Capítulo 6
Bom, agora eu me sentia
confiante o bastante para afirmar que a noite anterior tinha sido um desastre
total.
E olha que eu nem estou
falando do fato daquele maldito do Darcy ter secado a minha bunda e ter
desenvolvido o hábito de ficar tentando ouvir minhas conversas.
Eu falo de Lydia ter ficado
bêbada e subido em cima do balcão, logo depois de ter dado em cima de Bingley
na frente de Jane. Sinceramente, como a Jane não se incomodava com essas coisas
ia além da minha compreensão. Eu também falo da Kitty ter quase saído no tapa
com uma garota, porque estava dando em cima do namorado da mesma. Eu falo da
Mary reclamando de absolutamente tudo na balada e dizendo para Charlie onde ele
deveria nos levar da próxima vez.
Foi trágico.
Charlie fora anormalmente
receptivo da coisa toda e pareceu se divertir horrores. Ainda bem que tinha
alguém de boa la. A cara de nojo de Darcy e as irmãs de Bingley mostravam que,
chegando em casa, ele ia ouvir muita reclamação.
Mas tudo bem. Charlie e Jane
eram perfeitos um para o outro e eu continuava botando muita fé nos dois como
casal. Eu sabia com certeza absoluta que tudo ia dar certo. Daí veio aquela
meio que fatídica sexta-feira.
Charlie tinha chamado Jane
para jantar no apartamento dele. Com ele e as irmãs. Sério, qual o problema
desse homem?
Jane estava vasculhando a
casa em busca de um par de sapatos seus que adorava, até ela lembrar que Lydia
também os adorava.
-Eles estavam largados embaixo
da cama dela. –Jane bufou levemente frustrada –Eu não ligo que ela pegue
emprestado, mas o que custa devolver?
-Cuidado, Jane. Parece que
você está reclamando. –eu provoquei de leve.
Jane mostrou a língua para
mim.
-Me deseje boa sorte. –ela
pediu.
-Por que? Você está indo em
uma missão?
Jane espremeu os lábios e
não respondeu.
-Ta é? –eu insisti –Talvez
você esteja planejando seduzir Charlie.
Os olhos dela se arregalaram
e eu aposto que os meus também.
-Você está? –eu perguntei
chocada.
-Não exatamente! –Jane
defendeu-se sem graça –Mas mais ou menos.
-Faço votos. Divirta-se e me
traga sobrinhos.
Jane arremessou uma almofada
em mim.
Mas tinha um probleminha:
havia uma razão para os sapatos estarem em baixo da cama.
-O que tem de errado com
eles? –eu quis saber, quando Lydia finalmente apareceu mais tarde.
-Eu não lembro. –ela falou
dando de ombros.
Eu queria matar a piriguete.
Mas eu descobri logo qual o
problema com o sapato, quando Charlie ligou para avisar que Jane ia ficar
hospedada na casa dele uma semana, porque
ela torcera o tornozelo!
-O salto do sapato dela estava solto. –ele me falou por telefone –Ela estava descendo a escada quando ele
cedeu totalmente e ela caiu. Felizmente não quebrou nada, mas o médico pediu
para ela deixar a perna em repouso absoluto por uma semana. A casa de vocês tem
muita escada, então eu pedi para Jane ficar aqui, assim ela vai descansar mais
a perna.
Jesus amado, esse homem
tinha que ser tão cavalheiro assim? Onde estão os outros da espécie dele?
-Ah verdade! O salto estava
quebrado. –Lydia falou –Sabia que tinha algo errado.
Eu queria sufoca-la.
Eu perguntei a Charlie se
podia passar la para ver Jane no dia seguinte e ele me convidou para almoçar
com ele, Darcy e Caroline.
Meu Deus, homem! Desapega de
sua família e desse animal do seu amigo!
E no fim não tinha como
falar não, porque eu acabara de dizer que estava livre e queria ve-la. Agradeci
graciosamente.
No dia seguinte, vou eu para
o apartamento de Bingley, que fica em Chelsea. Esse homem é rico. O prédio que
ele mora é ridículo de lindo, toda a entrada em mármore branco, com um cara que
fica parado lá só para abrir a porta!
Aliás, dito cara me olhou de
cima a baixo quando eu entrei. Acho que ele estava considerando seriamente me
arremessar para fora quando eu disse que estava la para ver Charlie Bingley.
Ele ainda não pareceu feliz em me deixar entrar
no elevador social. Babaca.
Mas assim, eu nem me
esforcei. Sinceramente, ficar pensando no que esse povo quer me ver usando é
cansativo, então eu me vesti como sempre me vestia para sair de sábado durante
o dia: jeans, tênis e camiseta. Se eles têm um problema com isso... Bom, o
problema é deles.
Charlie, obviamente, morava
na cobertura. Sinceramente, nada mais me choca a essa altura. Cada andar
naquela prédio tinha um apartamento inteiro. Eu nem queria imaginar o tamanho
(e o valor) daquilo.
Charlie estava me esperando
na porta.
-Oi, Lizzie. –ele sorriu.
Ah, se ele não fosse tão
fofo eu o odiaria por ser tão rico.
-Oi, Charlie. Como está a
Jane?
-Insistindo que está me
dando trabalho e precisa ir embora. –ele falou com um sorriso cheio de carinho
–Você tem que convence-la a ficar até estar melhor.
-Claro... –tentei conter um
sorriso, mas era meio difícil –Posso ve-la?
-Claro. Olha eu aqui te
bloqueando na porta. –ele soltou uma risada sem graça –Vem, eu te levo ao
quarto.
Se aquilo era um quarto de
visitas eu ia começar a chorar toda vez que entrasse no meu quarto.
Sinceramente! Tinha até um closet na adorável suíte onde Jane estava. A cama
nem se fala...
-Ei, Jane! Eu trouxe uma
mala para você! –declarei assim que entrei no quarto. Charlie disse alguma
coisa sobre nos dar privacidade e nem entrou.
-Mala? Não, Lizzie! Eu tenho
que ir embora. –ela falou rapidamente –Eu não acredito que estou aqui...
-Ah por favor. –eu larguei a
mala no chão e me sentei na cama ao lado dela –Charlie está todo bobo sobre ter
você aqui. Ele até me falou em como era bom te ter aqui, daí tentou consertar
dizendo que claro que não era bom que você estava machucada, dai se enrolou...
Enfim. Uma fofura. Case com aquilo.
Jane mordiscou seu lábio sem
graça.
-Como você está? –eu
perguntei mais séria.
-Entediada. –ela admitiu
–Charlie é um amor, ele me mantém companhia, assiste filmes comigo, mas eu me
sinto uma inútil.
-Eu tenho a solução para
isso. –eu declarei, puxando o laptop dela da bolsa que eu trouxera –A maioria
das pessoas ficaria feliz em ter uma folga, mas eu sei que você vai querer
trabalhar.
-Lizzie, você é uma heroína!
–ela declarou animada –Eu estava pensando no que ia fazer a semana inteira
quando ele estivesse trabalhando.
-Eu sou incrível assim.
–falei de forma graciosa, fazendo Jane rir.
-Você vai ficar para o
almoço? -ela quis saber.
-Vou. –eu bufei –Você tem
que fazer o Charlie parar com essa mania de ter que envolver aquele mala do
Darcy e as irmãs dele em tudo. Isso vai ser um problema quando vocês casarem.
Jane me lançou um olhar de
desaprovação.
-Lizzie, Darcy não é tão
ruim quanto você pensa. Muito menos Caroline.
-Sua inocência é adorável,
Jane, embora preocupante.
Eu a ajudei a se levantar e
pegar as muletas. Como Jane conseguia ser graciosa de muletas eu nunca ia
enteder.
Nós chegamos a sala de
jantar –porque obviamente Charlie tinha uma dessas –onde nossos outros queridos
amigos ja estavam. Bingley levantou-se imediatamente para ajudar Jane. Sério,
eu quero um para mim.
Darcy também se levantou.
Idiota.
-Lizzie. –ele falou acenando
para mim com a cabeça.
-Darcy.
-Eliza querida! –Caroline
levantou-se e veio até mim, dando beijinhos no ar ao lado das minhas bochechas.
-Caroline. –eu falei
tentando ser levemente educada. Só levemente.
-Pobre Jane. –ela falou com
aquele jeito falso de sempre –Nos deu um susto. Um salto quebrado é sempre um
problema. Ainda bem que Charlie estava lá para resgata-la.
Havia algo no tom dela, no
jeito de falar, como se estivesse sugerindo que Jane fizera tudo de propósito.
Um desses dias eu vou arrancar o cabelo dessa maldita.
Todos nós sentamos, com
Charlie prestando atenção extra a Jane, sentando-se ao lado dela. Por algum
motivo estranho Darcy sentou-se na ponta da mesa e eu acabei tendo que sentar
do lado de Caroline.
-Seu apartamento é lindo,
Charlie. –eu falei, tentando começar uma conversa neutra.
-Obrigado, Lizzie. –ele
sorriu –Depois do jantar eu posso te oferecer um tour.
-Eu adoraria.
-Sim, o apartamento de Charls
é lindo. –Caroline falou –Embora nada realmente se compare a casa em Mayfair de
Darcy. Ah, o bom gosto.
Acho que eu vomitei um pouco
aqui.
-Eu admito que eu prefiro o
chalé de Derbyshire. –Charlie comentou –Eu tenho boas memórias dos verões de
la.
Sinceramente, quanto rico
era esse infeliz? Casa em Mayfair? Uma dessas custava milhões hoje em dia. E
claro que ele tinha um chalé. Aposto que tem um aras perdido ai em algum lugar,
possivelmente um iate ou dois.
-Claro, vocês estudaram
juntos. –Jane sorriu, obviamente ja tendo ouvido histórias do tal chalé em
Derbyshire –Eu imagino que vocês passaram muitos verões juntos.
-Nós passamos muitos deles
no chalé da família do Darcy. –Charlie falou animado –Nadando, correndo, sendo
meninos.
-Como nós, só que sem o
chalé. –Jane piscou para mim.
-Bom, eu acho que chamar a
casa dos pais da Lydia e da Kitty de chalé seria meio que exagero, mesmo sendo
no campo e bucólico. –eu comentei –Mas estávamos fazendo mais ou menos as
mesmas coisas: nadando, correndo... –esperei Caroline e Darcy levarem os copos
a boca e então... –Praticando beijos umas nas outras e fazendo guerras de
travesseiro sem roupa.
A reação dos dois foi bem
melhor do que esperava: Darcy engasgou e Caroline cuspiu o vinho que colocara
na boca. Charlie parecia que ia morrer de tanto rir.
-Lizzie! –Jane falou
chocada.
-Desculpa, eu não sabia que
era segredo. –pisquei para ela.
Charlie quase caiu da
cadeira de tanto rir.
XxX
Nós terminamos o almoço sem
outros grandes conflitos. E, embora eu tenha quase matado Darcy engasgado, ele
parecia estar contendo um sorriso ao fim da coisa toda. Ele devia ter sorrido,
porque segurar fazia parecer que ele tinha chupado um limão. E, sou segura o
bastante no meu desgosto por esse ser, que posso falar que bateu uma
curiosidade. Eu sempre vi Darcy com aquela cara de sério dele, como se ele
fosse a melhor coisa do mundo, eu me pergunto se ele sabe sorrir.
Pelo jeito vou continuar me
perguntando.
-Darcy, da próxima vez que
você falar com sua irmã você tem que mandar a ela um beijo em meu nome.
–Caroline estava falando.
Darcy, que desde que saímos
da mesa parecia ter cansado de se misturar com os mortais, mal levantou os
olhos da tela do seu celular para responder.
-Georgiana tem celular e
você tem o número dela. –ele falou.
Ah, a vontade de rir...
-Claro, nós somos grandes
amigas. –Caroline persistiu, sem perder um segundo –Georgie é uma menina tão
adorável: tanta classe, beleza e estilo... Algo muito difícil de se ver numa
menina tão jovem.
Havia essa intensa vontade
dentro de mim de bocejar.
-Eu ouço falar muito da sua
irmã, Darcy. –Jane sorriu para o babaca –Quando nós vamos ter o prazer de
conhece-la?
Darcy finalmente dignou-se a
levantar a cabeça e olhar para Jane.
-Georgiana é muito ocupada
com a faculdade, mas oportunidades não vão faltar. –ele garantiu –Ela me disse
esses dias que está curiosa para poder te conhecer, Jane.
-Bom, eu prometi uma festa
para Lydia e Kitty. –Charlie falou de repente –Quem sabe ela pode vir nessa.
-Uma festa? –eu perguntei
chocada –Charlie, não deixe as duas serem folgadas!
-Mas eu achei uma ótima
ideia! –ele argumentou –Algo mais pessoal do que uma balada, com bons amigos e
boa música. É uma ideia fantástica.
Eu suspirei.
-Eu quero sua sandália prata.
–falei na hora virando para Jane.
Ela começou a rir.
-Eu acho que o Charlie não
quis dizer que a festa vai ser agora. –ela provocou.
-Eu tenho certeza que não,
mas antes que qualquer outra pessoa peça, eu quero a sandália.
-Você sabe o que vai usar
com com ele? –ela arqueou a sobrancelha.
-Claro que sim. Algo que eu
provavelmente não devia.
Jane começou a rir, Caroline
cansou de ficar em silêncio e ser ignorada e começou a falar de roupas. Mas eu
senti o olhar de Darcy sobre mim, então virei-me para ve-lo, pra variar,
olhando para mim como se eu fosse um mistério enorme. Dessa vez, eu arqueei a
sobrancelha para ele, como que perguntando qual era o problema.
E pela primeira vez desde
que o conheci, vi Darcy abrir um pequeno sorriso, daquele de alguém que sabe
uma coisa que você não sabe, só um cantinho da boca levantado.
O solavanco no meu estômago?
Indigestão. Como certeza absoluta.
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N/A: Ah Lizzie Bennet.... Tu ta ferrada!
A capa da vez é a Kitty.
Espero que tenham gostado!
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B-jão