Capítulo 4
Se eu tivesse pensado com
mais cuidado, não teria encorajado Jane a continuar saindo com Bingley. Não que
ele não estivesse se mostrando um cavalheiro perfeito, mas eu tinha esquecido
quem eram os amigos dele.
Jane estava nas nuvens e, em
duas semanas, ela e Charlie (como nós todas o chamávamos agora) ja tinham saído
juntos seis vezes. SEIS. Em quatorze dias. Só podia ser amor.
Então qual o problema?
Quando Jane estava feliz, queria fazer todos ao seu redor ainda mais felizes.
Logo, quando saía com Charlie, queria nos levar junto.
A questão era que Mary
andava com aquele pessoal estranho dela, Lydia estava de peguete novo e
tentando empurrar Kitty para o irmão do cara. Eu era a única que não tinha
desculpa para escapar.
Eu evitei o máximo possível,
mas depois de alguns convites recusados eu sabia que ia pegar mal. E o pior:
deixar Jane triste.
Ou seja, quando a Jane me
convidou para um pub na quarta-feira, eu não tive mais como dizer não. O
Chelsea ia estar jogando sei la com quem. Aparentemente Bingley era aficionado
pelo time. E, aparentemente, Darcy também era e estaria la.
Tudo o que eu precisava na
minha vida.
Eu até tentei arrumar um
desculpa. Eu trabalho em uma firma de advocacia especializada em empresas e
negócios, hoje ia ter uma reunião mega importante. Eu sou peixe bem pequeno,
mas assisto várias reuniões por lá, porque eu tenho minhas ambições e quero sim
subir.
A parte triste da coisa
toda, era que o meu chefe também é
aficionado pelo Chelsea. Nenhuma reunião na empresa pode interferir com jogos,
a menos que seja uma emergência. Logo... Eu não tinha realmente uma desculpa.
O que me deixava mais
irritada com a coisa toda era que eu estava arrumada. Em dia de reunião com
cliente eu sempre investia um pouco mais no visual. Eu não queria que eles
achassem que era por causa deles.
Daí eu admito que fiz uma
coisa meio infantil. Ao invés de retocar
minha maquiagem antes de sair, eu limpei o rosto e prendi meu cabelo num rabo
de cavalo.
Eu sei que é idiota, mas eu
não queria nenhum deles achando que eu estava tentando impressionar algum
deles. Eu tenho mais o que fazer da minha vida.
Quando eu cheguei no pub
eles ja estavam lá. Bingley com as irmãs e o cunhado, além de Jane. Darcy não
estava a vista.
Aliás Charlie estava tentando
explicar o campeonato e as pontuações para Jane, que estava se esforçando para
parecer interessada. Muito fofo.
-Jane. –eu chamei ao me
aproximar.
-Lizzie! –Jane abriu um
enorme sorriso e acenou para mim –Que bom que você veio! Você lembra de todos, não?
Não tinha como esquecer a
cara falsa de Carolina Bingley, ou a cara de nojo da irmã dela.
-Claro que sim. –falei
sorrindo –Caroline, Louisa, Paddy.
Os três acenaram para mim.
Era o suficiente, então me virei para Bingley.
-Oi, Bingley.
Ele abriu um enorme sorriso.
-Charlie está ótimo, Lizzie.
–ele falou –Que bom que você pôde vir hoje. Gosta de futebol?
-Odeio. –eu admiti –Mas meu
pai sempre foi um fã do Liverpool, então eu sei que posso suportar.
-Liverpool. Por que não me
surpreende? –uma voz bem específica disse atrás de mim.
Claro, eu não ia estar livre
desse cretino, né?
Eu virei-me para o ser
humano com o meu melhor sorriso.
-Eu poderia dizer a mesma
coisa, Chelsea. –então olhei para Jane –Eu vou pegar uma pint.
Antes que alguém pudesse
abrir a boca, eu saí. Eu só pretendo ficar nesse lugar por causa da Jane, mas
se aquele idiota acha que eu vou aguentar a chatice dele quieta de novo, ele
está bêbado.
-Ah Eliza querida, não deixe
Darcy incomoda-la.
Eu não sei o que me chocou mais:
o fato de Caroline ter vindo atrás de mim, de ela me chamar de “Eliza querida”
ou a cara de simpatia falsa dela.
Era engraçado pensar que os
mesmos pais que criaram Charlie, a criatura mais simpática do mundo, também
criaram essa falsidade toda. Deve ter sido um experimento governamental ou
coisa do tipo. Só isso explica.
-Eu não ligo. –eu falei por
fim.
-Ele é tão rude, o tempo
todo. –Caroline insistiu, aparentemente ignorando o que eu dissera –Ele nunca
entendeu a classe trabalhadora.
Ah Jesus...
-Não deixe Darcy te
preocupar. –ela concluiu por fim.
-Eu não vou deixar. –forcei
um sorriso.
-Ótimo. –ela pareceu me
analisar –Que acidente te deixou com essa cicatriz no queixo? –perguntou de
repente.
Essa mulher só pode estar
querendo me zoar.
-Não é uma cicatriz. –eu
falei, dessa vez sem me preocupar em ser educada.
Se ela ia querer falar do
furo do meu queixo, a coisa ia ficar feia. Eu tenho muito orgulho dele.
-Bom, nada que uma pequena
cirurgia não possa resolver. –Caroline falou com doçura.
Eu suspirei com falso pesar
e coloquei a mão no ombro de Caroline.
-Aposto que é o que você
fala todos os dias quando olha no espelho e vê suas orelhas.
As mãos de Caroline foram
parar automaticamente nas suas orelhas. Eu peguei minha pint e saí dali.
XxX
Eu ja passei por muita coisa
nessa vida, mas poucas foram tão torturantes quanto aquele jogo. Charlie devia
ser adotado, era a única explicação lógica.
As duas irmãs dele eram
insuportáveis. Paddy era um capacho da esposa e, de forma geral, não cheirava
nem fedia. Darcy era... Enfim.
Felizmente o chato
dedicou-se a não falar mais comigo. Curiosamente, Caroline dedicou-se a grudar
nele. Agora eu estava entendendo a jogada dela. Ela quer enfiar as garras em
Darcy, então estava me medindo, para ver se eu era competição, deixando claro
que não era.
Ela que ficasse a vontade.
Eu tenho dó dos filhos que esses dois teriam.
Porém tinha uma coisinha me
incomodando. Volta e meia eu sentia Darcy me observando. Ele pode não ter mais
falado comigo, mas de vez em quando eu o pegava me olhando. Toda vez que isso
acontecia, ele apenas virava a cabeça e voltava a olhar para frente, sem um
pingo de vergonha ou desconforto por ter sido pego.
Isso estava começando a me
incomodar.
Eu tenho certeza de que ele
estava procurando falhas, coisas para criticar. Aposto que mais tarde ele e Caro iam falar tudo o que tinham
observado de nós, pessoas da classe trabalhadora.
Finalmente o jogo terminou e
eu vi minha chance de sair dali. Caroline estava com Louisa no banheiro e eu
poderia vazar sem me despedir.
-Eu tenho que ir. –declarei,
ja me levantando e pegando meu casaco.
-Você tem certeza de que não
quer ficar? –Jane perguntou –Charlie e eu vamos jantar, você poderia vir junto.
Eles estavam o que? Querendo
um jantar a luz de uma vela?
-Não, obrigada. –eu falei
–Eu tenho que terminar um relatório e amanhã eu entro cedo.
-Eu te vejo em casa então.
–Jane me abraçou e então foi Charlie.
-Eu também vou. –Darcy
declarou pegando seu casaco.
Eu vi Charlie olhar de mim
para ele e eu soube, antes que ele abrisse a boca o que ia ser dito.
-Por que você não da uma
carona para Lizzie? –Charlie sugeriu.
-Não é necessário! –eu
falei.
-Claro. –Darcy respondeu ao
mesmo tempo.
Eu olhei para ele em choque.
-Eu não quero te dar
trabalho. –rebati.
-Não vai ser trabalho
nenhum. –ele respondeu daquela forma tão seca -Vamos?
O que eu podia falar pra
sair daquela situação? Nada né?
-Vamos. –eu suspirei.
Nós saímos do pub em
silêncio, andamos na rua em silêncio, até Darcy apertar a chave e um carro
piscar.
Um Audi R8, novinho,
pretinho, conversível. Que cretino.
Eu sou apaixonada por
carros, acho que herdei isso do meu pai. Porém, tenho uma paixão especial por
Lamborghini e Audi. E o R8...
Digamos que eu estava
realmente tentando me conter para não babar.
Eu me apressei para o lado
do passageiro, porque tive a impressão de que Darcy ia abrir a porta para mim.
Couro. Perfeito, lindo,
limpo... Droga, eu odeio esse homem.
Darcy entrou em silêncio do
outro lado e apertou o botão da partida. Esse carro ronrona!
-Onde? –ele quis saber.
-Notting Hill. –falei sem
olhar para ele.
-Notting Hill? –eu podia
ouvir a incredulidade na voz dele.
-Perto
de Notting Hill Gate. Quando
estivermos mais perto eu te explico melhor.
E eu me recusei a falar
mais. Darcy começou a dirigir. Nós passamos um bom tempo em silêncio. Só que,
sem trânsito, ainda levaria 30 minutos para chegar na minha casa. Eu não sei se
aguento tudo isso em silêncio completo, porque nem ligar o rádio ele ligou!
Porém dez minutos depois que
nós entramos no carro...
-Com o que você trabalha,
senhorita Bennet? –ele falou, me assustando.
-Hum... Lizzie ta ótimo. –eu
falei pra começar –Eu sou assistente numa firma de advocacia.
-Verdade? –o choque na voz
dele era mais do que um pouco ofensivo.
-Sim, verdade. –respondi sem
olha-lo.
-Que tipo de firma? –ele
insistiu.
-Negócios e empresas.
-Você pretende seguir uma
carreira nisso?
-Não, eu só estou esperando
um marido rico aparecer. –eu rebati antes que conseguisse me conter.
E voltamos a ficar em
silêncio. Talvez eu tenha exagerado de leve, mas sinceramente? Eu não ligo.
Aquele tom de descrença dele realmente me incomodou.
Quando chegamos perto de
Notting Hill Gate eu comecei a dar instruções para ele. Quando chegamos em
frente a nossa casa havia outro carro esporte parado e Lydia estava debruçado
na janela do motorista, obviamente se despedindo da presa da noite.
-Sua amiga? –Darcy
perguntou, seu tom neutro.
-Sim. –eu respondi soltando
meu cinto –Obrigada pela carona, Darcy. –então pulei do carro rapidamente,
antes que ele pudesse falar mais alguma coisa.
-Ei Lydia. –eu dei um tapa
na bunda dela, chamando sua atenção –Vamos entrar.
Ela revirou os olhos, mas se
despediu do seu cara. Então o olhar dela virou-se para o carro de Darcy, que
ainda estava parado ali.
-Uau. Que carro! Ele é rico?
Solteiro?
-Como se você ligasse para
ele ser solteiro ou não. –eu respondi.
Darcy só saiu dali depois
que nós duas entramos e fechamos a porta. Ele sabia ser levemente cavalheiro.
Quem diria?
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N/A: E por hoje é isso pessoal!
Semana que vem temos atualizações... Bom, não sei onde, mas prometo algo! hahaha
Darcy na area para quem queria saber daquela estrutura facial linda ;) hahahaha
B-jão