Capítulo 8
Na manhã seguinte, quando
partiram em barcos, Susan sentiu que finalmente podia respirar.
A conversa com o elfo não
tinha sido agradável. Nunca era agradável lembrar-se daquela guerra ou de
Rabadash.
Por um tempo, logo depois do
ocorrido, ela tivera pesadelos nos quais Reepicheep nunca os alertara do perigo
e o princípe conseguia colocar as mãos nela.
E Lucy... Sabia que a irmã
não tinha feito por mal. Que eram comentários sem crueldade, mas mesmo assim...
-Bom, obrigada por essa,
Sue. –foi o que ela disse tão logo a batalha terminou.
E alguns dias depois ouviu a
irmã dizendo para Caspian que “a beleza de Susan era tanta que ela precisava
literalmente fugir do pretendentes e mesmo assim eles criavam guerras pra te-la
de volta”.
A amargura na voz de Lucy
foi o que pegou Susan de surpresa. Caspian não ajudou nada, declarando que
lutaria milhares de batalha para proteger a Rainha Gentil.
Talvez realmente tudo
tivesse sido culpa dela.
Talvez não.
De qualquer jeito não era da
conta daquele elfo curioso.
Ele estava começando a
incomoda-la mesmo sem tentar. Precisava manter uma certa distância, porque
havia coisas muito mais importante para prestar atenção no momento.
Não que todos parecessem
perceber, ja que estavam com sorrisos idiotas depois de deixarem a Senhora do
Lago, contentes com os seus presentes. Boromir era o único que, como ela,
parecia feliz de estar se afastando das
garras de Galadriel.
De alguma forma ela fora
parar num barco com Gimli, Legolas e Reepicheep.
Estava encostada a proa do
pequeno barco, com Reepicheep em seu joelho, contando suas conversas com os
elfos.
Então Gimli suspirou.
-Eu recebi minha pior ferida
nessa despedida, tendo olhado pela última vez para aquela que é a mais bela. –o
anão falou -De agora em diante não chamarei nada de belo, a não ser o presente
dela para mim.
-O que foi? –Legolas
perguntou curioso.
-Eu lhe pedi por um fio de
cabelo de sua cabeça dourada. Ela me deu três. –ele declarou orgulhoso, fazendo
o elfo sorrir.
-A mais bela? –Reepicheep
repetiu incrédulo –Não há mulher mais bela nesse mundo que minhas rainhas!
Susan revirou os olhos.
-Reepicheep, Gimli pode
chamar de bela quem ele quiser. –ela falou com paciência –Embora, eu ache que é
Lady Arwen a mulher mais bela que eu já vi.
-Ah sim. –Reepicheep
concordou –Lady Arwen é muito bela. Porém, eu ainda acho que você e rainha Lucy
são as mais belas.
-Sua lealdade é imensamente
apreciada, Reepicheep. –ela falou sorrindo.
-Então beleza é uma
característica de família? –Gimli perguntou sorrindo.
-Definitivamente. –Susan
respondeu antes que Reepicheep abrisse a boca –Você precisa ver meus irmãos.
Reepicheep torceu o nariz.
-Não são exatamente o que eu
chamaria de “belas”, mas...
Susan riu.
De repente pássaros voaram e
algo pareceu atrair a atenção de Legolas na margem.
-O que foi? –Reepicheep
perguntou alerta.
-Problemas.
***
Eles pararam num banco de
areia pela noite. Havia uma fogueira. Gimli, Reepicheep, Merry e Pippin estavam
trocando histórias, enquanto Legolas ouvia de longe, sem se intrometer.
Aragorn e Boromir estavam
mais a frente, conversando baixo sobre algo.
Então ela ouviu a conversa
entre Frodo e Sam.
-Coma um pouco, senhor
Frodo.
-Não, Sam.
-Você não comeu nada o dia
inteiro. Você também não está dormindo. Não pense que eu não percebi, senhor
Frodo.
-Eu estou bem.
-Não, você não está! Eu
estou aqui para ajudar você. Eu prometi a Gandalf que iria.
-Você não pode me ajudar,
Sam... Não dessa vez. Vá dormir.
Ela viu Sam afastar-se com
os ombros caídos.
Levantou-se, aproximou-se de
Frodo e, sem dizer uma palavra sequer, sentou-se ao lado dele. Antes que o hobbit
pudesse dizer algo ela pegou a ponta de sua capa e jogou por cima do ombro dele
junto com seu braço e trouxe o pequeno para seu lado, bem perto.
-Susan? –Frodo chamou
incerto.
-Esse é um remédio antigo
para praticamente todos os males do mundo. –ela falou séria –Abraço de irmã mais
velha. Fique quieto e aceite graciosamente.
-Você não é minha irmã. –ele
argumentou.
-Irrelevante.
-E eu acho que sou mais
velho que você. –ele falou, mas ela podia ver um pequeno sorriso.
-Você nunca ouviu que garotas
amadurecem mais cedo? –ela insistiu apertando o abraço.
Frodo riu bem de leve e
finalmente apoiou a cabeça no colo dela.
-O que a Senhora te deu?
–ele quis saber.
-Nada. –Susan falou –Eu ja
tenho todos os presentes e graças que eu preciso, Frodo. Não havia nada que ela
pudesse me oferecer.
Ele ficou em silêncio,
então...
-Ele não te tenta? –ele
perguntou de forma bem quieta –O Anel?
-Nem por um segundo. –ela falou
sincera –Eu posso sentir a malícia dele como um piche, pegajoso e sujo. Nada
tão tentador, tão vil, vale a pena.
A mão de Frodo fechou-se em
volta do Anel.
-Você tem medo!
Frodo e Susan viraram-se
para olhar para Boromir ao ouvirem essa frase.
Ele e Aragorn estavam
discutindo.
-Eu tenho medo. –Frodo
admitiu.
-Eu também tenho. –ela falou
docemente –Mas coragem não é ausência de medo, é o triunfo sobre ele. E nós
vamos triunfar, Frodo. Todos juntos.
***
O que quer que tenha sido o
problema entre Aragorn e Boromir na noite anterior, ainda não tinha sido
resolvido. Os dois mal se olhavam e o silêncio tinha sido pesado até todos
entrarem nos respectivos barcos.
A visão dos Argonath, os
reis do passado, fora um momento de maravilha em uma jornada que começava a
pesar no coração de Susan. Sua fé era inabalável. Era o que gostava de acreditar.
Porém...
-Cruzaremos o lago ao
anoitecer. –Aragorn estava explicando quando desceram para a margem -Esconderemos
os barcos e continuaremos a pé. Chegaremos a Mordor pelo norte.
-É mesmo? –Gimli falou,
ironia pesando em sua voz -Não passa de uma simples questão de não nos
perdermos em Emyn Muil, um labirinto intransponível de rochas afiadas como
lâminas. E, depois disso, fica ainda melhor. –continuou, fazendo Pippin, que
estava ao seu lado, ainda mais desconfortável -Um charco podre e malcheiroso, estendendo-se
até o horizonte.
-Esse é o nosso caminho. –Aragorn
falou de forma paciente -Eu sugiro que descanse e recupere suas forças, Mestre
Anão.
-Recuperar as minhas... ?!
–Gimli gaguejou incomodado.
Susan viu Legolas e Aragorn
trocarem palavras rápidas em cochichos mais a frente.
–Onde está Frodo? –Merry
perguntou de repente, atraindo a atenção de todos.
Susan olhou em volta desesperadamente.
Com um nó na garganta percebeu que Boromir também não estava ali.
***
Aragorn devia estar pensando
a mesma coisa que Susan, porque partiu correndo pela floresta. Todos estavam
buscando por Frodo, mas a Rainha procurava por Boromir.
O Capitão de Gondor não era
uma má pessoa. Ele estava confuso, assustado e desesperado para salvar seu povo.
Tantas inseguranças não davam uma boa combinação.
Susan sabia, no fundo de sua
alma, que se Boromir machucasse Frodo, nunca se perdoaria. Tinha a impressão
que aquele Anel maldito sabia a mesma coisa.
Reepicheep tinha
desaparecido, ajudando na busca pelo hobbit, mas ela sabia que o rato nunca
estava muito longe dela.
Ouviu os gritos. Os orcs os
tinham encontrado.
Começou a correr em direção
ao barulho, porém, surpreendentemente, a primeira pessoa com quem deu de cara,
foi Frodo.
Os dois congelaram, os olhos
de um grudados nos do outro. Frodo tinha folhas no cabelo, devia ter caído
algumas vezes.
-Boromir... –ele começou,
então parou, olhos virados para o chão.
O som de orcs ficou mais
próximo.
Susan esperava que não fosse
a última vez que via Frodo, porque podia ver nos olhos dele: o hobbit estava
partindo, deixando-os.
-Corra. –ela falou séria.
Frodo olhou assustado para
ela, mas assentiu e passou pela Rainha.
Parou alguns metros a
frente, para lançar um último olhar para ela. Susan estava parada, arco em
mãos, olhando para ele.
Então virou-se para frente e
disparou a primeira flecha.
Susan tinha que segura-los o
máximo possível, mesmo que fossem muitos para ela. Mesmo estando sozinha.
-Majestade! –Reepicheep veio
correndo por entre as folhas.
Ela suspirou aliviada.
-Sabia que podia contar com
você para me proteger, Reep. –ela falou com um sorriso.
-Sempre, minha Rainha, até
meu último suspiro. –ele falou sério.
Os próximos minutos passaram
em borrões. Foram longos, intensos e cruéis. Susan mal podia acreditar que
saíra deles viva.
Então ouviu o som da corneta
de Gondor e seu coração gelou-se.
***
Susan nunca correra tanto em
sua vida. Seus pulmões queimavam e a única coisa na qual conseguia pensar era
que ainda estava longe demais.
Ia chegar tarde demais para
ajudar Boromir, para ajudar os demais.
Onde estavam todos? Onde
estava Aragorn? Legolas? Gimli? Os demais hobbits?
Reepicheep era mais rápido
que ela, tinha sumido a frente.
Quando chegou a cena Aragorn
estava ajoelhado sobre o corpo de Boromir, que estava coberto por flechas.
-Boromir! –ela gritou.
Legolas, que chegara logo em
seguida, tentou segura-la, mas ela escapou. Suas pernas desabaram ao lado do
corpo do capitão.
-Minha Rainha. –ele sorriu
em dor –Que honra poder ve-la uma última vez.
-Não! –ela gritou –Você quer
viver, Boromir? –exigiu.
-É impossível...
-Não me diga isso! –ela
gritou –Você quer viver?
Ele fez que sim com a
cabeça.
-Então lute comigo. –ela
falou de forma firme.
Tirou o punhal preso a
cintura de Aragorn e colocou o cabo deste entre os lábios de Boromir.
-Puxe as flechas. –ordenou
ao guardião.
-Susan...
-Aragorn, faça o que eu
digo! –ela ordenou, tirando a corrente que estava em volta do seu pescoço.
O cabo na boca de Boromir
abafou os gritos de dor dele. Era bom. Se ele sentia dor, ainda estava vivo e
lutando.
Quando Aragorn tirou a
última flecha a Rainha abriu o pingente do seu colar.
-Boromir, Capitão da Torre
Branca, que a graça de Aslan te cure, te proteja e, de agora em diante, te
guie. –ela murmurou abrindo a boca dele.
Aragorn pôde ver, apenas
porque estava logo ao lado dela, a gota vermelha que caiu dali na boca do
Capitão.
Os olhos de Boromir
fecharam-se como se este tivesse caído no sono e tudo ficou em silêncio.
Até ele abri-los de novo.
-Como isso é possível?
–Aragorn falou em choque.
-Boromir! –Susan lançou os
braços em volta do pescoço dele.
-Minha Rainha... –Boromir
parecia em transe –Como... O que você...
-Esse era um presente da
minha irmã, para um momento de grande necessidade. –ela sorriu, os olhos
encharcados com lágrimas –Eu acredito que esse momento acabou de passar.
Boromir estava olhando para
a garota como se a luz tivesse surgido bem diante de seus olhos.
-Minha Rainha, de hoje em
diante, você tem minha lealdade e minha vida até o meu último suspiro. –ele
jurou sentando-se.
-Só fique vivo, Boromir e eu
estarei feliz. –ela falou.
Os demais finalmente
aproximaram-se.
-Ah o elixir de Rainha Lucy!
–Reepicheep comentou maravilhado –Não é a primeira vez que somos agraciados com
sua força.
-Temos que ir. –Legolas
falou apressado –Frodo e Sam ainda estão desaparecidos.
Aragorn ajudou Boromir a
levantar-se e todos correram para onde tinham deixado os barcos. Bem a tempo de
verem Sam de longe, do outro lado do rio.
–Rápido! –o elfo falou
empurrando um dos outros barcos para a água -Frodo e Sam chegaram á margem
leste. –então ele percebeu que Aragorn não estava se movendo -Você não pretende
segui-los. –não era uma pergunta.
-O destino de Frodo não está
mais em nossas mãos. –Aragorn falou sério.
-Então foi tudo em vão. –Gimli
falou com pesar -A Sociedade fracassou.
-Não se continuarmos unidos.
–Aragorn declarou -Não abandonaremos Merry e Pippin ao tormento e á morte. Não
enquanto nos restarem forças. -prometeu -Deixem para trás tudo o que for
dispensável. Viajaremos com pouco peso.
-Vamos caçar orcs!
–Reepicheep declarou animado.
Todos trocaram olhares.
-Aye! –Gimli concordou.
Não tinha terminado. Não
ali, não ainda. Não enquanto todos estivessem prontos para lutar. Não enquanto
todos ainda acreditassem.
Susan não tinha nada, além
de fé em seu coração.
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N/A: Não resisti, tive que salvar o Boromir. Eu fiquei muito apaixonada pela amizade dele com a Susan.
Esse é o fim da Sociedade do Anel. Aguardem para mais aventuras na próxima parte e mais posts estão por vir em breve!
COMENTEM!
B-jão
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