? –ele eprguntou
confuso –Você nem me conhece.
-Mas adoraria conhecer.
Ozzy respirou fundo várias
vezes e Toni levantou-se com cuidado. O pescoço dela estava doendo pra cacete.
Tudo bem, tinha previsto que algo do tipo fosse acontecer cedo ou tarde...
-Você ainda quer me ajudar?
–ele perguntou.
-Sim. Mas isso? –ela apontou
pro próprio pescoço –Nunca mais na sua vida! Principalmente com as outras
pessoas da Torre.
Ele fez que sim com a
cabeça.
-Eu vou mandar comida pra
você de novo. –ela informou –Coma, se cuide. Eu estou trazendo ajuda, Ozzy.
-James.
-Oi?
-Você poderia me chamar de
James? –ele pediu –Esse supostamente era meu nome.
-Fechado, James. Mas eu vou
sentir saudade de Ozzy. –ela sorriu para ele.
James pareceu refletir.
-OK. Você pode me chamar de
Ozzy, mas só você.
-Temos um acordo, querido.
–ela riu –Comporte-se, coma alguma coisa e eu volto pra te ver no fim da tarde.
-Combinado.
xXx
Steve ia matar Toni!
O tal “protocólo de
segurança” dela? Trancar todas as portas em caso de ataque, mesmo que com ela
dentro da sala! Quando Bucky pegou-a pelo pescoço e colocou contra a parede,
Steve quis entrar na sala e Jarvis não deixou!
Cora, que tinha ficado ali,
parecia saber exatamente o que estava para acontecer com o tal protocólo e
também não falou nada.
Steve não ia negar que Toni
tinha resolvido o problema e acalmado Bucky, mas aquilo não era normal! Ela
podia ter se machucado seriamente ou coisa pior.
Quando Toni deixou a sala
ele teve que se segurar para não voar no pescoço dela, porque isso ja tinha
acontecido uma vez hoje.
A vontade de Steve era pegar
Bucky pelo pescoço por ter atacado
Toni daquele jeito. Por mais que a bilionária se fizesse de durona ela não
tinha treinamento algum. Não era como Natasha e Hill que teriam colocado Bucky
no chão por pensar em encostar nela.
Ele não duvidava da
capacidade de Toni, duvidava do bom senso.
-O que foi aquilo? –ele
exigiu furioso.
-Uma situação que está sob
controle. –Toni falou, levando a mão ao pescoço, provavelmente sem notar.
Ao ver as marcas na pele
dela Steve quis matar Bucky. Sim, ele era seu amigo, mas aquilo era demais. O
Bucky que ele conhecia, o Bucky que ele queria salvar, saberia que não era
certo atacar alguém daquela forma.
Talvez Steve estivesse se
iludindo.
-Não, Toni, aquilo não era
uma situação sob controle. Aquilo foi perigoso e estúpido. –ele falou sem paciência.
Foi nessa hora que Cora
resolveu virar e ir embora.
-Eu tinha controle sobre a
situação. –Toni retrucou.
-Mentira! Você não tinha
ideia do que você estava fazendo quando entrou naquela sala, o que ia
acontecer! Toni, você podia ter se machucado seriamente! Você tem tão pouca
consideração com a sua pessoa que...
-Eu tenho fé nele, Steve!
–Toni cortou irritada –Eu não vou mentir que tive meus momentos
auto-destrutivos ao longo dos anos e eles não foram poucos ou poéticos, mas não
é isso! Não é que eu não me preocupe comigo mesma. Mas eu olho para ele e eu
vejo... Eu vejo uma pessoa trancada numa cela, alguém que precisa
desesperadamente de ajuda. E é uma ajuda que eu não posso dar. Eu não sei o que
fazer exatamente para aliviar o sofrimento dele, mas eu gostaria muito de
saber. Eu sei, melhor do que muita gente, o que é pedir socorro e não ter
ninguem pra te socorrer.
E assim, com palavras, ela o
quebrava. O que ele podia dizer depois disso?
-Olha, eu sei que você deve
estar se preparando para me dar algum discurso, mas...
-Não. –ele respirou fundo
–Eu não vou falar nada. Mas, Toni, me prometa que você não vai mais fazer nada
do tipo.
-Olha, Picolé...
-Eu estou falando sério.
–ele falou firme –Eu sei que você está querendo ajudar e que ele precisa da sua
ajuda. Eu sei que você é capaz de tomar suas próprias decisões e de,
geralmente, cuidar de si mesma. –ele segurou o rosto dela entre as mãos –Mas se
você não quer pensar em você, pense nele. Como você acha que Bucky se sentiria
se ele te machucasse seriamente? Se ele te matasse?
Toni bufou.
-Ta. Entendi. Saquei. Nós
vamos arrumar um plano melhor.
-Nós vamos. –ele falou
sorrindo –Enquanto isso... Quer sair pra jantar sábado a noite?
Ela estreitou os olhos.
-Eu não vou sair com você. –Toni
falou por entre os dentes.
Steve abriu um sorriso que
Toni nunca tinha visto antes. Um que era um pouco arrogante, um pouco cafajeste
e totalmente delicioso.
-Quer apostar quanto?
xXx
Clint queria muito falar com
Darcy. Aliás, ja teria falado com ela faz tempo, mas desde que ele voltara a
garota o evitava a qualquer custo.
Não era justo.
Tudo bem que ele ja estava
nessa vida ha tempo o bastante para saber que nada era justo, que coisas boas
não aconteciam só porque você era “bom”. Essa história de você recebe o que
você dá ao universo era a maior lorota ja inventada, para consolar pessoas de
mente fraca. Ele, melhor que ninguém, sabia que as vezes ser bom não resolvia
nada.
Mas será, que depois de
todos esses anos, de tudo o que acontecera, depois de Bobbi e Barney, ele não
merecia um pouco de paz? Só um pouco, só o bastante para tentar com Darcy.
-O que te faz tão sério,
Barton?
Clint virou-se e deu um
sorriso cansado para Thor.
-Nada, amigo. –ele bufou
–Coisas, a vida.
-Lady Darcy? –Thor sugeriu.
-Como você sabe? –Clint
geralmente era muito bom em esconder seus sentimentos.
-Eu ja vivi por muito tempo,
companheiro. –Thor falou –Quando você vê tudo o que eu vi, fica fácil
reconhecer os sinais. O fato de Darcy não estar falando com você te entristece.
-É. –ele admitiu –E eu sei
que a culpa é minha.
-Não é uma questão de culpa,
Barton. –Thor falou –A verdade é que, até esse ponto, sua vida e a de Darcy foram
muito diferentes. Você viveu uma vida de segredos, mentiras, mortes. Teve que
fazer coisas e tomar decisões para continuar vivo. Darcy, por outro lado, pode
ter ouvido mentiras e segredos, mas ela era protegida, como a maioria das
pessoas têm a sorte de ser. Você sabe que algumas missões requerem silêncio
completo, segredo absoluto. Ela não pode aceitar isso, porque foi criada
achando que precisa da verdade o tempo todo. Aposto que com Natasha não era
assim.
-Não, não era. –ele falou
baixo.
-Darcy está começando a
entender e aceitar essa vida agora. Não vai ser fácil. –ele advertiu –Mas você
tem que faze-la entender que ela não pode esperar de você o que esperaria de um
outro pretendente. Que o que vocês têm agora, e tudo o que podem ter no futuro,
sempre vai ser diferente do que ela está acostumada.
-Uau... –ele parecia chocado
–Obrigado, Thor.
-De nada, amigo Barton.
–Thor falou com um enorme sorriso, dando um tapa no ombro de Clint que quase
mandou o outro homem pra longe –Você pretende falar com ela?
-Sim, hoje a noite. Toni
estava certa, eu preciso buscar a Nat, onde quer que ela esteja. Mas não quero
sair sem falar com a Darcy.
-Boa sorte.
É, ele ia precisar.
xXx
-E nosso amigo Ozzy aqui
agora quer ser chamado de James. Menos por mim, porque eu sou especial. –Toni
falou com um enorme sorriso, fazendo Jane rir e Cora revirar os olhos.
Como prometido ela voltara
para ver James, que parecia muito mais calmo, quase sereno. Cora e Jane vieram
com ela e Steve, o mala, estava do lado de fora.
-James combina com você. –Cora
falou para ele –Te faz parecer um homem extremamente sério.
-Obrigado. –ele respondeu
automaticamente.
-A gente só vai ter que
trabalhar na sinceridade. –Toni revirou os olhos –Você não precisa dizer
“obrigado” se não estiver realmente agradecido.
-Eu não sei se ser chamado
de “sério” me faz sentir agradecido. –ele admitiu.
-Bom, depende do seu ponto
de vista. –Jane ofereceu –Eu não me incomodaria.
-Eu ficaria ofendidissima!
–Toni declarou.
-Que surpresa. –Cora
remsungou, fazendo as outras rirem.
James assistia a tudo
fascinado, como sempre fazia. A mente dele era uma tela branca. Não conseguia
se lembrar de nada, mal lembrava-se de missões passadas, de líderes passados.
Não sabia se já tinha rido ou sorrido algum dia na vida. Não sabia se realmente
era “James”, ou “Ozzy” ou apenas um soldado sem nome.
-Eu trouxe livros novos para
você, James. –Cora informou –“Emma” e “O Hobbit”. Eu vou deixar aqui na sua
cômoda.
-Obrigado, boneca. –ele
respondeu.
As três mulheres congelaram
e James de repente pareceu percebber o que tinha dito.
-Eu te chamei de...
-Chamou. –Cora falou
espantada.
-Eu sinto...
-Não, não! –ela cortou –Não
tem problema, foi tão natural, como se você dissesse isso sempre.
-Escapou, eu não pensei em
dizer isso. –ele admitiu.
-Eu acho, Ozzy, que existe
uma personalidade ai dentro de você, louquinha pra sair e nos conhecer. –Toni
falou sorrindo.
James pareceu refletir sobre
isso.
-Eu acho que eu devia falar
com o Capitão. –ele declarou por fim.
-Agora? –Toni perguntou
chocada.
-Ainda não. –ele falou –Mas
muito em breve.
-Quando você quiser, Ozzy.
–ela prometeu.
xXx
Clint não podia esperar mais
nem um segundo. Natasha tinha se enrolado de algum jeito e ele tinha que ir
atrás dela.
Os dois tinham uma história
muito complicada. Nat esteve lá em todos os momentos em que ele realmente
precisou dela.
A ruiva achava que devia
algo a ele, mas não era uma questão de débito. Clint nunca forçaria Natasha a
ficar se ela realmente não quisesse. A verdade é que o arqueiro vira nela uma
fragilidade, uma pessoa que andara na linha por tempo demais e estava prestes a
se quebrar. Natasha precisava ser resgatada, reconhecendo isso ou não.
Sim, houve uma época em que
algo mais físico acontecera entre eles, mas isso era passado. Ele sempre
respeitaria Natasha, como colega de trabalho, como amiga, como agente, mas não
a queria como mulher.
Estupidamente queria Darcy.
Então estava jogando todo
seu (pouco) bom senso no lixo e indo atrás dela. Nesse exato minuto, literalmente.
Jarvis (que era fuxiqueiro e
pelo jeito adorava se meter na vida dos outros) informara a Clint que Darcy
estava, pra variar, na sala vendo maratona de sabe-se la o que dessa vez.
-Eu preciso falar com você.
–ele declarou tão logo entrou na sala.
Darcy, longe de estar
surpresa, resolveu ignora-lo.
-Eu estou vendo tv. –ela
declarou sem virar-se.
-Que pena. –Clint falou. Em
pouca passadas ele tinha se aproximado e tirado o controle do alcance dela para
desligar o aparelho.
-Ei! –ela levantou-se num pulo,
furiosa com ele.
-Nós vamos conversar, Darcy.
–ele declarou sério –Nem que essa seja a última vez que você fale comigo.
Darcy cruzou os braços,
então pareceu finalmente perceber que, embora fosse quase meia-noite, Clint
estava vestido para sair, com uma bolsa jogada no chão, perto da porta do
elevador.
-Onde você vai vai? –ela
quis saber.
-Eu preciso buscar a Nat.
–ele respondeu –Eu não acho que ela volta sozinha dessa vez.
Ao contrário do que ele
esperava (e qual era a novidade? Darcy era imprevisível) isso fez a garota
relaxar.
-Bom. –ela falou –Eu estava
começando a ficar preocupada com ela.
-Eu também. –Clint admitiu
–E Toni continua insistindo para eu traze-la de volta, para ajudar o Soldado,
então acho que eu nem tenho mais escolha.
-Bom, boa viagem. –Darcy
falou com falsa animação, dando a volta no sofá e dirigindo-se para a cozinha.
-Eu ainda não falei o que
queria falar. –Clint observou.
-Que pena... –ela jogou as
palavras dele de volta sem dó nenhum.
Então, hora de medidas
drásticas.
Clint se aproximou de Darcy,
pegou-a pela cintura (gritando e tudo) e depositou-a sentada no balcão da
cozinha. Escolheu ficar entre as pernas dela para não ser chutado, o que talvez
fosse um pouco demais para sua paz de mente.
-O que você pensa...
Clint segurou as mãos de
Darcy antes que ela resolvesse estapea-lo.
-Deixa eu falar. –ele pediu
sério –Se depois você quiser me bater, eu prometo que deixo. Mas agora me deixa
falar.
Darcy bufou, mas fez que sim
com a cabeça. Clint largou as mãos dela.
-Eu sei que pra você pode
ser difícil de entender e aceitar, mas as vezes eu preciso sumir, Darcy. É
normal na minha profissão. Nós ficamos em silêncio para preservar nossas
identidades e informações. Eu não posso prometer que vou sempre te dizer onde
estou, o que estou fazendo e quando volto, ou se eu volto. O que posso prometer
é não mentir. Se você quer um relacionamento desses onde todos supostamente contam
tudo o tempo todo, infelizmente eu não posso te dar isso. Eu queria muito. –ele
admitiu num suspiro quase derrotado –Queria não ser danificado, não ter essa
vida e essas memórias, porque você merece bem mais do que isso. Mas eu tenho
problemas, traumas, possivelmente transtorno de estresse pós traumático. Eu
nunca vou ser um cara normal. Só que eu quero você, quero estar com você. Não
só como no Novo México, mas o tempo todo, sempre que possível. Mesmo que seja
só pra ficar no sofá assistindo Simpsons.
Darcy não estava falando
nada, mas os olhos dela estavam arregalados. Isso não podia ser um bom sinal.
-Darcy...
Ela lançou os braços em
volta do pescoço dele, puxando-o para um abraço e afundando o rosto na curva do
ombro dele.
-Volta logo. –ela pediu, sua
voz abafada –Volta e a gente pede pizza, cerveja e conversa no meu sofá. Mas
volta logo.
-Eu vou tentar, mas eu não
prometo nada.
Mas ela não reclamou, apenas
abraçou-o ainda mais apertado.
E nesse momento, isso era
mais que perfeito.
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N/A: Ai está!
Muita fofura nesse capítulo, começando da Cora, passando pela Toni, o Clint e pelo Bucky e terminando com o Steve sendo safado! hahahaha
COMENTEM!!!
B-jão
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