Capítulo 13
O sol mal tinha saído e eu
já estava pronta para ir embora. Depois eu ia me desculpar com Charlote e
explicar tudo, mas eu não posso ficar aqui, não depois de tudo o que aconteceu.
Eu preciso ir para casa,
quero minhas amigas e muito sorvete.
Noite passada nem consegui
dormir direito. Minha cabeça ficou girando e eu repassei mil vezes o que Darcy
me disse e todo o tempo que passamos juntos.
Como eu não vi? Como nunca
me toquei de que ele estava interessado em mim? Eu fiquei pensando em todas as
vezes que nós nos vimos e continuava não vendo como. Ele não me tratava com
tanto interesse assim.
Para ser sincera as únicas
duas vezes que passaram pela minha cabeça foram no dia que eu almocei na casa
Charlie porque Jane estava machucada e no dia que dançamos juntos. Não havia
outro momento sequer que parecesse que..
Ta, ele me beijou. Mas aí
ele disse que veio aqui atrás de mim querendo, então não conta.
E pra ser bem sincera, nada
conta. Não importa se eu perdi os sinais ou não, porque... Enfim. Chega disso,
eu vou embora.
Tinha ligado e pedido um
táxi e recebi uma mensagem me avisando que ele ja estava chegando, então peguei
minhas coisas e comecei a descer.
E o que me acontece na vida?
Eu chego la embaixo, vou para porta e DARCY ESTÁ LA ESPERANDO POR MIM!
Juro por Deus, eu devo ter
dançado a Macarena na frente da cruz, porque não tem outra explicação pro
universo me odiar tanto.
-Lizzie. –ele falou.
Eu invejo a capacidade do
Darcy de não expressar emoção nenhuma. Eu acabei com a raça dele ontem (e foi
merecido!), mas quando ele me olha eu não veja nada: nem mágoa ou
ressentimento, nem mesmo raiva.
Antes que eu pudesse abrir a
boca ele estendeu um envelope na minha direção.
-Eu tenho dificuldades em me
expressar na maior parte do tempo. –ele falou, embora não estivesse olhando
para mim –Eu só peço a chance de me defender de suas acusações. Leia isso, por
favor.
Eu peguei o envelope e olhei
para ele.
-Ta. –eu falei.
-Desculpa se eu estraguei a
festa para você. –ele falou, finalmente olhando para mim –Não era minha
intenção. Boa viagem, Lizzie.
Ele foi embora e me deixou
ali, olhando para o envelope. Meu celular vibrou, me lembrando que o taxi
estava ali me esperando.
Eu não ia ler aquela carta.
Nada que ele tivesse para falar poderia me interessar. Eu joguei o envelope
dentro da bolsa. Chega disso.
Chegando no aeroporto eu
tive uma má notícia: meu vôo original estava marcado para as 17 horas. Eles até
podiam adiantar minha passagem para as 13! Não eram nem oito da manhã. Eu ia
ter que ficar horas fazendo nada naquele aeroporto.
Eu me sentei em um café que
tinha wi-fi e me preparei para passar longas horas ali. Eu estava revirando
minha bolsa, procurando pelo meu carregador quando o envelope caiu dela.
Eu não vou ler.
Não me interessa.
Nada que Darcy diga pode
começar a...
Merda.
OK. Eu vou ler. Não me
julguem.
Cara Elizabeth,
Antes de mais nada eu quero deixar bem claro que não estou te escrevendo
com a intenção de insistir ou reinforçar os meus sentimentos. Acho que será bom
(para ambos) se pudermos esquecer disso o mais cedo possível.
Eu nem sei se você irá realmente ler essa carta, mas eu peço que (se
você chegou até aqui) que leia, porque
eu acho que mereço a chance de me defender de suas acusações. Como eu disse,
não espero sua simpatia ou que você mude de ideia ao meu respeito.
Na primeira noite em que Charles conheceu Jane ja ficou meio óbvio que
ele ficara encantado com ela. Charles sempre se apaixonou fácil demais, eu
mesmo vi acontecer várias vezes e perdi as contas de quantas vezes tive que
vê-lo afogar as mágoas porque não deu certo.
Quanto mais tempo eles passavam juntos mais claro ficava para mim que
dessa vez era diferente e que Charles podia estar gostando um pouco mais de
Jane. Porém eu não via o mesmo nela, ela era atenciosa e gentil, mas não
parecia particularmente interessada nele, não de verdade, não da maneira certa.
Uma das coisas que me chamou muito a atenção foi o dia em que estávamos no
NightCrawler e ela viu sua amiga dar em cima do Charles sem tomar atitude
alguma ou sem parecer particularmente preocupada. Eu vi que o relacionamento
dos dois parecia estagnado, sem estar realmente indo a lugar algum.
Então eu vi Jane andando com outro homem na rua. Os dois estavam
abraçados e rindo como velhos amigos. Eu contei ao Charles e ele ficou
chateado, ainda mais quando Jane deixou a festa para falar com um homem do qual
ele nunca ouvira falar.
Caroline, que ja vinha tentando fazer cabeça dele contra Jane, foi quem
falou para ele deixar tudo e ir embora. Eu admito que não devia te-lo
encorajado a agir daquela forma, principalmente porque sabia os motivos de
Caroline, mas eu achava que seria melhor para todos os envolvidos. Assim o
choque da separação passaria mais rápido para todos.
Talvez eu devesse ter dito para Charles conversar com Jane, mas como não
acreditava que ela realmente gostava dele, considerei uma perda de tempo e um
desgaste desnecessário para ele. O que eu disse a ele exatamente nessas
palavras, sabendo que minha opinião vale muito para Charles.
Sobre esse assunto, eu não tenho mais nada a dizer. O que aconteceu,
aconteceu. Acabou.
Agora sobre Wickham. (Aqui Darcy
começou e riscou 4 linhas) Eu poderia
passar o resto da minha vida sem ouvir falar o nome dele e ainda (mais
frases riscadas).
Eu não sei que história ele contou para você, mas aqui vai a verdade,
que Fitz pode confirmar.
O pai dele trabalhava para o meu pai. Os dois eram bons amigos, tanto
que meu pai era o padrinho de Wickham. Meu pai concordou em ajuda-lo a fazer uma
boa faculdade e, embora isso não estivesse no testamento, eu pretendia cumprir
a promessa. Quando chegou a época da faculdade eu me ofereci para cuidar que o
pagamento fosse feito diretamente a instituição que ele escolhesse, mas Wickham
disse que preferia cuidar do próprio dinheiro. Eu sabia que era uma má ideia,
mas dei o dinheiro a ele de qualquer forma.
Em um ano ele tinha acabado com o dinheiro que devia durar por toda a
faculdade e até mais. Ele voltou exigindo mais dinheiro e eu me recusei. Nós brigamos,
ele saiu batendo a porta e eu fui ingênuo a ponto de achar que era a última vez
que o veria.
Mas não foi.
O que eu estou prestes a te contar é um assunto pessoal e que ainda
causa muito desconforto na minha família, mas eu confio na sua discrição.
Dois anos atrás, quando Gina entrou na faculdade, ela “topou” com
Wickham. Ela lembrava vagamente dele como um amigo do irmão mais velho que era
gentil com ela, então foi fácil para ele conquista-la. Ele foi atencioso,
carinhoso e o namorado perfeito por alguns meses.
Eu não sabia do relacionamento porque estava nos Estados Unidos na época
e ele a convenceu a esconder de mim até eu voltar. Quando eu finalmente voltei
Wickham tinha uma surpresa me esperando.
Ele filmou (mais várias
palavras riscadas) Gina e ele. Então ele
me mandou uma parte do arquivo, exigindo dinheiro para não vazar o video.
Georgina ficou destruída, quase quis parar a faculdade com medo que ele tivesse
mostrado o vídeo para alguém. Eu não fui a polícia porque ela me pediu, porque tinha
vergonha e sentia-se burra. Então eu paguei Wickham pelo vídeo e ele
supostamente destruiu as outras cópias. Isso quase acabou com Gina.
Claro, você não precisa acreditar em mim, mas Fitz não terá problemas em
confirmar tudo o que eu disse.
Eu sinceramente não sei o que dizer agora. Essa é a verdade, as coisas
como elas realmente aconteceram.
(Mais linhas riscadas)
Atenciosamente,
Darcy.
Eu respirei fundo. Li de
novo. E de novo. Na quarta vez um pingo caiu no papel, manchando-o um pouco. Só
aí eu me toquei de que tinha começado a chorar.
Eu não tenho certeza se
estava chorando por causa da Jane, da Georgiana, pelo fato de ter acreditado em
Wickham tão facilmente. Não sei se estava chorando pelo Darcy, porque ele
também enfrentou bastante.
Em momento nenhum passou
pela minha cabeça que ele estivesse mentindo. Darcy nunca falaria algo tão
pessoal (principalmente sobre a própria irmã) se não fosse verdade. O que
queria dizer que Wickham não só era um mentiroso, como um ser nojento e eu era
uma idiota.
Mas, apesar disso, sabe o
que eu não vi? Um pedido de desculpas pelo o que ele fez com a Jane! Um
tiquinho de arrependimento que fosse!
Idiota.
Eu quero ir pra casa. Eu só
quero ir pra casa.
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Capítulo 14
As meninas perceberam assim
que eu cheguei que algo não estava certo. Lydia me encheu para contar o que
tinha acontecido, mas eu decidi esperar até Jane chegar para contar a coisa
toda. Ela chegava em dois dias e eu não estava a fim de repetir essa história.
As meninas ficaram me
olhando como se eu fosse louca, então ficaram preocupadas. Eu garanti que
estava tudo mais ou menos bem e que queria esperar a Jane.
Jane chegou radiante da
França. O projeto tinha sido um sucesso e a chefe dela queria leva-la para mais
um do tipo no norte da Inglaterra até outubro.
Eu dei uma olhada para a
alegria de Jane e comecei a chorar. Mary perguntou se eu estava usando drogas.
Eu não queria desanima-la,
mas senti que precisava explicar tudo, contar o que acontecera, principalmente
porque eu ia explodir e precisava compartilhar com alguem.
Então eu sentei as meninas e
contei tudo o que aconteceu no casamento. A única coisa que ficou de fora foi
tudo referente ao George. As meninas não chegaram a conhece-lo (só a Jane, e
bem brevemente) e essa parte era muito pessoal para o Darcy, então eu não
queria espalhar.
Mas eu falei tudo. Desde o
dia que cheguei, as pistas do Fitz (que agora eu me toco estava tentando me
empurrar para Darcy), até o beijo, a confissão e a carta.
Foi péssimo.
-Meu deus. –Lydia falou
levando as mãos a boca –A culpa é minha.
-Não. –eu falei na hora –A
culpa não é de ninguem. Darcy não tinha o direito de julgar o que estava
acontecendo. Ele não nos conhecia direito. Charles levou na brincadeira e a
Jane também.
-Isso é verdade. –Mary
ofereceu –Se os dois principais interessados não estavam incomodados, ele não
tinha que meter o bedelho.
-Aliás, isso resume o
problema inteiro. –Kitty palpitou –Ele e Caroline meteram o nariz no assunto
dos outros. E Charles é um bundão que...
Mary deu uma cotovelada em
Kitty e todas ficamos em silêncio. Jane ainda não tinha dito nada. Eu ia
deixa-la ler minha carta mais tarde, porque eu confiava na discrição dela.
-Jane? –eu chamei com
cuidado.
Ela suspirou e virou-se para
todas nós.
-Eu agradeço todo o apoio
que vocês me ofereceram todo esse tempo. –ela começou –E obrigada por me contar
o que aconteceu, Lizzie.
-E agora? –Kitty perguntou
com cuidado.
-Agora... –ela suspirou
–Acabou. Eu não vou negar que adoraria falar umas verdades para Darcy e
Caroline, mas além de tudo... Charles foi o que mais me decepcionou. Ele
escolheu ouvir os outros, ele escolheu não falar comigo, ele
escolheu sumir. Por mais que tenha sido por influência dos outros, a decisão
foi dele.
Nós todas ficamos em
silêncio.
-Chega de Darcy, Caroline e
Charles nessa casa. –Jane declarou resolvida –Acabou.
-Super positivo e coisa e
tal... –Lydia começou com cuidado –Mas agora que essa parte da conversa
acabou... –ela virou-se para mim –Explica direito essa coisa com o Darcy!
Todas se viraram para mim na
hora, curiosidade em seus olhos.
-Eu achei que nós não íamos
falar mais deles. –tentei.
-Nós não vamos. –Jane
garantiu –Assim que você explicar direitinho essa história com o Darcy.
Eu bufei levemente
frustrada.
-Eu não acredito até agora.
–eu falei por fim –Eu nunca achei que ele tinha interesse em mim.
As quatro trocaram olhares.
-O que? –eu perguntei
confusa.
-Era meio óbvio. –Lydia
falou por fim.
-Óbvio? –eu perguntei
chocada.
-Ele ficava te secando o
tempo todo. –ela me informou.
-E ele sempre tentava estar
perto de você. –Kitty indicou.
-Ele perguntava muito de
você. –Jane falou por fim –Eu o vi muito no tempo que passei na casa do Charlie
e ele sempre perguntava de você.
-Por que você nunca disse
nada? –eu perguntei confusa.
-Porque você não ia com a
cara dele de jeito nenhum. –ela deu de ombros –E depois que o Charlie foi
embora eu não achei que ele ia brotar das trevas e dizer que te amava.
-Ele não disse que me amava!
–falei sentindo meu rosto queimar.
-Tanto faz. –Mary revirou os
olhos –Era meio óbvio.
-Bom, obrigada por terem me
avisado. –eu falei seca –Eu podia ter me preparado psicologicamente, sabia?
-Colega, você agarrou o
cara. –Lydia indicou.
-Eu não tenho certeza de
quem agarrou quem. –eu cruzei os braços.
-Que seja. –Mary revirou os
olhos –Você não estava gritando e exigindo ser largada.
Ponto para ela.
-Olha, não faz diferença.
–eu falei por fim –Ja era. Sem chance de mais nada.
Eu nunca mais ia ve-lo
mesmo.
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N/A: AI ESTÁ!!
Como eu demorei bastante, eu resolvi ser legal e ja postar dois capítulos de uma vez.
Wickham merece uma morte lenta ou dolorosa! Animal.
Espero que vocês gostem. Próximo capítulo terá a participação especial de outros personagens da Austen. Espero que vocês curtam.
COMENTEM!
B-jão
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