Capítulo 8
Bruce estava tentando se
concentrar no seu miscroscópio, mas não conseguia parar de sorrir. Pepper tinha
sumido com Agente Coulson.
Toni entrou na cozinha nessa
manhã declarando aos quatro ventos que os dois tinham fugido para se casar no Caribe
e viver plantando coco. Natasha entrou logo em seguida, revirando os olhos e
dizendo que os dois tinham ido passar alguns dias juntos em Malibu e voltariam
no fim da semana.
Quem iria imaginar que viver
num prédio cheio de super heróis e agentes secretos proporcionaria momentos
como esses?
Bruce podia ser fechado, mas
no fundo era um romântico. Esse tipo de coisa ainda o fazia sorrir.
O único problema de Pepper
estar com Coulson agora é que ele sabia que Toni ia fazer o que tinha dito:
tentar joga-lo para Cora.
E não que ele não gostasse
dela, porque Cora era incrível, mas tinha o Outro Cara, sempre haveria.
-Bom dia, doutor Banner.
Bruce levantou a cabeça para
cumprimentar Cora.
-Bom dia, Cora.
Ela estava impecavelmente
vestida, como sempre, carregando uma pilha de papéis em uma mão e uma caneca de
café na outra. Toni dizia que ela era como uma mini Pepper: podia fazer tudo ao
mesmo tempo e com salto alto.
Ela deixou a caneca de café
ao lado dele (que estava, como sempre, exatamente como ele gostava) e foi
deixar os papéis sobre uma outra mesa. Bruce estava quase virando de volta para
seu microscópio quando viu os ombros dela ficarem tensos e ela levar a mão ao
pescoço.
-Você está bem, Cora? –ele
perguntou.
Cora abaixou a mão na hora.
-Claro. –ela respondeu.
-Tem certeza? –ele insistiu.
-Talvez não. –ela suspirou
–Eu acabei dormindo no meu sofá essa noite e meu pescoço está me matando. Ficar
no computador hoje vai ser infernal.
Bruce pensou por um minuto.
Ele podia ajuda-la. Não seria nada demais. Cora nunca reclamava ou faltava, se
estava falando que sentia dor, devia estar com muita dor.
-Eu posso te ajudar. –ele
falou meio hesitante.
-Como? –ela perguntou
curiosa, mas acabou virando a cabeça rápido demais e mais uma vez levou a mão
aos pescoço.
-Senta. –Bruce indicou o
banco que estava do lado dela.
Ela sentou e ficou olhando
para ele. Bruce limpou a garganta.
-Talvez seja melhor você
tirar o paletó. –ele falou.
Cora não falou nada, apenas
tirou a peça. Claro que, justamente hoje, ela estava usando uma blusinha ao
invés de uma camisa. Mas tudo bem, nada demais.
-OK, vira. –Bruce falou
aproximando-se.
Mais uma vez Cora fez o que
ele pediu e deu as costas ao cientista. Bruce esfregou uma mão na outra,
ignorou seu coração que estava querendo acelerar (ótima hora para isso
acontecer) e colocou as mãos no pescoço de Cora.
Ela suspirou.
-Oba, massagem.
Bruce riu suavemente.
-Me diz se eu te machucar.
Cora apenas fez um barulho
de concordância.
Bruce se concentrou em
tentar relaxar o pescoço dela, sem reparar em quanto tempo tinha passado. Nunca
tinha visto Cora tão relaxada.
-Uau, você é muito bom
nisso. –ela falou, até grogue.
Bruce sentiu seu rosto
queimar.
-Eu aprendi muitas coisas
viajando por ai e tentando aprender a me manter relaxado. –ele falou.
-Ah é. Por causa do Outro
Cara. –ela falou –Com esse tipo de talento eu me pergunto porque você está aqui
nessa casa de loucos ao invés de trabalhando em algum spa distante.
-Eu ja considerei essa
possibilidade. –ele admitiu.
-Não vá. –ela falou na hora
-Nós todos sentiríamos muito a sua falta.
-Eu imagino que viver sem
medo de que eu vire o Outro Cara a qualquer momento, só porque acabou o chá na
cozinha, seria muito melhor. –ele falou resignado.
-Eu tenho mais medo da
senhorita Stark explodir a torre inteira do que de você virar o Outro Cara.
–Cora falou.
As mãos de Bruce pararam de
se mexer na hora.
-Você fala isso porque nunca
viu ele nervoso. –ele falou pesaroso.
As mãos de Cora cobriram as
dele que ainda estavam paradas no ombro dela.
-Isso não é verdade. –ela
falou suavemente –Eu estava em Nova York quando Loki atacou. Aqui na Stark
Tower pra ser mais precisa.
Bruce congelou.
-Quando Loki invadiu nós
todos fomos para o nível subterrâneo, mas ficamos vendo o que acontecia dentro
e fora da Torre via câmera. –ela explicou.
Bruce soltou suas mãos da
dela e deu um passo para trás. Cora virou-se para olha-lo.
-Você viu... O que aconteceu
com Loki.
-E foi muito merecido. –ela
falou na hora –O Hulk sabia exatamente quem era o inimigo. Acabou com Loki e
saiu da Torre. Não destruiu nem um vidro a mais. E nas ruas foi a mesma coisa.
-Ele deu um murro em Thor.
–ele falou olhando para o chão.
-O Thor é do tipo que
aguenta. –ela deu de ombros –E não parece guardar rancor algum.
-Eu sou perigoso, Cora. –ele
falou.
-Mas, Bruce... –ela falou
suavemente –Quem nesse prédio não é? Obrigada pela massagem. –sorriu e saiu,
deixando Bruce e seus pensamentos.
E então...
-Ela me chamou de Bruce. –um
pequeno sorriso.
XxX
Darcy nunca imaginou que
fosse ser tão absurdamente divertido viver num prédio cheio de super herois.
Tudo bem que catastrofes
podiam rolar a qualquer minuto (literalmente), mas todos eram muito divertidos.
Era bem visível que a grande maioria deles ainda estava aprendendo a lidar um
com o outro, porém todos estavam indo no caminho certo.
Steve, por exemplo, era uma
gracinha. Tão educado, o tipo de cara que você levaria para conhecer sua mãe,
sem contar que lindo de morrer.
Sério. Fizeram e jogaram a
forma fora. Meio que literalmente.
Seria tão mais fácil se ela
estivesse interessada nele.
Só que sendo bem honesta,
para ela era impossível ver qualquer outra pessoa quando Clint estava por
perto. E isso era estúpido, ou o que?
E nem era só porque ele era
um atleta do sexo (embora, sendo honesta e justa, ele devia viver só disso!),
mas tinha algo a mais. Algo só dele. O humor seco, aquele sorriso torto e os
olhos de alguém que vivera coisas que ela talvez nunca fosse entender.
Ela tinha um pouco de
vergonha de como as coisas aconteceram entre eles. Não por causa do sexo
(porque, só pra lembrar, atleta), mas pelo jeito que se abriu com ele,
admitindo inseguranças e dúvidas. O jeito como conversaram. Clint acabou vendo
uma Darcy que pouquissímas pessoas viam.
Além disso tinha mais uma
coisinha, e essa sim, era a que mais dava vergonha. Ela tinha... Bom, meio
que...
Super aberto a
interpretações, cada um tem sua opinião e tal.
Então, enfim... Ela...
Tinha... Fugido na manhã seguinte.
Ok, talvez fugido fosse um
termo meio forte. E o cara era um soldado quase ninja! Era um absurdo ele não
ter ouvido a saída dela. Talvez ele não quisesse que ela ficasse! Essa era uma
chance bem real.
Ou seja, a coisa toda era
pra ter sido uma ficada de uma noite. Ela não tinha culpa que ele estava dando
sopa por ai agora. Bom, não exatamente dando sopa, né? Porque tinha a tal da...
-Lewis, precisamos
conversar.
Darcy deu um pulo.
-Eu juro que nem cheguei
perto dele! –ela gritou.
Natasha arqueou uma
sobrancelha perfeita. Claro, tudo nela era perfeito.
-Do que você está falando?
–ela perguntou.
-Nada. –Darcy limpou a
garganta –Sobre o que você queria falar?
-Clint. –a ruiva falou com
simplicidade, confirmando os piores medos da morena.
Darcy sabia que isso estava pra acontecer! Tinha certeza! Bom, pelo menos
Natasha não tinha resolvido que simplesmente mata-la era bem mais fácil.
-Não há necessidade. –Darcy
assegurou rapidamente –Eu não tenho interesse nenhum nele! Eu sei que ele é seu
homem e eu mega respeito isso. Por favor, não me mate.
Natasha estava olhando para
a garota a sua frente e, obviamente, não estava muito impressionada.
-Clint não é “meu homem”.
–ela falou de forma simples.
-Hum... Eu não acredito
nisso. –Darcy declarou, embora soubesse que o risco de morte aumentava cada vez
que abria a boca.
-Olha, nós já ficamos
juntos, eu admito. –Natasha falou –Mas foi há muito tempo. Nós somos amigos,
grandes amigos. Passamos por coisas juntos que muita gente não entenderia.
-Tipo eu, né? –Darcy
suspirou.
-Isso não é um ponto
negativo, Lewis. Acredite. –a mulher pareceu pensar um pouco e chegar a alguma
conclusão –Clint ja foi casado com alguém do nosso meio e não deu certo. (1) São duas pessoas com problemas
demais e traumas em excesso. Mas alguém como você... Tão simples, tão comum,
tão... Livre... Talvez seja exatamente disso que ele precise.
-Espera aí! –Darcy estava de
queixo caído –Você está tentando me dizer que acha que eu devia ir atrás dele
ou coisa do tipo? Porque tem o detalhe de ele não me querer e tal.
Natasha revirou os olhos.
-Eu vou ignorar essa última
parte. –ela informou –Eu não estou “tentando” te dizer nada, Lewis. Eu estou falando pra você fazer alguma coisa.
-Meu Deus... A Viúva Negra
está tentando me ajeitar pra alguém. –Darcy parecia estar tentando aceitar a
ideia –Eu acho que caí num mundo alternativo.
-Antes eu que a Toni. –a
outra informou –Ela tem uma lista. Vai saber qual a sua prioridade e pra quem
ela quer te jogar.
É, Natasha estava certa.
-Então... Você e o Clint...
-Se mexe, Lewis! –Natasha
falou –Porque ele é teimoso e tem a mesma ideia idiota que você: que a atração
não é mútua. Sinceramente, se tivesse mais tensão sexual entre vocês dois esse
prédio ja tinha desabado.
Bom, quando uma assassina russa
expõe a situação nessas palavras... Quem era Darcy pra dizer não?
XxX
-Então... Você e o Capitão?
–Rhodey perguntou, tentando conter um sorriso.
-Não é nada disso que você
está pensando. –Toni informou –Infelizmente. Eu estou tentando tirar a virgindade
dele, mas tá difícil.
Rhodey, que estava dando um
gole na sua água engasgou.
-Sabe, isso é um pouco
vulgar demais. –ele falou batendo de leve no peito -Até pra você.
-Ah vá. –Toni revirou os
olhos.
Devia ter imaginado que esse
assunto ia acabar aparecendo, mas como Rhodey não tinha dito nada no jantar na
noite anterior, tinha desencanado. Não devia ter, porque obviamente a
virgindade do Capitão América era tesouro nacional.
E aparentemente um assunto
que devia ser salvo para a hora do almoço.
-O maior problema é que ele
é tão “maravilhoso”... –ela estava sendo irônica demais e não ligava -...que eu
nem sei como falar com ele. Eu não consigo entende-lo.
E essa era a verdade. Não
sabia qual era o problema dele. De onde Steve tirava que precisava ser perfeito
o tempo todo? Tudo bem ser um bom homem (isso ele era sem sombra de dúvidas),
mas não precisava ser um santo. Um mártir. Um mala.
-O que? Não era a mesma
coisa com a Pepper? –Rhodey provocou -Ela não é “maravilhosa”? Você mesma vive
falando de como ela está acima de todo o resto da humanidade.
-Ela está. –Toni falou como
se fosse óbvio -Pepper é inacreditável. Mas ela ja me conhecia há anos quando
resolveu me dar uma chance. Ela é uma mulher e tanto e eu nunca vou encontrar
alguém como ela.
-O que te faz pensar que o
Capitão não vai te dar uma chance, como ela deu? –Rhodey rebateu.
-Porque eu queria um
relacionamento com Pepper mais do que qualquer outra coisa no mundo. Eu não
quero um relacionamento com Steve. –Toni falou devagar, porque Rhodey
obviamente estava se fazendo de tonto -Eu quero transar com ele.
-E nós voltamos para vulgar.
–Rhodey bufou.
-Do jeito que eu gosto.
–Toni deu uma piscadela para o amigo, fazendo- rir.
Rhodey pareceu pensativo.
-Põe pra fora, Rhods. –Toni
falou.
-Alguma coisa está
acontecendo, Toni. Com a SHIELD. –ele falou.
-Eu não quero saber. –ela
falou na hora.
-Talvez você devesse. –ele
falou firme –Tem alguma movimentação em DC, agentes se encontrando com o
Senador Stern...
-Aquele babaca? –Toni bufou
–Você saberia dizer qual agente?
-Não. Mas não é aquele seu
amigo, o Coulson.
-Opa, pera lá! Não vamos
confundir as coisas, ele não é meu amigo.
-Que seja, Toni. Você
precisa ficar de olho na SHIELD. Eles estão tramando alguma coisa.
-Eles sempre estão! Por que
você acha que eu pulei fora? –ela falou –Fury só cuida dos próprios interesses.
Você sabia que ele proibiu Coulson e Rogers de fazer qualquer coisa quando eu
desapareci?
-O que? –James perguntou
chocado –Isso eu não sabia.
-Eu também não, até recentemente.
Os dois morrem de peso na consciência.
-E você deixa o Rogers morar
no seu prédio? –ele perguntou confuso.
-Não é só ele, a Romanoff e
o Barton estão lá também. Nós estamos tentando trabalhar nessa coisa de “time”.
Mas não é fácil. –ela franziu o cenho.
-Claro que não, Toni.
–Rhodey nem acreditava que estava ouvindo isso –Trabalhar em um time nunca é
fácil. Mas vocês têm a chance de fazer algo único. Desistir agora só porque
deixaram um prato sujo na sua pia seria ridículo.
-Eu sei. –Toni falou –Mas
não é isso. São... Eles são...
-Pessoas? –James completou,
porque agora estava entendendo o problema.
-É, exato! –Toni falou como
se isso fosse um grande problema –E todos eles têm passados, opiniões, ideias!
Eles têm sentimentos e pontos fracos, assuntos que são tabus... Eu sinto como
se aquele prédio fosse explodir a qualquer minuto. E eu nem to falando do
Bruce.
Rhodes esticou a mão e pegou
a de Toni.
-Eu só queria saber como
alguém que sabe tanto de máquinas pode ser tão ignorante com pessoas. –ele
falou, mas era sem malícia.
-Bom, é impossível ser
incrivelmente foda em tudo. Até para mim. –ela falou com falsa modéstia.
James começou a rir e tacou
o guardanapo de pano nela.
Mas essa história com a
SHIELD? Não estava esquecida de forma alguma.
XxX
Pepper chegou junto com o
fim de semana. Sorrindo de orelha a orelha.
Toni sentiu um aperto no
coração ao mesmo tempo que se sentiu feliz por ela. Algumas coisas não mudam
nunca.
-Você ta moreninha, hein,
Pepps? –Toni comentou ao ver a mulher entrando na sala –Se você tiver marca de
biquini eu te mato. A casa só pra vocês, espero que tenha rolada sexo em cada
superficie lisa.
Cora, que estava ali para
recolher assinaturas de Toni, derrubou seu StarkPad com essa.
-Não é da sua conta. –Pepper
falou, revirando os olhos –O importante é que eu estou de volta.
-Tanto faz. –Toni deu de
ombros -Eu não preciso mais de você. Eu tenho minha nova super amiga, Cora.
–ela agarrou o braço de Cora, que olhou-a como se ela fosse contagiosa.
Pepper arqueou a
sobrancelha.
-Ok, tchau. –e virou para ir
embora.
Toni largou Cora na hora.
-Pepper, não! Espera!
–correu atrás da ruiva -Não vai embora! Pepper!
-Ela é patética. –Clint, que
acabara de entrar na sala, declarou para Cora.
-Eu acho incrível o carinho
que ela sente pela senhorita Potts. –Cora comentou.
-É, a Toni não deve estar
acostumada a se importar tanto com alguém. –ele comentou de forma distraída.
-Aparentemente nenhum de
vocês está. –ela virou o olhar para ele como uma mira laser.
Clint engoliu em seco.
-Eu fiz alguma coisa? –ele
perguntou confuso.
-Não. –Cora arqueou a
sobrancelha –Esse é justamente o problema. –ignorou o olhar chocado de Clint e
virou-se para Toni –Senhorita Stark, eu tenho que ir. Mas está tudo certo para
os jantares beneficentes de Ação de Graças.
-Obrigada, Cora. –Toni
falou, largando Pepper e virando-se para a outra –Eu vou pegar o avião amanhã,
então você cuida do Bruce com muito amor e carinho.
Cora estreitou os olhos.
-Eu poderia cuidar do
Capitão desse jeito. –ela retrucou.
-Opa, garras! Adoro. –Toni
comemorou –Colega, se você conseguir eu te dou um prêmio, divirta-se.
-Espera um pouco! –Clint
cortou –Pra onde você está indo?
-Japão. –Toni falou do mesmo
jeito que diria “na esquina”.
-Fazer? –ele perguntou
curioso.
-Bom, eu to com vontade de
comer comida japonesa. –ela deu de ombros –E também vai ter uma super feira com
as novidades mais loucas de tecnologia. Eu piro nessas coisas.
-Imagino. –Clint abriu um
sorriso –Quer dizer que a casa ta liberada?
-Quando ela não está? Eu
adoro festa. –ela lembrou –Aqui pode tudo. Menos drogas. Eu sou contra drogas.
Isso inclui Justin Bieber.
-Quando você voltar eu e a
Nat queríamos falar com você. –o arqueiro falou.
-Papai e mamãe querem falar
comigo? O que eu fiz? E por que não pode ser já? –ela despejou de uma só vez.
Clint revirou os olhos.
-Nós achamos que seria
melhor você receber algum treinamento, por mais básico que seja, com armas e
luta, melhorar seu preparo físico. –ele explicou –Evitar que uma situação como
a com o Killian se repita. Nós podemos
te treinar.
-Eu me virei muito bem
naquela situação! –ela protestou.
-Só porque você conseguiu a
armadura de volta. –ele rebateu –Por isso eu queria deixar essa conversa para
depois. A Nat explicaria melhor.
Toni estreitou os olhos.
-Você é um cagão, Barton.
–ela declarou jogando as mãos pra cima –Eu vou pro Japão e quando eu voltar não
vai rolar treinamento nenhum. Fique avisado!
Toni saiu pisando firme como
se fosse uma criança de cinco anos tendo um chilique. Cora e Pepper reviram os
olhos em perfeita sincronia e seguiram a bilionária para fora.
Clint sorriu para si mesmo e
foi até a geladeira. Ia preparar um lanche rápido e treinar o dia todo. Ele e
Natasha ainda faziam missões para SHIELD, mas tinha ficado combinado com Toni
que a agência ficava da porta pra fora.
Ele não tinha problema
nenhum com essa regra. Para ser bem sincero, era um alívio.
Que Natasha nem sonhasse que
ele pensava em algo do tipo (a zoação seria infinita), mas Clint estava cansado,
esgotado e de saco cheio do trabalho no campo. E, pra ser bem sincero, da
SHIELD também. Só que, para pessoas como ele, não havia outra opção. A não ser
que ele quisesse voltar para o circo (não, ele não queria).
Recentemente uma ideia vinha
se formando em sua cabeça, mas precisava conversar com Phil sobre isso. Phil
saberia o que fazer, ele sempre sabia.
-A Cora ta por aqui?
Clint sentiu aquele arrepio
no pescoço que sempre sentia quando ouvia a voz de Darcy. Era incrível o efeito
que ela tinha sobre ele depois de tanto tempo. Morar no mesmo prédio tinha sido
uma péssima ideia. Maturidade era um saco.
-Ela acabou de sair atrás da
Toni. –ele falou sem virar-se.
-Hum... Que droga.
-Você precisa de alguma
coisa? –ele perguntou ainda focando no seu sanduíche. Não devia olhar!
-Nada que não possa esperar
outro dia. –ela respondeu tranquilamente.
Clint ouviu o som suave de
passos –ela estava descalça- se aproximar. Como não ouviu o tilintar de
pulseiras deduziu que ela ainda estava se arrumando.
-Você sabe de que horas é
esse café na máquina?
Ta, se ela ia continuar a
falar com ele, Clint ia ter que virar. Ficar de costas não seria maduro e
estávamos trabalhando para sermos maduros.
-A Cora fez há uns 15
minutos. –ele declarou virando-se para ela.
Oh não...
Felizmente Darcy não estava
virada para ele, porque... Meu deus...
Tinha uma coisa que ela não
sabia, e Clint preferia que nunca soubesse. Embora aquele dia no bar tivesse
sido a primeira vez que os dois tinham se conhecido de fato, ele estivera
observando o laboratório de Jane Foster por camêra. E, de longe, já tinha
achado Darcy uma graça. Foram os óculos, ele se convenceu depois, junto com os
sorrisos e as dancinhas estranhas que ela fazia do nada. Mas acima de tudo,
foram os óculos.
Darcy estava despejando café
e praticamente um kilo de açúcar numa caneca. Os óculos dela estavam bem na
ponta do nariz, como se fossem cair a qualquer momento. Ela tinha os cabelos
presos por um lápis, mas o arranjo estava a um passo de desabar. E ela estava
usando uma regata roxa de alças bem fininhas, que deixava o sutiã preto dela a
vista.
Que merda... Isso não ia dar
certo. Ele não tinha tanto autocontrole assim. Aliás, quando o assunto era
Darcy ele não tinha autocontrole algum.
-Clint? Você me ouviu? –Darcy
estava olhando para ele levemente preocupada.
Inspira, expira. Ele podia
dar um jeito nisso.
-Desculpa, eu estava
distraído. –ele falou –O que você disse?
-Eu só queria agradecer.
–ela falou com um sorriso.
-Pelo que? –ele perguntou
confuso.
-Por ter sido tão
incrivelmente gente boa comigo. –ela explicou –Quando perguntaram se seria um
problema a gente viver sob o mesmo teto. –elaborou.
-Bom... Não foi nada demais.
–ele falou, um pouco preocupado com onde essa conversa ia parar.
-Claro que foi, Clint. –ela
revirou os olhos –Se você tivesse dito que seria um problema, o que você acha
que teria acontecido? Teriam me chutado pra fora, claro.
-Claro que não, Darcy!
-Claro que sim, cabeção.
–ela riu –Você é o Vingador, super importante e tal. Eu sou uma mera
assistente. E muitos caras iam preferir a saída fácil do que ficar olhando todo
dia na cara da transa de uma noite.
Hum... Clint não sabia o que
falar. Tinha alguma coisa errada nessa cena inteira. Ele sentia que estava
sendo enrolado de alguma forma.
-Eu agradeço a maturidade.
–ela continuou –E como você tem me respeitado esse tempo todo. Alguns caras não
são assim.
Clint suspirou aliviado.
-Darcy, não tem o que
agradecer. –ele falou sincero –Você é uma pessoa incrível e essencial para a doutora
Foster. Você não merece nada menos que meu completo respeito.
Darcy corou. Era outra coisa
que era uma gracinha nela: como alguém tão bocuda corava por tão pouco.
-Bom, quando você fala esse
tipo de coisa eu lembro porque eu deixei você me espremer contra a primeira
parede disponível. –ela riu.
-Oi? –agora sim ele estava
chocado.
-A gente não vai fingir que
nunca rolou, né? –ela revirou os olhos –Claro que não precisa ser tópico de
discussão semanal, nem significa que vai rolar de novo, mas foi bom...
-Bom? Você chama aquilo de
“bom”?
Ta, isso ja era um pouquinho
demais. Bom? BOM? O que eles fizeram, aquela noite inteira, foi “bom”?
-É, bom. –Darcy parecia
confusa com a reação dele –Algum problema?
Clint estava a um passo de
explicar que, sim, havia um problema. Aliás, ele estava a um passo de
demonstrar, quando Toni voltou para a cozinha.
A bilionária observou os
dois e abriu um enorme sorriso maldoso.
-Bom, eu ia falar uma coisa
pra você, Franguinho, mas mudei de ideia. Prossigam. –ela falou.
-Espera, Toni! –Darcy
chamou.
-Sim?
Darcy levantou a People que
estava largada no balcão da cozinha e trazia a foto de um rapaz de barba e
olhos extremamente azuis.
-Você ja transou com Oliver
Queen? (2) –Darcy perguntou
apontando para a revista.
Toni torceu o nariz.
-Não! Bem que ele queria.
-Por que não? –Darcy soltou
um muxoxo.
-Antes de ele ir passar
férias em Lost ele era um filhinho de mamãe nojento. Depois de Lost ele ficou
um ser mórbido que finge ainda ser mimadinho. Então... Ainda bem que não, né.
–ela falou como se fosse óbvio –E eu acho que ele é novo demais pra mim.
–pareceu refletir e desconsiderar -Além do mais, o único super playboy com o
qual eu ja dormi foi Bruce Wayne. Eu gosto de ser a pessoa mais rica na cama.
-Sobre vocês dois eu já li.
–Darcy comentou.
-É, mas foram só algumas
vezes, apesar de todo o romance que a mídia inventou para nós. Mas
sinceramente, quem tem tempo pra romance quando há outras coisas a serem feitas?
-Tipo? –Clint perguntou,
embora soubesse que ia se arrepender.
-Beber, farrear e fazer
sexo. –ela respondeu sem problema algum.
-Você tem problemas sérios.
–Clint falou, sem nem tentar conter a risada.
-Obrigada. Eu sei. –ela fez
uma pequena cortesia –Divirtam-se, crianças. Tia Toni volta na semana que vem.
Talvez.
Clint virou-se para Darcy
para continuar a conversa, mas ela ja estava de saída.
-Foi ótimo esclarecer as
coisas com você, Clint. –ela falou acenando.
-Ei, onde você vai?
-Fazer um pouco de
exercício. Eu tenho que manter esse corpitcho, né colega. Acho que eu vou...
Pular corda! –ela declarou, dando um pulinho.
Clint esperava não estar
babando. Ela não devia pular com aquela regata.
-Tchau, Clint. –ela deu uma
piscadela para ele.
Foi aí que o arqueiro soube:
alguma coisa estava acontecendo. E se Nat não estivesse envolvida ele ia
quebrar seu arco preferido.
XxX
Apesar do melhor balcão da
Torre ficar na cobertura de Toni, havia outro lugar no prédio que era bom para
sair e ver a cidade mais de perto.
Steve gostava de sentar-se
ali de vez em quando e desenhar os prédios ao seu redor. Dessa vez o lugar não
estava vazio: Thor estava parado ali, seu olhar fixo no céu.
-Boa noite, Thor.
O outro homem virou-se com
um enorme sorriso na direção de Steve.
-Amigo Steve! Como você está
nessa noite?
Steve não era um cara fraco,
mas até ele perdia o equilíbrio com os tapas nas costas que Thor costumava dar.
-Bem. E você?
-Eu vim buscar as estrelas.
–Thor falou –Porém, como sempre, elas se escondem no céu de sua cidade. –completou
pesaroso.
Steve sentia o mesmo pesar
de Thor. No céu de Nova York havia tantas luzes artificiais, poluição... Era
impossível ver as estrelas.
-Onde está a doutora Foster?
–ele perguntou.
-Lady Jane está em meio a
uma pesquisa muito séria. –Thor informou com um sorriso orgulhoso –E acabou de
ter um “flash de inspiração”. –falou, como se estivesse lembrando exatamente as
palavras que tinha ouvido –Aparentemente, eu a distraio, então fui expulso do
quarto. –havia orgulho nesse comentário também.
Steve sorriu.
-Como você está se
adaptando, Thor? –Steve quis saber, porque talvez Thor tivesse uma resposta.
Steve ainda não sabia como
ele mesmo estava se adaptando. As vezes parecia tão simples, as vezes tão
complicado. As vezes parecia que tudo estava indo bem, mas então algo
acontecia e ele se sentia velho e
desatualizado e perdido.
Na verdade, sentia-se sempre
perdido.
Não era o jeito que as
pessoas falavam ou como elas se vestiam. Era o jeito que agiam, como se
honestidade, educação, consideração fossem coisas fora de moda. Ele via os
jovens de agora andando na rua, como se fossem os donos do mundo, ignorando a
sabedoria dos mais velhos, os sofrimentos dos menos abastados e a vida em
geral. Era como se o mundo inteiro, de repente, achasse que a vida cabia numa
tela de celular.
-Eu não vou dizer que é
fácil. –Thor respondeu –Alguns dos costumes da Terra são... Diferentes. –ele
completou politicamente –Eu não entendo muito do que vocês acreditam aqui.
Porém, eu descobri grandes aliados, amigos. E Jane... –era como se, de repente,
os olhos dele estivessem vendo a doutora bem diante deles –Ela é mais do que eu
sempre esperei. Não apenas amante, mas amiga, uma mulher forte, que eu tenho
grande prazer em chamar de minha.
Steve sentiu uma pontada de
inveja do Asgardiano. Não porque quisesse Jane Foster (ele nem queria parar pra
pensar em quem realmente queria ultimamente), mas porque queria sentir-se
assim: vitorioso por pertencer a alguém.
Era difícil para ele não
pensar em Peggy em momentos como esse. Eles tinham tanto potencial, podia ter
sido algo tão fantástico. Só que nunca seria. E, de vez em quando, era difícil
aceitar isso também.
Ele queria ter o que Thor
tinha com Jane, o que Pepper estava construindo com Phil. Queria alguém.
-Você tem sorte, Thor.
–falou sincero.
-Eu sei. Porém... Eu me pego
pensando em Asgard. –o olhar do deus virou-se para o céu –Eu deixei meus amigos
de lá para trás, meu pai sozinho, após perder minha mãe. E Loki... –ele
suspirou –Eu sei que não há nada, além de ressentimento, entre vocês e ele, mas
ele era meu irmão. Por mais difícil que seja de acreditar, ele era um bom homem
e morreu de forma honrosa.
Steve colocou uma mão no
ombro do outro em apoio.
-Eu me pego pensando em
todos aqueles anos atrás, no Brooklyn que eu me lembro, e não o que eu vejo
hoje.
-Acho que, de certa forma,
ambos somos aliens para essa Terra. –Thor falou com um sorriso.
-É, acho que sim.
Mas Steve estava ficando
cansado de ser.
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N/A: Eba!!! Ai estamos, mais um capítulo. As coisas estão se ajeitando (ou talvez não... hahaha)
Clint lindo na nossa capa e Darcy aprontando geral.
Anotações:
(1) Clint Barton foi
casado (nos quadrinhos) com Bobbi Morse, a Hárpia, que por acaso deve estar na
nova temporada de Agents of SHIELD. Não, ela não vai aparecer aqui, foi só pra
esclarecer a citação.
(2) Sim, esse Oliver
Queen, de Arrow. Sim, eu fiz isso! hahahaha
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B-jão