Capítulo 1
1 ano depois...
-Sabe, muito obrigada mesmo.
Por ouvir. Tem algo sobre tirar isso do meu peito, jogar lá fora na atmosfera,
ao invés de ficar segurando aqui dentro. Quer dizer, isso é o que faz as
pessoas adoecerem, sabe? Uau, eu não tinha ideia de que você era um ouvinte tão
bom. Poder dividir meus pensamentos íntimos e experiências com alguém reduz o
peso, a pressão de tudo pela metade. É como uma cobra engolindo o próprio rabo.
O círculo se completa. E o fato de você ter me ajudado a processar... (1)
Toni virou-se para Bruce bem
a tempo de ver o cientista-médico derrubar os óculos. Ele estivera dormindo o
tempo todo.
-Então... – ele começou sem
graça.
-Você estava me ouvindo? – Toni
quis saber.
-Sim, eu estava. – Bruce
afirmou rapidamente - Nós estávamos em... Hum...
-Você estava realmente
tirando uma soneca?
-Eu estava... Eu... Eu... – ele
limpou a garganta - Eu cochilei.
-Onde eu te perdi? – ela
perguntou.
Bruce hesitou.
-Elevador na Suíça.
-Então você não ouviu nada.
– ela falou inconformada.
-Desculpe. Eu não sou esse
tipo de médico. – ele falou meio ansioso - Não sou um terapeuta. Não está na
minha formação. Eu não tenho o...
-O quê? O tempo?
-Temperamento.
Toni estreitou os olhos.
-Sabe o quê? Agora que eu
penso nisso... – Toni falou dramática jogando a cabeça para trás no sofá - Deus,
minha primeira mágoa. 1993, certo? Tinha 14 anos e ainda tinha uma babá. Isso
era estranho. (2)
Bruce estava rindo e
resmungando, quando alguém bateu a porta. Cordelia, que Toni começara a chamar de
Cora depois que ficara óbvio que não ia conseguir se livrar dela, entrou.
-Senhorita Stark, o Capitão
Rogers está no telefone. De novo. – havia um tom bem claro de censura na voz
dela – Posso passar a ligação?
Se Toni fosse uma pessoa
mais fraca teria sucumbido à pressão dos olhares de Bruce e de Cora, como não
era deu a mesma resposta que vinha dando desde o Natal.
-Diga pra ele que eu estou
ocupada. Eu tô no meio da minha seção de terapia!
Cora lançou mais um olhar
desaprovador para Toni, antes de dar um pequeno sorriso para Bruce e sair.
Toni já sabia exatamente o
que o outro cientista ia falar, então resolveu cortá-lo primeiro.
-Minha nova assistente está
te querendo, Bruce. – declarou - Normalmente isso me incomodaria, porque...
Bom, ela é minha, mas não existe ninguém nesse mundo, exceto talvez o Capitão
Picolé, que precise dar uma tanto quanto você. Então, você tem a minha bênção.
– falou de forma magnânima.
Bruce pareceu completamente
chocado por um minuto.
-Toni... Isso é muito... – ele
parecia totalmente perdido. O que seria aceitável dizer numa situação dessas? -
Hum... Generoso da sua parte, eu acho, mas... Eu não preciso de nada.
-Precisa sim! - Toni declarou enfática, levantando do sofá
onde estivera deitada - E eu andei olhando seus arquivos e sei que você tem
medo de que seu coração acelere demais e você fique todo verde e
desconfortavelmente grande...
-TONI! – Bruce gritou
escandalizado.
-...mas eu não acho que vai
ser um problema. Se você quiser a gente pode fazer um teste do sofá já! Olha
que conveniente. – ela falou com falsa surpresa - Tem um sofá aqui!
Ela caminhou até Bruce,
parando entre as pernas dele e debruçou-se, como se fosse beijá-lo.
-Toni, pare com isso agora.
– ele falou tentando empurrá-la - Você está sendo ridícula.
Toni vivia assediando
basicamente todas as pessoas que viviam e volta dela. O coitado do Bruce era o
que mais tinha que aguentar, porque era com quem ela mais passava tempo. Além
de Cora, mas Cora recusava-se a dar trela.
-Vem aqui, Bruce. – Toni insistiu
- Um beijinho não vai te matar.
Entretanto Toni estava
usando uma daquelas saias lápis que eram mais justas que Deus, então quando ela
tentou dar mais um passo para frente acabou perdendo o equilíbrio e caindo em
cima de Bruce. Aliás, os joelhos dela muito por pouco não acabaram com todas as
chances de Bruce ter filhos.
-Maldita saia. –ela
resmungou.
Bruce, que estava com as
mãos na cintura dela tentando segurá-la, começou a rir.
-Não tem graça!
-Eu estou interrompendo?
Toni e Bruce, que não tinham
ouvido a porta abrir, quase pularam e a bilionária quase caiu no chão. Bruce
segurou-a e ajudou a ficar firme nos pés, antes de se levantar também.
Cora estava parada na porta,
com cara de quem não estava nada impressionada (pra variar) e Capitão América,
que fora quem falara, estava ao lado dela.
-Como é que você tem o dom
de chegar nos momentos mais vergonhosos e inconvenientes? –Toni jogou para
Cora, porque era verdade.
-Eu posso voltar depois se
estiver atrapalhando. – Cora retrucou arqueando a sobrancelha.
-Não. Não foi isso que... – ela
parou e respirou fundo - Tanto faz. No que eu posso ajudar, Picolé? – perguntou
para Steve, mas virou-se de novo para Cora antes que ele pudesse responder - E
você não disse que ele estava no telefone? – acusou.
-Eu liguei do lobby, mas
como você me ignorou, de novo, eu decidi subir. A senhorita Meyer não teve nada
a ver com isso. – Steve defendeu Cora rapidamente.
Sobre a história do “de
novo”... Se Toni tivesse a capacidade de sentir vergonha provavelmente
sentiria, mas como não tinha esta capacidade... Enfim, deu pra entender.
-Hum... – foi a única coisa
que ela disse.
Steve respirou fundo, como
se pedisse ajuda aos céus. Então olhou para Toni com aquela séria que ele fazia
quando ia dar uma de bom moço.
-Você está bem, Toni? – ele
perguntou suavemente, realmente preocupado - Eu ouvi sobre a cirurgia...
A mão de Toni foi parar
automaticamente no lugar onde o reator costumava ficar. Agora só tinha pele
lisa ali e a bilionária voltara a caprichar nos decotes.
-Ah sim. Tudo bem. – ela
falou como se não fosse grande coisa – O médico que me operou era um estrela e
o cirurgião plástico era um deus. Nem dá pra ver que tinha alguma coisa aqui. –
Steve abriu a boca para falar algo e ela resolveu impedi-lo - Aliás, tudo uma
maravilha como sempre. Minha vida é um show.
Bruce lançou um olhar a Toni
que deixava claro que ele a achava uma idiota. O doutor aproximou-se de Steve e
ofereceu a mão para ele.
-Como você está, Steve? –ele
perguntou educadamente.
Steve apertou a mão de Bruce
e sorriu para ele.
-Bem, Bruce. E você?
-Tudo certo. O que te traz
aqui?
-Eu resolvi aceitar a oferta
da Toni. Vir morar na Torre. – ele falou sem graça, lançando um olhar para
Toni, como se esperasse que ela fosse dizer que ele não podia ficar ali.
Vontade não faltava, de
verdade.
-Claro, claro. – Toni falou
como se não fosse grande coisa. E era. – Porque você não espera lá fora? Eu
preciso dar uma palavrinha com o Bruce aqui e já te mostro a casa.
Steve olhou de Toni para
Bruce e para Toni de novo, mas apenas fez que sim com a cabeça e saiu.
Bruce e Toni ficaram em
silêncio por um minuto, até que...
-Então... Eu imagino que
você adoraria resolver o problema de “falta de uma” do Capitão. –Bruce falou.
Toni estreitou os olhos. A companhia
dela devia ser uma péssima influência, porque quanto mais tempo passavam
juntos, mas soltinho Bruce ficava. Ele tinha um senso de humor ácido e muitas
vezes negro, mas era sempre diversão garantida. Não no momento.
-Cala a boca, Bruce. – Toni
resmungou.
Bruce parecia estar
analisando Toni com grande atenção, mais do que ela achava que merecia no
momento. De repente o cientista ficou mais reto e um olhar de interesse
apareceu em seu rosto.
Ah droga... Quando Bruce
ficava assim queria dizer que ele tinha um plano e Toni ia se ferrar.
-Vamos fazer um acordo. – ele
propôs super sério - Eu a chamo para sair se você dormir comigo.
O que quer que Toni
estivesse esperando ouvir definitivamente não era isso. A cara dela deve ter deixado isso bem claro.
-O quê?
-Você me ouviu. – ele
repetiu calmamente - Eu chamo Cora pra sair se você transar comigo primeiro.
Toni abriu a boca. E fechou.
E abriu de novo. E fechou mais uma vez. Então cruzou os braços diante do peito.
-Você não acha que eu faria
isso? – ela perguntou com cuidado.
-Por que você acha que estou
pedindo? – Bruce falou super neutro. Parecia que os dois estavam falando da
decoração!
-Sabe... Eu até faria,
mas... – ela começou empinando o queixo e ignorando o quão difícil estava
completar uma frase - Eu não acho que isso seja legal. A Cora merece mais que
isso.
-Sério? – Bruce perguntou de
um jeito que deixava óbvio que ele não acreditava.
-O quê? Você acha que não?
Por que eu transaria com você tranquilamente. Agora mesmo, aliás. Quer fazer na
minha mesa?
Bruce revirou os olhos.
-Toni, seja honesta.
-Eu tô falando sério! – ela
protestou -Eu deveria começar a tirar a roupa? – perguntou levando as mãos a
camisa.
-Toni... – Bruce começou com
um tom super sério, que o fazia parecer um professor - Será que não está na
hora de admitir que você não está interessada em mais ninguém porque você
quer...
-Sh! – Toni praticamente e
pulou em cima dele e cobriu sua boca com as mãos - Não diga! Não diga esse
nome. Ou eu juro por Deus...
Bruce revirou os olhos e
tirou as mãos dela de sua boca.
-Chame-o pra sair, Toni. Não
vai te matar. – repreendeu-a.
-É, mas pra que arriscar? – a
bilionária falou se afastando - Além do mais, o bom capitão não me tocaria nem
que estivesse usando luvas...
Essa última parte foi mais
para si mesma, mas Bruce ouviu. Toni geralmente não era assim, tão pra baixo.
Ele abriu a boca para dizer algo, mas a mulher já estava saindo da sala.
-Vamos, Picolé, eu tenho
mais o que fazer da vida. – ela falou parando diante de Steve – Cora, vamos
junto. Eu e você precisamos ter uma conversinha.
-Na verdade, eu preciso de
ajuda da Cora um minuto. – Bruce falou.
Toni arqueou a sobrancelha.
-Tem que ser agora?
-Sim. – Bruce respondeu.
Toni estreitou os olhos e
desejou, não pela primeira vez, ter lasers neles. Cora olhou de um para o outro
e então deu um passo para o lado de Bruce.
-Eu subo assim que terminar
aqui. – ela falou calmamente.
-Acho bom. – Toni avisou – Jarvis!
O elevador.
A porta do elevador
privativo de Toni abriu e Steve seguiu-a rapidamente. Toni não gostou nada do
sorrisinho vitorioso que viu no rosto de Bruce antes das portas se fecharem.
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N/A: Ai está! Mais um capítulo!
Espero que vocês gostem. Seguem algumas anotações.
(1) Eu decidi começar de onde "Homem de Ferro 3" terminou (literalmente). Pulei direto para a cena pós créditos. Então já é tudo pós Killian, e um ano passou do ataque.
(2) Eu adicionei 10 anos da data que o Tony fala no filme. Eu queria que a Toni fosse mais nova do que 40.
COMENTEM!
B-jão
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