Capítulo 3: Começar de Novo
Cinco anos atrás, uma semana antes de começar as aulas e duas antes do seu aniversário de 13 anos, Mikaela Callie Danvers foi mandada, junto com Francine Mary Simms, Bionda Morgan Parry e Evangeline Lily Reid, para a Inglaterra. A explicação? Bom, elas mereciam.
Não precisou de muito para Mikaela entender que aquilo era um tipo de castigo, punição por ela também ter o Poder. Os homens do Pacto odiavam as mulheres. Eles achavam que só porque elas não envelheciam tinham mais sorte. Mas como a família sempre foi machista eles tinham o poder de se livrar delas e não havia nada que elas pudessem fazer.
Então quando o pai de Mikaela a levou até o aeroporto, junto com as outras, ela sequer olhou para trás. Ela não queria a vida que ela estava deixando para trás. Ela não queria o irmão que não tinha se despedido dela, a mãe que não a defendeu, muito menos o pai, cego de tão viciado no próprio Poder.
Falar que foi fácil seria mentir. Elas foram mandadas para um internato no interior da Inglaterra para o qual todas as mulheres da família eram mandadas e de onde elas nunca voltavam. A não ser para o funeral de seus pais.
Lá elas conheceram outras mulheres da família, para a sua total surpresa. E algo ainda mais impressionante aconteceu: elas aprenderam a realmente usar o Poder. E elas eram ótimas nisso...
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A garota loira levantou-se da cama, enxugando os olhos molhados de lágrimas, em direção a porta do seu dormitório, onde alguém batia. Parecia que chorar era tudo o que ela fazia ultimamente.
Ela olhou para a amiga, deitada na cama. Kate não estava muito melhor que ela. Ela andava dormindo a base de calmantes. Isso não devia ser muito saudável...
Ela abriu a porta e deparou-se com duas garotas de olhos incrivelmente azuis, que ela nunca tinha visto na vida.
-Posso ajudar? –Sarah perguntou insegura.
-Kate Tunney? –a loira perguntou.
-Não. –Sarah respondeu mais tranqüila –Essa é minha colega de quarto. Quer deixar um recado?
-Você é a Sarah então? –a morena perguntou.
-Sou sim. -ela falou, já desconfiada –Algum problema?
-Na verdade não. –a loira deu de ombros –Você acaba de simplificar nosso trabalho.
Nisso os olhos dela ficaram completamente negros. Sarah já tinha visto isso antes. Mas antes que ela tivesse a chance de gritar tudo ficou negro e a mente dela foi para longe.
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-Vir aqui uma semana depois do ocorrido não vai adiantar nada. –Bionda observou.
Mikaela suspirou.
-Eu sei que traços do Poder não duram tanto, mas nós temos que tentar. Alguma coisa tem que ter. –ela falou olhando em volta.
Elas estavam no velho celeiro. Ou pelo menos o que restava dele. O fogo havia consumido a maior parte. Alguns pedaços de madeira ainda estavam jogados aqui e ali, mas no geral não havia nada além de mato e lama.
-Ok, vamos tentar assim: o que houve aqui? –Bionda falou.
Mikaela fechou os olhos, deixando as memórias de Caleb referentes ao dia invadirem sua mente.
Ela podia ver com clareza tudo o que acontecera. A discussão, a luta, a ascensão. Sentiu o Poder do pai invadir o irmão, viu o desfecho da luta...
-Essa foi a trajetória do corpo de Chase. –ela falou abrindo os olhos, traçando um caminho com a mão –O Poder se chocando contra ele não o matou na hora. Jogou-o contra o celeiro e foi quando tudo explodiu e se incendiou.
-Hum... –Bionda olhou em volta pensativa –Então a magia desapareceu e todos que estavam sob o efeito dela foram liberados...
-Isso não significa exatamente que ele morreu. –Mikaela lembrou.
-É, não...
As duas caminharam até mais perto das ruínas do celeiro e olharam em volta.
Os olhos de Mikaela ficaram negros e ela retirou um dos pedaços de madeira da frente.
-Achamos. –Bionda concluiu.
-Putman Junior não está morto. –Mikaela concluiu –Chame as meninas de volta para minha casa.
Bionda fez que sim com a cabeça, os olhos nunca deixando o pedaço de terra completamente negro diante de si.
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Caleb olhou nervosamente para Francine e Evangeline que conversavam banalidades perto da janela. Elas tinham voltado a pouco tempo e agora estavam esperando pelo retorno de Mikaela e Bionda.
As duas haviam dito que Mikaela tinha notícias urgentes para dar. Mas Caleb não conseguiram convencer Pogue a voltar. Ele sabia que o amigo precisava de um tempo, mas esse talvez não fosse o momento.
Reid e Tyler também estavam estranhamente quietos. Reid olhava as duas garotas como se elas fossem avançar neles a qualquer momento, sem aviso prévio. Tyler olhava para Francine como se quisesse puxá-la para ir brincar no parquinho.
-Como foi? –Caleb perguntou de repente, atraindo a atenção de todos para ele –Como foi com Sarah e Kate?
-Tudo bem. –Evangeline falou dando de ombros –As duas só lembram de que vocês foram colegas de sala, mas não vão se lembrar de já terem sequer falado com vocês.
-E não se preocupem. –Francine falou, também tranqüila –Isso não vai afetá-las ou prejudicá-las de forma alguma.
-Mesmo porque o Pogue está melhor sem aquela garota. –Evangeline deu de ombros, pregando um cigarro –Ela chifrou ele. Com o Collins.
Três pares de olhos incrédulos foram parar nas duas.
-Não sei porque vocês estão tão surpresos. –a loira deu de ombros –Quer dizer, ele colocou um feitiço de criação nela.
-E? –Reid perguntou confuso.
-Os feitiços de criação mais fortes e poderosos são colocados durante o sexo. –Francine explicou.
-Mas ele... –Caleb engoliu em seco –Forçou ela?
Evangeline começou a rir.
-Forçar? –ela repetiu, ainda rindo muito –Ela praticamente implorou para ele dormir com ela.
Francine revirou os olhos.
-Evy, isso não é nada legal. –ela falou, como se estivesse dando bronca em uma criancinha.
-Que seja. –a loira falou revirando os olhos.
-A Evangeline não é sensível a nada. –ela explicou para os meninos –Foi o que o uso excessivo tirou dela primeiro.
-Então é verdade? –Tyler falou –Vocês perdem os sentimentos?
-É, ou a maior parte deles. –Francine deu de ombros.
-O que você perdeu? –Reid perguntou curioso.
-Eu não sinto piedade de nada. –Francine explicou –Se eu tivesse que matar uma pessoa e ela ajoelhasse na minha frente e implorasse as lagrimas não surtiria efeito nenhum em mim.
-O mesmo serve pros namorados dela. –Evangeline comentou tranqüila.
Francine ignorou a loira.
-E como era a vida na Inglaterra? –Tyler perguntou, tentando puxar um assunto.
-Normal. Nós estudávamos num dos internatos mais isolados da civilização, mas até que dava pra se divertir. –Francine explicou.
-É, a gente roubava o carro da diretora e ia pra cidade mais próxima todo fim de semana. –Evangeline contou com um sorriso maldoso.
-Isso sim deve ser da hora. –Reid falou, um brilho maldoso dançando em seus olhos.
-Você nem imagina o quanto. –Evangeline trocou um sorriso travesso com o irmão.
Foi então que eles pareceram perceber o que estavam fazendo e todos se calaram.
-Como foi? –Mikaela perguntou, materializando-se de repente no meio da sala, fazendo todos pularem de susto.
-Mikaela, que inferno! –Evangeline falou incomodada –Odeio quando você faz isso!
-Como foi? –ela insistiu ignorando a reclamação.
-Tudo bem. –Francine informou –Elas não contaram pra ninguém e agora não lembram de mais nada.
-Ótimo. –Mikaela falou satisfeito –Como elas não lembram de vocês talvez elas flertem com vocês de novo. Não dêem bola. Já é fato que elas não podem fazer parte dessa família.
Caleb assentiu em silêncio.
-O que vocês acharam no celeiro? –Evangeline quis saber.
-Chase Collins está vivo. –Bionda falou tranqüila, colocando um cigarro na boca.
Os meninos mais uma vez lançaram olhares de total surpresa para elas.
-Vocês têm certeza? –Tyler perguntou em choque.
-Absoluta. –Mikaela respondeu tranqüila –O lugar onde o corpo dele deveria estar tem terra negra.
-Sinal de magia poderosa e perigosa ter sido utilizada. –Bionda explicou –Ele no mínimo usou toda a força que tinha restante para se transportar para longe dali.
-Dessa forma ele não conseguiu mais manter os feitiços, criando a ilusão de que ele tinha simplesmente sumido. –Mikaela concluiu –Ele ainda deve estar muito debilitado, por isso não voltou. Por mais que ele tenha Poder, foi uma luta quase mortal. Até ele precisa se recuperar depois disso.
-Então isso quer dizer que ele está a ponto de voltar? –Caleb perguntou, cansaço evidente em sua voz.
-Sim. Eu não acho que ele vai esperar muito tempo. –Bionda opinou –Se ele deixar outro de vocês ascender ele não vai ser páreo para vocês e ele deve saber.
-Então ou ele virá agora, ou ele virá para pegar o próximo a ascender. –Francine concluiu.
-Pogue. –os meninos falaram juntos.
-Exatamente. –Bionda confirmou –Em duas semanas será aniversário dele e a ascensão também.
-Nós temos que ficar de olho em Pogue. –Mikaela decidiu.
-Você só está esquecendo de uma coisa, Pequena Danvers. –Reid falou irônico.
Mikaela arqueou a sobrancelha.
-Que seria?
-Pogue não vai querer vocês por perto nem que a vida dele esteja dependendo disso. –Reid explicou tranqüilo.
-Ele não tem escolha. –Francine falou –É nosso dever cuidar dessa situação e problema dele se ele não quer. Se algo acontecer a vocês embaixo do nosso nariz nós seremos responsabilizadas.
-O que isso quer dizer? –Caleb perguntou confuso.
-Meu deus, eles não contam as coisas para os homens dessa família? –Evangeline perguntou entediada.
-Eles só são informados desses detalhes quando apenas um dos primogênitos da geração anterior ainda vive. –Bionda lembrou –Como três ainda estão vivos eles ainda não sabem.
-Sabem o que? –Reid perguntou impaciente.
-Que é nossa função tomar conta de vocês. –Mikaela esclareceu.
-Como assim? –Tyler perguntou em choque.
-Vocês não podem usar o Poder tão livremente. –Evangeline lembrou –Além de ser viciante causa a deterioração do corpo.
-Mas nós não temos problema em usar, porque nosso corpo não é prejudicado. –Francine completou.
-Então nós cuidamos da roupa suja. –Mikaela concluiu.
-Mas o Poder afeta vocês também! –Tyler debateu –E vai dizer que vocês não se viciam?
-Claro que viciamos. –Bionda deu de ombros –Mas os danos são menores.
-Vocês acham pouco ficar sem sentimentos? –Tyler perguntou em choque.
-Comparado com perder a vida acho sim. –Mikaela respondeu fria.
-OK, chega. –Caleb pediu cansado –Vamos deixar assim por hoje. É melhor todos descansarmos, afinal amanhã é o funeral.
-Ah é. Ainda tem isso... –Evangeline comentou entediada.
-É melhor nós irmos indo, então. –Francine falou –A gente ainda precisa achar um hotel.
-Vocês vão ficar aqui por hoje. –Caleb falou, chamando a atenção de todos para si –Amanhã as famílias de vocês decidirão o que fazer, mas por hoje vocês são nossas convidadas. Já tem um quarto arrumado para cada uma de vocês, lá em cima.
-Beleza, então. –Evangeline falou espreguiçando-se –Acho melhor a gente tombar mesmo.
-Com certeza. –Mikaela decidiu –Amanhã depois do enterro nós iremos procurar pistas desse Chase.
-Então... –Tyler começou sem jeito –Boa noite, meninas. –ele falou.
Reid revirou os olhos.
-Vira homem, Bebê. –ele falou irônico –Tchau pra quem fica.
Com isso os dois saíram da sala, deixando Caleb e as meninas olhando um para a cara do outro.
-Por aqui. –ele falou dando as costas para elas e se dirigindo as escadas que levavam até o andar superior da casa.
Eles seguiram em silêncio pelos corredores parcialmente escuros da casa. Mikaela sempre se lembrava daquela casa como algo um tanto assustador e sua memória não a decepcionara: aquela casa ainda lhe dava medo. Talvez sem o pai ali fosse muito melhor.
Caleb indicou os quartos de hóspede as três outras garotas e então seguiu com a irmã até o quarto dela.
-Achei que ele teria botado fogo no quarto assim que eu tivesse cruzado a porta. –Mikaela comentou irônica quando os dois pararam diante do quarto que um dia havia sido o dela.
-Ele até que quis. –Caleb admitiu –A nossa mãe não deixou.
Mikaela abriu a porta e deparou-se com seu quarto do exato jeito que ela deixara há cinco anos atrás. A coleção de bonecas de porcelana ainda ali, a casinha de dois andares com móveis feitos a mão, pôsteres de Aaron Carter e de Avril Lavigne cobriam algumas outras paredes. Mas tudo isso estava coberto de pó. A única coisa perfeitamente impecável era a cama que devia ter sido recentemente arrumada.
-Não deu tempo de limpar o quarto. –Caleb falou –Mas com certeza amanhã...
Os olhos de Mikaela ficaram negros e todo o pó levantou-se e desapareceu no ar.
-Ou você pode usar o Poder e limpá-lo agora. –Caleb concluiu.
-Obrigada, Caleb. –ela falou sem encará-lo.
-De nada. –ele falou, antes de deixar o quarto.
Mikaela suspirou e fechou a porta. A caminho da cama ela tirou os pôsteres da parede e jogou-os no cesto de lixo próximo a escrivaninha. Ela sentou-se na cama e suspirou.
-Lar, doce lar. –ela falou para si mesmo, sarcástica.
Não que Mikaela nunca tivesse sido feliz naquela casa. Ela tivera seus momentos e houve uma época em que elas e os meninos eram todos amigos. Quando ela e Caleb eram unidos, onde Pogue roubava as bonecas de Francine para fazê-la chorar, até que Reid vinha brigar com ele para que ele as devolvesse. Quando Evangeline e Bionda insistiam com Tyler até que ele aceitasse ser o príncipe das duas.
Mas essa época estava perdida. E ela tinha saudade desses momentos. Dos poucos dias de sol, dos sorrisos, dos sorvetes...
Mikaela suspirou mais uma vez. Outra vez seus olhos se tornaram negros e uma mala apareceu na cama. Ela abiu o zíper e tirou de lá um vestido negro. O vestido que ela usaria amanhã no enterro do cretino do seu pai.
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N/A: Ai está o capítulo!!! Comentem, por favor!
Amanhã eu passo na MIB pra postar!
B-jão
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