Capítulo 2
-De jeito nenhum.
-Caso você não se lembre,
Lizzie querida, não é opcional. –Lydia falou cruzando os braços –E mês passado
nós tivemos que aguentar aquela leitura de poesia insuportável com você. Esse
mês é minha vez de escolher!
Eu olhei para Jane, buscando
apoio moral, mas a traidora apenas deu um sorriso sem graça.
-Ela está certa, Lizzie.
–ela falou de forma macia –Não que a leitura de poesia mês passado não tenha
sido adorável...
Pobre Jane. Sempre tão doce
e preocupada com o que todas nós sentimos.
-Mas o The Regent é
ridiculamente caro. –eu choraminguei –E só tem aqueles tipos engravatados.
-Por que você acha que nós
estamos indo la? –Lydia perguntou, como se eu fosse idiota –Aquilo é uma mina
de ouro.
Eu bufei.
Nós tínhamos um acordo: uma
vez por mês todas eram obrigadas a saírem juntas para um programa de fim de
semana e cada mês era a vez de uma escolher. Esse era a vez de Lydia. Os
programas dela sempre pareciam envolver homens.
Aparentemente o da vez eram
homens engravatados.
The Regent é um desses bares
caríssimos, onde os tipos engravatados vão depois de um dia de “trabalho duro”
para pagarem 50 libras numa dose de whisky e falar de trabalho. Ele fica perto
da “Cidade”, o distrito financeiro que fica dentro de Londres.
-Eu nem tenho roupas para
entrar num lugar desses. –eu falei.
-Você não tem roupa para
nada. –Lydia falou como se fosse óbvio –Eu te empresto alguma coisa! Nós
estaremos todas disfarçadas de executivas!
Eu revirei os olhos.
-Isso é ridículo.
-Soa divertido. –Jane
ofereceu.
Jane não contava. Para ela
até as “exposições de arte” que a Mary gostava eram divertidas. Eu nunca, em
toda minha vida, ouvi Jane reclamar de qualquer coisa.
-Kitty adorou a ideia!
–Lydia insistiu –Ela até foi comprar um terninho.
-A Kitty não conta. –eu
falei –Ela concorda com tudo o que você quer. O que a Mary disse?
-A Mary nunca concorda com
nenhuma de nós! –Lydia protestou.
-Isso é porque todas vocês
tem gostos vulgares, que são apenas reflexos da...
-Ta, Mary, que seja. –Lydia
cortou.
Mary bufou de sua posição no
sofá.
-The Regent, amanhã, depois
do expediente. –Lydia falou com ar de finalidade –Sem desculpas. E Lizzie, vista
algo decente!
XxX
-De jeito nenhum!
-Lydia, qual é! –eu bufei
impaciente –Eu estou aqui, da pra gente ir?
-De jeito nenhum! –a voz
dela estava atingindo um tom esganiçado bem singular –Você não vai a lugar
algum comigo vestida assim!
-Ótimo, eu vou pra casa
então. –eu declarei, mas Jane arruinou minha saída me segurando pelo braço.
Todas nós tínhamos combinado
de nos encontrar na saída do escritório onde Jane trabalhava. Kitty e Lydia
estavam realmente fantasiadas (verdadeiramente, não havia palavra que definisse
melhor) de executivas, embora nenhum escritório fosse permitir que Lydia
trabalhasse com uma saia daquele tamanho.
Até a Mary tinha se
esforçado (para os parâmetros de Mary), mas eu não entendia o que tinha de
errado com a minha roupa.
-Ja não basta você estar
usando uma calça marrom com uma blusa bege, você ainda tem a
pachorra de estar de sapatilha e rabo de
cavalo!
Sinceramente, Lydia estava
fazendo dessa conversa toda um drama desnecessário, como se eu tivesse
escolhido me vestir assim para irrita-la. Eu juro que não é o caso.
Dessa vez.
-Eu estive trabalhando o dia
inteiro, Lydia. –eu retruquei –Não sei se você está familiarizada com o
conceito, mas não da pra fazer isso de salto.
-Jane trabalha de salto!
–Kitty indicou.
-Jane não conta, porque ela
é perfeita.
Todas nós olhamos para Jane.
Ela tinha esse olhar adorável de confusão. Sinceramente, se ela não fosse um
pessoa tão incrivelmente boa eu a odiaria por princípio. Ela é simplesmente
linda, do tipo de mulher que devia ser Angel da Victoria Secrets, e parece que
nem precisa se esforçar para isso! É como se Jane acordasse perfeita todos os
dias, com seus cintilantes olhos verdes, sua pele de chocolate e seus lindos
cachos. Como previamente dito, se ela não fosse tão maravilhosa eu seria
obrigada a odia-la.
Agora ela estava ali parada,
usando um vestido branco e humilhando todo o resto da humanidade só por
existir.
-Meu ponto é... –Lydia falou
respirando fundo, como se eu estivesse testando a paciência dela de propósito
–Você poderia ter se esforçado mais.
Quando eu escuto esse tipo
de besteira vindo de alguem, um discurso inteiro sobre liberdade de escolha
feminina se forma na minha cabeça e minha vontade é chacoalhar dito alguem até
bom senso entrar na cabeça dele.
Jane foi mais rápida e
esperta dessa vez.
-Eu tenho a solução aqui.
–ela mostrou uma sacola que estivera carregando desde hoje de manhã.
De lá ela tirou um par de
scarpins azul turquesa altissimos, que eu sei muito bem que são dela, e me
entregou.
-Resolvido. –declarou
satisfeita.
Eu bufei, mas eu sei quando
perdi. Coloquei os sapatos de forma obediente e coloquei minhas sapatilhas na
sacola de Jane.
-Eu tenho uma coisa aqui que
pode ajudar... –Mary resmungou remexendo na própria bolsa –Aqui!
Era um lenço de seda
predonimantemente azul turquesa, mas que tinha alguns detalhes em marrom e
dourado.
Eu estreitei os olhos.
-Se eu não conhecesse vocês
melhor, eu diria que isso foi armação.
As meninas apenas sorriram
para mim. Eu amarrei o lenço em volta do meu pescoço e nós finalmente pudemos
ir.
The Regent era um bar como
outro qualquer, na minha opinião. Era ridículo o que eles cobravam por um drink
la dentro só porque a maioria dos clientes deles usavam gravatas.
A vantagem de andar com uma
mulher do calibre da Jane é que as portas se abrem, literalmente. Claro, não
vou desvalorizar Lydia. Apesar de ser pentelha e sempre beirar no lado piriguete
de ser, ela é bonita. Nós dificilmente esperamos por mesas ou em filas.
Nós fomos levadas para uma mesa. Era o vestido branco de Jane, eu
tenho certeza. Um garçom veio pegar nossos pedidos e estava anotando o meu
(appletini, ta no inferno abraça o capeta), quando Lydia puxou o elástico do
meu cabelo.
-Lydia!
-Tarde demais, ja era! –ela
falou arremessando o elástico pra longe.
-Você acha que, depois de um
dia inteiro preso, meu cabelo vai ficar decente solto? –eu perguntei irritada.
-Qualquer coisa é melhor que
esse rabo de cavalo. –Lydia falou sem um pingo de vergonha na cara.
O garçom afastou-se sorrindo
da situação. Isso era normal para nós.
-Quem é aquele? –Jane falou
de repente.
Eu me virei para acompanhar
o olhar dela. Pode contar com Jane para entrar num bar e encontrar algum cara
lindo dentro de dois minutos.
Esse era mesmo uma graça,
como seus cabelos loiros curtos, olhos azuis e barba por fazer. Quando eu me
virei para olhar, ele estava olhando para Jane e corou ao se ver observado.
Que... Juvenil.
-Ele é mesmo uma graça. –eu admiti
–Mas é praticamente impossível saber quem ele é, Jane.
-Não se você conhecer as
pessoas certas. –Lydia falou, então olhou para Kitty –Ao trabalho.
A outra garota concordou e
as duas se levantaram.
Dez minutos depois elas
estavam de volta e o Senhor Olhos Azuis ainda não tinha parado de olhar para
Jane.
-O nome dele é Charles
Bingley. –Kitty informou –Ele é diretor da Netherfield, uma empresa de
computador ou coisa do tipo. Ele é o futuro CEO, porque a empresa é de família
e o papai dele que é dono no momento. Ele vem aqui quase sempre e hoje ele está
com as irmãs e alguns amigos celebrando um negócio que deu certo.
-Como você conseguiu
descobrir tudo isso em dez minutos? –Mary perguntou chocada.
-Twitter, Facebook e
Instagram. –Kitty falou como se fosse óbvio.
-Ele é podre de rico, Jane.
Investe. –Lydia falou.
Jane revirou os olhos, mas
logo voltou a olhar para o rapaz. Eu bufei.
-Vamos dar a chance ao
mocinho de te conhecer. –eu disse me levantando –Vamos fazer de conta que vamos
retocar nossas maquiagens.
Jane riu sem graça, mas
aceitou a sugestão.
Nós fomos ao banheiro, Jane
retocou sua maquiagem e eu chequei minhas mensagens, então nós saímos.
E bingo, nosso caro Charles
estava tentando parecer casual inclinado no bar. Assim que ele nos avistou um
sorriso enorme apareceu no rosto dele e ele veio a nosso encontro.
-Oi. –ele falou, olhos fixos
em Jane –Charles Bingley. –ofereceu a mão para ela.
-Jane Benett.
E daí eles tiveram um
momento meio comédia romântica, em que o Bingley ainda não tinha largado a mão dela
e os dois estavam sorrindo como idiotas um para o outro.
Eu estava considerando sair
dali de fininho, quando a Jane lembrou-se de mim.
-Essa é minha amiga
Elizabeth Bennet. –ela falou.
-Parentes? –Charles perguntou
curioso, apertando minha mão.
-Grande coincidência na
verdade. –eu falei para ele –A Lydia está me procurando. Licença.
E abandonei a Jane, porque
ela sabe se virar e o nível de açúcar tava ficando meio excessivo para essa
hora da tarde.
Já que eu estava de pé
resolvi pegar uma pint no bar. Appletinis eram finos e tal, mas não eram do meu
gosto.
-Uma Guiness. –eu pedi ao
bartender.
-E para você, boneca?
Eu acompanhei o olhar dele e
vi que havia uma garota ao meu lado que eu não percebera antes. Ela parecia ter
17 anos, mas não devia ter, já que do contrário, não estaria la dentro.
-Um martini, por favor. –ela
pediu, sua voz tímida e baixa –Com muitas azeitonas.
O bartender piscou para ela.
Então o olhar dela caiu em mim.
-Sou só eu que quero fugir
daqui? –ela soltou com uma risada sem graça.
-Não. –eu falei sem hesitar
–Por que você não vai?
-Eu estou aqui com amigos e
meu irmão. –ela falou com um sorriso sem graça –Eu não posso ir embora. Por que
você não vai?
Ela tinha olhos verdes
enormes e uma cara de boneca. Na minha opinião era a franja caída na testa que
a fazia parecer tão jovem, mas ela era muito bonita.
-Tradição de amigas, eu sou
obrigada a ficar. –eu falei de forma resumida –Mas você... Tem a chave da sua
casa?
-Sim. –ela respondeu confusa
pela pergunta.
-Dinheiro para o táxi?
-Sim. –ela falou com um
pequeno sorriso.
-Corra por sua vida. Manda
uma mensagem pro seu irmão quando chegar em casa.
Ela parecia indecisa, mas
tentada.
-Aqui estão as bebidas,
meninas. –o bartender voltou.
Eu fui pegar o meu dinheiro,
mas minha nova amiga se adiantou, entregando um cartão.
-Eu pago como agradecimento.
–ela falou, tirando o palito com três azeitonas de sua bebida e levando-o a
boca –Você me salvou de muita culpa e muito sofrimento desnecessário.
Ah, ela era uma dessas que
tentava agradar a todos, menos a si mesma.
-Sempre um prazer. –eu falei
levatando minha pint –Obrigada pela bebida.
Ela deu uma golada rápida em
seu drink.
-Eu vou fugir antes que me
achem. Obrigada de novo.
Eu acenei e vi minha nova
amiga indo embora. Que inveja.
Pelo menos eu fiz minha boa
ação do dia.
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N/A: E aí está! Espero que vocês gostem de mais esse pedacinho! Semana que vem teremos "O Contato"!!
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B-jão