Darcy Lewis era uma pessoa… Única.
Essa era (provavelmente) a única forma educada de se colocar a coisa toda.
Ela insistia em usar roupas
que eram grandes demais para ela e uma quantidade alarmante de tricô (ou
crochê, ou o que quer que aquilo fosse). Sua maquiagem (batom vermelho e
delineador preto), por outro lado, estava sempre impecável. O iPod dela tinha
uma variedade ridícula de genêros: de Janis Joplin a Britney Spears, passando
por B.B. King e Tim McGraw, porém ela ficava pessoalmente ofendida se alguém
perguntasse de rap.
Ela conversava com os
próprios peitos e eles tinham nomes (Mary Jane e Lucille, não que ele fosse
admitir lembrar). Era responsável por alimentar todos os cientistas da Torre,
embora não tivesse a capacidade de ferver água para fazer macarrão sem queimar
a panela.
Não havia lógica nesse mundo
que explicasse Darcy Lewis. Jarvis nem sabia se valia a pena tentar.
Há anos Jarvis era
assistente pessoal de Tony Stark (sinceramente, ele não sabia o porquê na maior
parte do tempo) e vira muitas pessoas irem e virem. Tinha a impressão de que
nunca mais veria alguém como Darcy. Principalmente porque ela parecia cultivar
um certo prazer sádico em incomodá-lo.
Porém, acima de tudo, o que
mais incomodava Jarvis, o que o fazia querer estrangulá-la, era o vocabulário
de Darcy.
Não só o fato de ela falar
como um caminhoneiro (deus, ninguém educou aquela menina?) e também não só
porque ela não parecia muito apegada ao significado das palavras. Ela usava
gírias e expressões antigas, embora não no sentido real delas. Uma vez, ouvira
Darcy ameaçar dar um balacobaco em Clint e viu o arqueiro fugir em pânico.
Mas o mais ofensivo, o que
ainda ia fazê-lo ter um aneurisma, eram as palavras que ela inventava. Algumas
eram apenas mesclas (inacreditível, fodástico, maravilindo), outras eram coisas
que nem faziam sentido.
Tudo para Darcy podia virar
um verbo. Tudo.
Piriguetear. Chocolatar.
Janear.
A mais nova era chicletar.
Sério! Ela conjugava essas coisas? Eu chicleto, tu chicletas, nós chicletamos?
Mas sim, chicletar. Jarvis
não entendia o que ela dizia metade do tempo.
-Sério, Jane. Esse cara tá
me chicleteando. Já já eu vou estapear a cara dele.
Jane, que obviamente não era
apenas uma doutora em astrofísica, mas também em entender Darcy, parecia
assustada com a possibilidade.
-Você poderia falar com ele.
–a cientista ofereceu com cuidado.
-A hora de conversar já
passou. –Darcy falou decidida –Agora tá na hora de eu ir toda Mew-Mew pra cima
da cabeça dele!
Jarvis descobriu alguns dias
depois (completamente por acidente, porque ele não estava interessado em saber)
que a coisa toda tinha a ver com um novo peguete de Darcy que tinha ficado
grudento e ciumento demais.
Cada pessoa naquela Torre
tinha virado um adjetivo ou um verbo (em alguns casos, ambos, em outros,
substantivos): Tonyzando, Brucecismo, Stevear. Ele não sabia o que Jarvisar
significava, mas levando em conta o relacionamento dos dois, não devia ser nada
positivo. Pelo menos ele sabia que não era o único que ficava confuso. Bucky
não entendia o que Darcy falava 70% do tempo.
Jarvis tinha certeza de que
estava levando a coisa toda de forma super profissional, considerando o quanto
ela o incomodava. Mas daí ele foi obrigado a ouvir a seguinte conversa:
-Bruce está impossível hoje!
–ela declarou para Jane na cozinha comunal dos laboratórios –Eu nunca vi Bruce
tonyzando desse jeito! Ele tem os dias meio janeados dele, mas hoje ele está
Tony força total! Ele não está falando coisa com coisa, só fica resmungando
aquelas palavras indizíveis de vocês e delirando fórmulas.
-O Bruce acabou de descobrir
algo muito relevante na pesquisa dele, Darcy. –Jane tentou acalmar a garota
–Ele não é normalmente assim e já volta ao normal.
-Eu sei que não. –Darcy
suspirou –Eu só estou preocupada com ele. Se ele continuar nesse ritmo, vai ter
um siricusurto antes do fim da semana.
E foi aí que Jarvis não
aguentou mais.
-Essa palavra não existe.
–ele declarou com uma calma sobrenatural.
Jane e Darcy estavam olhando
para ele como se ele tivesse acabado de dizer que o céu é rosa.
-Oi? –Darcy soltou, deixando
bem claro que era melhor ele ficar bem quieto.
Ele não ia ficar!
-“Siricusurto” não é uma
palavra. –ele falou com calma.
-Claro que é. –ela teimou.
-Não, não é.
-Se eu digo que é uma
palavra, é porque é.
-Não. Você não pode inventar
palavras e...
-Sim, eu invento palavras. –ela
declarou com finalidade -Posso te providenciar um dicionário se você quiser.
Isso o calou. Jarvis olhou
para Jane como se esperasse que ela negasse o fato. A doutora parecia
conformada.
-Você tem um o que? –ele
perguntou por fim.
-Um dicionário. –ela repetiu
mais alto, como se ele fosse surdo.
-Você tem um dicionário?
–Jarvis repetiu incrédulo.
-Um dicionário Darcylenho.
–Darcy afirmou com orgulho.
Jarvis podia praticamente
sentir as veias em seu cérebro rompendo-se.
-Darcylenho? –a voz dele
saiu engasgada.
-É que “Darcylano” e
“Darcylês” não têm um som legal.
Jarvis queria sacudi-la.
Nada daquilo “tinha um som legal”! Jesus amado, de onde essa menina tirava
essas coisas? Ele ia ter que exigir que o RH fizesse uma exame toxicologico
nela?
-Você não pode simplesmente...
-Posso! –ela declarou antes
que ele insistisse. Então tirou o celular do meio dos seus peitos (porque
obviamente era onde ela o guardava) e começou a mexer furiosamente no aparelho.
–Pronto. –falou satisfeita.
Jarvis sentiu seu celular
vibrar e pegou o aparelho (que ele, como ser humano normal, guardava no bolso
da calça), só para ver que recebera um novo e-mail de Darcy. O anexo do e-mail
chamava-se “Dicionário Darcylenho”.
Jarvis lançou um novo olhar
incrédulo para Jane.
-Ajuda muito. –ela falou
dando de ombros –Darcy fez esse para eu e o Erik quando ela começou a trabalhar
comigo.
Ok, isso era demais. Jarvis
virou e saiu andando daquele hospício. O pior foi ouvir a risada de Darcy
acompanhando-o.
xXx
Jarvis ignorou o
“dicionário” o quanto pôde. Na verdade ele não tinha intenção alguma de ler
aquilo. Nunca!
Porém, dois dias depois, lá
estava ele encarando seu celular, como se o pequeno aparelho estivesse
provocando, chamando-o de covarde. Mas Jarvis recusava-se a ceder.
No terceiro dia a noite ele
cedeu.
Porém, Jarvis gostaria de
deixar dito em sua defesa que a culpa não era dele! Era uma questão de
sobrevivência, porque ainda não entendia metade do que Darcy falava.
Só por isso.
Respirou fundo e sentou-se
em sua cama, pegando o celular e abrindo o arquivo.
Obviamente aquilo não estava
em ordem alfabética. Jarvis suspirou.
A primeira palavra era o
verbo “monstrar” que queria dizer arrasar, fazer algo incrível.
Ia ser uma longa noite.
xXx
Sim, foi uma longa noite.
Sabe quantas palavras existem no dicionário Darcylheno? 2341!
Sim! Ela teve a capacidade
de inventar e catalogar 2341 palavras! Como previamente informado, nada estava
em ordem alfabética, então ler a coisa toda não estava sendo exatamente fácil.
E já que Jarvis estava lendo aquilo (sabe Deus porquê) ele fazia questão de
entender o que estava lendo.
Então cada vez que ele lia
uma palavra nova e seu significado, Jarvis parava e refletia até ver se
conseguia achar um sentido. Não era exatamente fácil. As vezes uma coisa
parecia não ter nada a ver com a outra, outras vezes parecia mais complicado
lembrar a palavra que Darcy inventara do que usar a palavra certa.
Naquela primeira noite ele
leu duzentas palavras antes de desistir e ir dormir. Na segunda noite ele
descobriu que, além de palavras ela colocara siglas no tal dicionário. BFF (que
até ele sabia que significava Best Friends Forever e podia ou não ter a ver com
Tony dando um colar com as letras de presente para ele uma vez) e OMG eram
conhecidas e usadas na mídia. Jarvis deduziu que essas eram mais para Jane e
Erik, que não tinham cara de quem acompanhavam o mundo “pop”.
E não, isso não queria dizer
que ele acompanhava, mas trabalhava para Tony, que trocava de idade mental
diariamente, passando por uma menina de 12 anos, para um moleque de 15, até um
universitário babaca de 20. Jarvis tinha experiência com pessoas
desiquilibradas, aparentemente.
Na segunda noite leu mais
300 palavras. Elas começaram a rodar na cabeça dele sem fazer muito sentido,
como se ele esquecesse o que as que lera ontem significavam. Mas tudo bem,
porque só da para aguentar um tanto dessa loucura. Ele nem acreditava que
estava lendo isso tudo.
Na manhã seguinte a segunda
noite de leitura ele saiu para comprar café em uma cafeteria a dois quarteirões
da Torre, porque Tony queria o café desse lugar e só o café desse lugar e
Jarvis precisava respirar fundo. Tony estava impossível hoje. Provavelmente
tinha algo a ver com mais de 24 horas sem dormir e comendo só miojo. Não,
Jarvis não ia ficar correndo atrás de Tony com comida, como Darcy fazia para
Jane. O homem tinha quase 50 anos, podia muito bem cuidar de si mesmo.
Jarvis estava voltando para
a Torre com o café na mão quando viu um dos guardas da recepção ajudando Darcy
a carregar dois suportes de copos de papelão com um total de 8 cafés e várias
sacolinhas do que deveria ser comida para o elevador.
-Eu sinto muito, Darcy.
–Jeff, o segurança estava falando –Eu não posso te acompanhar até la em cima,
alguem tem que ficar aqui.
-Não se preocupe, Jeff.
–Darcy falou com um sorriso enorme –Eu dou um jeito. Põe essa sacola aqui. –ela
abriu a boca, como se esperasse que Jeff fosse realmente ter a coragem de
colocar a tal sacola na boca dela para ela segurar entre os dentes.
Jeff olha para as sacolas de
papel em suas mãos e para a boca aberta de Darcy, então finalmente seu olhar
vai parar em Jarvis.
-Senhor Jarvis! –ele falou
mais do que um pouco aliviado –O senhor está subindo para os laboratórios, não?
Darcy precisa de ajuda e eu não posso sair daqui.
Darcy abriu a boca, então
fechou-a imediatamente e olhou em volta, como se esperasse que alguem viesse
para socorre-la.
Jarvis suspirou e tirou um
dos suportes da mão Darcy sem dizer nada, equilibrando o café de Toni entre os
outros quatro copos que estavam ali e apanhou a maioria das sacolas que estavam
na mão de Jeff sem dizer mais nada.
Jeff e Darcy olharam
chocados para Jarvis, então olharam um para o outro, antes de Darcy dar de
ombros e pegar as duas sacolinhas restantes da mão de Jeff.
-Obrigada, Jeff. –ela falou
entrando no elevador.
O homem acenou para os dois.
-Laboratórios, Friday.
–Jarvis informou o elevador.
-Sim, senhor Jarvis. –a voz
feminina do computador que controlava a torre respondeu e o elevador começou a
subir.
-Valeu a ajuda. –Darcy falou
de repente, sem olhar para ele.
Ela não estava mais sorrindo
como estivera quando falava com Jeff. E ele não estava insinuando que Darcy
estava flertando com o homem, que não só era casado há mais de 30 anos e pai de
família, mas chamava todas as mulheres da Torre (Pepper inclusa) de “meninas”.
Ela simplesmente não sorria para ele e essa era a primeira vez que ele reparava
nisso. Darcy era divertida, engraçada e faladeira, mas nunca perto dele. Perto
de Jarvis ela se calava, principalmente se eles estivessem sozinhos, como
agora.
Por que ele nunca repara
nisso antes?
Jarvis tentou pensar em
todas as vezes que eles se bicaram, todas as vezes que ela o chamou de Robô ou
Homem-de-Gelo e percebeu o fator em comum: em todos esses casos ele começara a
conversa, ele começara as briguinhas que eles tinham.
E ele tinha a coragem de
chama-la de imatura?
A verdade é que, pensando
agora, Jarvis não tinha muita certeza de porque implicava com Darcy. Ele
trabalhava com Tony! Não havia ninguem nesse mundo mais imaturo do que o
bilionário, mas era com Darcy que ele implicava.
O que estava errado com ele?
-Senhorita Lewis, o que
seria um ponicórnio? –ele perguntou de repente.
Darcy olhou de um lado para
o outro, como se esperasse que mais alguma “senhorita Lewis” estivesse la e ele
não estivesse falando com ela. Então ela finalmente olhou para ele, com cara
desconfiada.
-É uma mistura de pônei e
unicórnio. –ela falou com cuidado.
-Isso está escrito no seu
dicionário. –ele indicou –Eu só queria saber de onde veio a necessidade de
criar a palavra.
-Oh... –Darcy mordiscou o
lábio inferior –A Jane nunca foi levada a sério antes de Nova York. A maioria
dos outros cientistas considerava a pesquisa dela conto-de-fadas e ser mulher
não ajudava em nada. Teve uma vez que ela enviou a pesquisa dela para um dos
jornais científicios e eles não só não quiseram publicar como mandaram de volta
uma carta extremamente grosseira, que entre outras coisas dizia para ela deixar
ciência de verdade para os meninos.
Jarvis arqueou a
sobrancelha. Pessoas idiotas existiam em todos os lugares e ele sabia muito bem
que agora a maioria dos jornais científicos tinham que implorar por uma
entrevista com Jane.
-Ela ficou muito chateada e
eu estava tentando anima-la. –Darcy continuou –E eu disse que daria qualquer
coisa para anima-la: algodão doce, um milhão de dólares, um pônei. E ela
escolheu o pônei. Então eu fui até o Wall Mart mais próximo –e acredite quando
eu digo, o Wall Mart mais próximo ficava longe –pra achar o pônei.
Jarvis não estava
acreditando. Ele imaginava que devia ser longe mesmo! O lugar onde Darcy
estivera com Jane fazendo pesquisa era um cisco no mapa do Novo México, ele não
tinham nem uma 7-eleven. E ela tinha ido só para animar Jane.
-Quando eu voltei com a
pelúcia do pônei, Jane disse que era um unicórnio, porque tinha um chifre. E eu
disse que era um pônei. Ela insistiu que era um unicórnio. E daí eu disse: “na
verdade é um...”
-Ponicórnio. –Jarvis
completou.
-Sim! –ela falou, o rosto
dela se animando com a história –Isso fez a Jane rir e nós temos Ponyo, o
Ponicórnio até hoje. Ele é nosso amigo nos momentos tristes.
Jarvis não podia acreditar.
Ele nunca ouvira coisa mais infantil, mais... Adorável em toda sua vida.
-Ei, isso é um sorriso
tentando se libertar? –ela perguntou olhando intensamente para o rosto dele.
A reação imediata dele foi
franzir o cenho. Darcy suspirou, bem a tempo do elevador parar e as portas se
abrirem.
-Estava bom demais para ser
verdade. –ela soltou num muxoxo, deixando o elevador.
Jarvis seguiu-a em silêncio.
xXx
Ele devia mudar seu jeito de
agir com Darcy. Jarvis chegou a essa conclusão depois daqueles momentos no
elevador.
Jarvis pensou (muito) e não
conseguiu entender porque implicava com ela. Levantou motivos, apenas para
descarta-los logo em seguida, nada era realmente válido, nada realmente fazia
sentido.
Viu-se completamente pasmo
com a própria reação. Tentou se lembrar de quando a conheceu. Não precisava
pensar muito, porque Jarvis tinha uma memória perfeita, nunca esquecia nada.
Lembrava muito bem o dia em
que Thor chegou a Torre trazendo consigo doutora Foster e sua assistente, Darcy
Lewis. Jane e Tony tinham começado a implicar um com o outro cinco minutos
depois de serem apresentados. Tony ficava criticando as máquinas de Jane e ela
ficava criticando a tendência dele de achar que “mais brilhante” significava
“mais eficiente”.
Jarvis estava olhando os
dois, desejando estar em qualquer lugar menos lá, quando ouviu alguem bufar ao
seu lado. Virou-se e deu de cara com Darcy.
-Crianças. –ela resmungou
revirando os olhos –Eu deixo a minha no meu quintal e você põe coleira no seu,
fechado? –ela falou, finalmente virando-se para ele.
Jarvis lembrava
perfeitamente de como a imagem de Darcy se montara em sua cabeça: como a
primeira coisa que ele vira foram os enormes óculos e o dentes da frente dela,
que eram grandinhos. Então ele viu a quantia alarmante de tricô que ela usava,
seguido pelo tom incrível de azul dos olhos dela (algo entre o azul e o cinza).
Finalmente viu os cabelos cor de chocolate e os lábios pintados de vermelho,
abertos em um sorriso gigante.
-Fechado. –ele falou
oferecendo a mão para ela.
Jarvis lembrou-se de
repente, com uma clareza dolorosa, que a primeira coisa que pensara de Darcy Lewis
era que o sorriso dela era lindo.
Droga.
xXx
Jarvis chegou na parte do
dicionário quando eles encontraram Thor, onde a palavra “Mew-Mew” aparecia com
o significado de “martelo de nome impronunciável”.
Porém a mente dele não
estava focada na tarefa.
Ele tinha gostado de Darcy a
primeira vista! Como podia ter deixado algo tão óbvio passar? E o que ele fazia
a respeito? Agia como um moleque de doze anos que fingia que não podia suportar
uma menina! Isso era humilhante.
O que ele ia fazer? Como
podia consertar essa situação?
Essa era umas raras horas em
que Jarvis arrependia-se de não ser tão social: não tinha com quem falar, para
quem pedir ajuda. Nunca falaria de um assunto como esse com Tony. Poderia falar
com Happy, mas ele estava na Califórnia com Pepper (com quem ele talvez tivesse
coragem de tocar nesse assunto). Ele não era exatamente próximo dos outros
Vingadores, não o bastante para conseguir falar com um deles sobre isso.
Teria que ligar para Happy.
Ele até tentou ligar imediatamente
–antes que se convencesse de que não era necessário –mas o outro homem não
atendeu. Tudo bem, Happy devia estar ocupado.
Era hora de parar e respirar
fundo. Jarvis era uma pessoa muito inteligente –na maior parte do tempo –e
podia resolver isso sozinho. Ele podia.
Jarvis jogou-se em seu sofá
e respirou fundo. Ele podia resolver isso sozinho. Sério. Muito sério.
Ele ia descobrir como em
alguns minutos, tinha certeza absoluta, ia sentar ali e pensar com calma.
Quinze minutos se passaram e
Jarvis continuava não sabendo de merda nenhuma. Isso era ridículo.
Jarvis pegou seu celular e
olhou para o dicionário de Darcy. Começou a passar as páginas sem prestar
atenção em nenhuma especificamente. Na verdade sabia exatamente o que estava
procurando, só não queria admitir.
Finalmente seus olhos
encontraram: Jarvis.
Ele fechou os olhos e
abaixou o celular. Podia fingir que não tinha achado e continuar sem saber o
que Darcy realmente achava dele. Tinha a impressão de que a definição do nome
dele seria “idiota”.
Mas não era covarde e não ia
conseguir viver com a dúvida. Então resolveu ler.
Jarvis. Adjetivo. Leal
e/ou extremamente eficiente.
Droga.
xXx
-Você está bem, Jarvis? –a voz de
Happy era meio preocupada –Você me ligou
quatro vezes em duas horas.
-Eu sou um idiota. –Jarvis
declarou, jogado no sofá, olhos fixos no teto.
-Certo... –Happy falou com
cuidado –Por que você é um idiota, mesmo?
-Darcy. –foi a resposta.
-Ah ta. Você é um idiota mesmo. –Happy informou.
Jarvis arqueou a sobrancelha
e finalmente olhou para a imagem do amigo.
-Desculpa?
-Ei, você falou primeiro. –Happy
defendeu-se –Eu só estou dizendo que
dessa vez você não está errado. Você é um idiota sim. Você vive implicando com
aquela menina, sem motivo algum.
-Eu sei. –Jarvis admitiu
–Mas eu finalmente percebi que é porque...
-Você é afim dela? –Happy sugeriu.
-Como você sabe disso? –ele
exigiu.
-Bom, qualquer um que prestar atenção percebe. –Happy ofereceu
–Mas quem comentou comigo primeiro foi a Pepper. Ela acha que vocês fariam um
casal fofo se você largasse a mão de ser idiota.
Jarvis não podia acreditar
que isso estava acontecendo. Pepper e Happy estavam falando dele desse jeito?
Espera um minuto, se Pepper sabia...
-O Tony sabe? –ele perguntou
em pânico.
-Não. A Pepper achou melhor não contar.
Pepper era uma santa.
-O que eu devia fazer? –ele
perguntou a Happy, sinceramente confuso.
-Você é o gênio, Jarvis. –Happy
riu –Eu não devia precisar responder isso
para você.
-Happy...
-Ok, ok. –o segurança riu mais uma
vez –Vamos começar com algo bem difícil,
hein! Anota pra não esquecer. Ta prestando atenção? Fala com ela e pede
desculpas.
Jarvis desligou na cara do
amigo. Happy estava rindo tanto que nem percebeu.
xXx
Tudo bem, pedir desculpas
era fácil. Qualquer um podia pedir desculpas a hora que bem entendesse.
Jarvis percebeu rapidamente
o erro nessa linha de raciocinio. Pedir desculpas era muito difícil! Era quase
impossível.
Ele pensara em milhares de
jeitos de fazer, mas nenhum parecia certo. Ele chegou a pensar em ser direto e
simples (mas sincero), porém foi só parar diante de Darcy que as palavras
sumiram da cabeça dele.
Ele não conseguia falar que
sentia muito.
E se ela não o desculpasse?
E se ela nem ligasse para o que ele tinha a dizer?
E se ela soubesse que ele
estava interessado nela?
Isso era uma bagunça e ele
não sabia o que fazer.
Isso nunca tinha acontecido
antes.
Quatro dias depois da
decisão de pedir desculpas a Darcy (e sem nem ao menos ter falado com ela até
então) Jarvis topou com a própria, no elevador.
-Boa tarde, Jarvis. –ela
falou educadamente.
-Boa tarde, senhorita Lewis.
–ele respondeu, olhando brevemente para ela.
Os dois entraram no elevador
e Friday começou a leva-los até o andar dos laboratórios. Essa era uma ótima
chance para Jarvis falar com ela. Não tinha mais ninguém ali, Darcy estava ali,
ele estava ali, os dois estavam ali...
Isso era um desastre. Jarvis
ia rasgar todos os seus diplomas.
-Calma, Jarvis. –ela falou
de repente –Se você continuar pensando assim você vai fritar seus esquilos.
-Esquilos? –ele perguntou
confuso.
-Tico e Teco. Seus
neurônios. –ela explicou.
-Isso não estava no seu
dicionário. –ele falou.
-Você leu? –ela eprguntou
surpresa.
-Claro. –ele falou como se
fosse óbvio –Li tudo. Não entendi metade.
Darcy riu e ele sentiu-se
inexplicavelmente orgulhoso de te-la feito rir.
-Pelo menos você tentou.
–ela cedeu –E por isso, você merece um... –ela enfiou a mão na bolsa e começou
a remexe-la –Um adesivo.
Antes que Jarvis tivesse
tempo de reagir, Darcy ja tinha puxado o tal adesivo da bolsa e colado na
jaqueta dele. Ele olhou para sua lapela e viu um adesivo de um unicórnio em uma
nuvem.
Aliás, não era um unicórnio,
era um...
-Ponicórnio. –ele murmurou
olhando para o adesivo.
-Você fez um bom trabalho,
então merece um adesivo de ponicórnio. –ela declarou orgulhosa.
-Você dá isso para a Jane?
–ele perguntou.
-E pro Tony e pro Bruce.
–ela informou –Mas o Tony esconde os que eu dou para ele.
Isso era a cara de Tony.
-Ei, você está sorrindo,
Jarvis. –Darcy provocou de leve.
-É muito fácil de sorrir
perto de você, Darcy. –ele falou sincero.
Darcy pareceu sinceramente
surpresa por isso.
-Uau... Obrigada, eu acho.
–Darcy falou sem graça –Eu sempre tive a impressão de que você não ia com a
minha cara.
Jarvis suspirou.
-Eu sei. E a culpa é minha.
–ele respirou fundo –Desculpa.
Agora sim, Darcy parecia
estar bem além do choque.
-Você acabou de...
-Foi. –ele falou –Eu não...
Bem nessa hora as portas do
elevador se abriram, mas os dois ficaram ali, um olhando para o outro.
-Bom... –Jarvis limpou a
garganta, começando a sentir-se um pouco envergonhado –Desculpa. –acabou
repetindo.
Darcy sorriu para ele.
-Você está perdoado, Jarvis.
Até mais.
Jarvis viu Darcy saindo do
elevador e ainda ficou parado ali, sentindo um sorriso espalhar-se pelo seu
rosto.
-Você vai descer, senhor
Jarvis? –Friday perguntou.
-Sim, sim. –ele limpou a
garganta e olhou para os lados e finalmente desceu.
E agora... Como ele falava
para Darcy que queria sair com ela?
xXx
-Darcy? Bom, ela gosta de
pizza, carrosséis e pinguins de pelúcia. –Jane falou distraída.
-Sim, mas... –Jarvis
respirou fundo –Mas se eu quiser...
Diante da hesitação de
Jarvis, Jane levantou sua cabeça para olha-lo. Foi como se ela tivesse visto
uma equação que finalmente fizesse sentido.
-Você gosta dela. –a
cientista falou surpresa.
Jarvis sentiu seu rosto
pegar fogo.
-Sim. –ele falou, olhando para
o chão.
-Bom, Darcy gosta de pizza,
carrosséis e pinguins de pelúcia. –ela repetiu.
-Você acha que ela...
Jane estava olhando para
ele, divertimento óbvio em sua expressão.
-Quer saber? Deixa pra la.
–Jarvis falou sem graça –Obrigado, Dra. Foster.
-Pizza, pinguins e
carrosséis, Jarvis. –ela lembrou, enquanto o homem se afastava –Até que
enfim... –murmurou para si mesma.
xXx
-Senhorita Lewis. –Jarvis
chamou ao ve-la saindo de uma sala.
-Oi, Jarvis. –ela sorriu
para ele –Que tal me chamar de Darcy?
-Se você prefere assim...
Darcy.
Era impressão dele ou ela
estava corando?
-Você queria alguma coisa,
Jarvis? –ela perguntou.
-Sim. –ele falou um pouco
mais alto do que esperava –Sim. –repetiu de novo, com mais calma –Eu queria
saber se você não quer... –ele respirou fundo –Ir ao Central Park comigo. Eu
ouvi dizer que você gosta de carrosséis e pizza.
Darcy parecia estar lutando
contra um sorriso.
-Foi? –ela perguntou.
-Sim. E... –ele entregou a
sacola que tinha nas mãos –Pinguins de pelúcia.
Darcy olhou dentro da
sacola, e sim, havia um pinguim de pelúcia la. Roxo.
-Jarvis, você está me
perigueteando? –ela perguntou sorrindo.
-Sim, Darcy. Eu acredito que
estou.
Darcy riu, dessa vez corada
de verdade.
-Nesse caso... Eu sei onde
está a melhor pizza do Central Park.
-Eu te sigo.
***************************************************************************
N/A: Uma one-shot bem fofa, só para fazer todos sorrirem.
Essa é dedicada a minha querida Ully, que deu a ideia do casal e do dicionário... hahahhaa
Espero que vocês tenham gostado!
B-jão
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