Capítulo 5
Embora Jane fosse de longe minha
melhor amiga, eu tinha uma ótima companheira no trabalho: Charlotte Lucas. Nós
começamos a trabalhar exatamente no mesmo dia, tendo passado por uma rígida
seleção e ficamos amigas rapidamente.
Charlotte tinha uma mente
rápida e estava sempre pronta para falar o que realmente pensava. A companhia
dela era sempre agradável e sempre ríamos juntas.
Só tinha um probleminha com
Charlotte: o noivo dela, Timothy Collins.
Timothy (que não aceitava
ser chamado de Tim e preferia ser chamado de senhor Collins) trabalhava na
DeBourgh & Associados. Esse é o maior escritório de advocacia do Reino
Unido, com filiais em diversos lugares. Por acaso a filial deles de Londres
fica no mesmo prédio em que o escritório que nós trabalhamos.
Collins não era um homem
brilhante ou bonito, embora também não fosse estúpido e horrendo. Tinha algo de
pedante nele, no jeito de falar e tratar os demais.
Talvez meu maior problema
com ele fosse o fato de que, quando nós nos conhecemos, ele deu em cima de
Jane. Foi num bar onde a maioria das pessoas do nosso escritório vai, por ser
próximo. Jane estava la comigo e Charlotte, quando esse ser se aproximou.
Eu odiei o jeito que ele
simplesmente se sentou na nossa mesa e ficava tocando na Jane o tempo todo. Nós
acabamos indo embora mais cedo por causa dele.
Então, por pura perseguição
do destino, ele descobriu que nós trabalhávamos no mesmo prédio. Dai ele
começou a me perseguir, ja que Jane não estava por la.
Foi péssimo, eu tinha que me
esconder desse homem. Tudo o que ele sabia falar era da tal Catherine De
Bourgh, a chefe dele e blá blá blá... O jeito que ele falava me irritava, o
jeito que ele respirava me irritava.
Eu estava pronta para usar
spray de pimenta nele, quando ele veio com uma conversa de sairmos e eu me
recusei de todos os jeitos. O animal teve a pachorra de falar que eu estava
falando “não” para me fazer de difícil!
Eu joguei meu café na cara
dele por essa.
E então, como se nada
tivesse acontecido, Charlotte começou a
sair com isso!
Foi de repente, eu nem
fiquei sabendo até ja fazer um mês que acontecia e os dois estarem a sério. Eu
cheguei a brigar com ela na época, porque não entendia o que ela tinha na
cabeça.
Porém, Collins trata
Charlotte como uma deusa e eu não queria ficar brigada com ela por isso. Enfim,
eu meio que aceitei.
Agora os dois vão casar.
Jesus amado...
Enfim, esquecendo do Collins
e voltando para Charlotte.
Nós almoçamos juntas quase
todos os dias, um ótimo jeito de botar a fofoca em dia.
-Aquele idiota, arrogante...
-Sério, Lizzie, ja deu.
–Charlotte rolou os olhos –Ele é um homem terrível, pobre de você... Vamos
falar de Charlie e Jane.
Eu lancei um olhar para ela,
mas acabei sorrindo.
-Eles são perfeitos juntos.
Chega a ser assustador.
-Como Jane está levando a
coisa toda?
-Devagar. –eu falei –Jane
sabe que tem mania de se apaixonar demais, cedo demais, então ela está
segurando um pouco.
Charlotte fez uma cara
confusa.
-O que você quer dizer com
“segurando”?
-Segurando, oras. –eu bufei
–Indo com calma, passinhos pequenos...
-Espero que não sejam
pequenos demais. –Charlotte falou –O tal Bingley vai precisar de algum
encorajamento, saber que a Jane está interessada.
-Ele seria uma anta se não
percebesse. –eu rebati.
-Você sabe porque conhece a
Jane, ele não conhece. –Charlotte argumentou –Eu só estou dizendo, talvez a
Jane não devesse estar indo tão devagar assim.
Charlotte estava errada. Eu
tinha certeza disso.
XxX
Teria sido uma bênção se
Jane e Charlie pudessem ter se casado e tido três filhos antes que ele
conhecesse Mary, Kitty e Lydia.
Infelizmente, no mundo real,
isso não era possível.
Eventualmente todos iam ter
que se encontrar.
Eventualmente chegou uma
noite, quase um mês depois que Jane e Charlie começaram a sair. Aparentemente
Bingley resolvera fechar um camarote numa balada (sabem os deuses porque) e
fomos todas convidas.
E era a vez da Jane escolher
o que iríamos fazer, logo... Não tivemos muita escolha.
Charlie tinha escolhido uma
boate super chique para irmos. Lydia e Kitty tinham feito compras especialmente
para a ocasião. Até eu admito que me preocupei um pouco mais que o normal
aquele dia. Não é sempre que eu tenho chance de me vestir de mocinha e me
divertir. Tinha até checado o DJ e sabia que ia ser um cara sensacional.
Ja que eu tinha que ir, ia
me divertir a qualquer custo. Eu estava mais que um pouco resolvida a me
divertir.
Porém, a primeira surpresa
da noite ja começou com Jane: aparecendo de cabelos sedosos e lisos. Não me
entendam mal: ela estava linda, Jane dificilmente não está. Só que ela sempre
foi uma defensora de seus cachos, cuida deles super bem e fica divina neles.
-Cade os cachinhos? –eu
perguntei.
-A Caroline sugeriu. –ela
falou passando a mão pelos fios lisos –Ela disse que queria ver como eu ficava
assim.
Ah não, aquela broaca não
tinha!
-Você sabe que fica linda de
qualquer jeito, Jane, mas eu sempre amei seus cachos.
-É só por hoje. –ela me
garantiu –E você? Esse vestido não é da Lydia?
-Kitty, na verdade. –eu
passei a mão pelo tecido roxo –É a coisa mais longa que ela tem.
E vinha na metade da minha
coxa.
-Você está linda. –Jane
sorriu para mim, como uma mãe orgulhosa –Pronta para irmos?
-Mais do que isso eu não
fico. –falei com falsa animação –Onde estão as outras?
-Aqui, piriguetes. –Lydia
entrou na sala, uma garrafa de vodka na mão –Vamos aquecer que la fora ta frio.
-Você vai sair daqui bêbada?
–Mary perguntou bufando.
-Mais barato ficar bêbada
aqui do que lá. –Lydia informou sem um pingo de vergonha.
-Charlie vai pagar por tudo.
–Jane falou.
Lydia largou a garrafa na
hora.
-Melhor guardar espaço
então.
Deus, alguem me salve dessa
noite.
XxX
A balada que Charlie
escolhera para mostrar como era rico chamava-se NightCrawler e era uma daquelas
alternativas mega estranhas, super caras e que todo mundo que era alguém
visitava.
O segurança nos avistou na
fila e fez sinal para nos aproximarmos, mesmo com as reclamações de todo o
resto. Como eu disse, andar com mulheres bonitas ajuda muita.
-Vocês querem entrar? –ele
quis saber.
-Na verdade nós estamos na
lista. –Jane informou.
O segurança confirmou a
informação e nos deixou passar. Dentro do prédio a coisa era selvagem. Mulheres
de biquini dançando em jaulas, muito neon, música alta e gente pulando.
Eu estava sem palavras.
-O camarote é no andar de
cima. –Jane gritou para nós, tentando fazer-se ouvir por sobre a música.
No camarote havia alguns
colegas de trabalho de Charlie, pessoas que eu nem tinha ideia de quem eram. As
adoráveis irmãs dele estavam la e as duas mediram Mary, Kitty e Lydia de cima
em baixo quando foram apresentadas.
-Eliza querida!
–aparentemente Caroline não desistira de ser falsa –Ruiva e de roxo? Que
escolha... Ousada.
Eu sorri docemente.
-E você de cabelo solto!
Ajuda a disfarçar as orelhas, boa escolha.
Caroline comprimiu os lábios
e tentou me matar via olhar. Não deu certo.
-Suas amigas são adoráveis.
–Louisa, que obviamente estudou na mesma escola de víbora de Caroline, falou
falsamente.
-Eu sei. –eu comentei.
Chega dessas duas, eu estou
descendo.
Acho que fiquei quase uma
hora no piso inferior da balada sem topar com ninguém. Eu era boa assim em me
esconder. Fiz amizade com uma louca no andar de baixo que me pagou uma bebida e
achei um cara para conversar.
-Você é bonita demais para
estar sozinha.
Eu revirei os olhos.
-Sério mesmo que você vai
vir com esse papinho furado para cima de mim?
Ele riu sem um pingo de
arrependimento.
-Ta, desculpa. Não pude
resistir. –ele falou.
-Percebe-se.
-Pelo menos me diz seu nome.
–ele pediu.
Normalmente eu não gosto de
ficar de papo em balada, porque é duro de ouvir o outro, você tem que ficar
gritando... Mas havia algo no sorriso e nos olhos dele que fazia querer falar.
-Lizzie. –eu respondi.
-Eu sou o George. –ele falou
oferecendo a mão para um aperto –Se eu pedir seu número você vai rosnar para
mim?
-Depende. Você vai me ligar?
–eu retruquei apertando a mão dele.
-Prometo.
Eu revirei meus olhos de
novo, mas acabei passando meu número para ele.
-Acho que seus amigos estão
te chamando. –eu falei, indicando o grupo de pessoas com quem ele estivera
falando antes de vir falar comigo.
-Eles querem ir para outra
balada. –ele informou –Como hoje é a despedida de solteiro do Bart eu tenho que
ir... Mas eu te ligo.
-Sei. –eu falei.
-Ligo mesmo. –ele prometeu
se afastando –Prazer em te conhecer, Lizzie.
-O prazer foi todo meu,
George.
E foi mesmo.
XxX
Muitas pessoas subestimam
Kitty com frequência. Eles acham que ela é cabeça de vento e só faz o que Lydia
manda. A última parte até que é verdade, mas o que ninguem leva em conta é que
Kitty é uma ótima amiga e que defende todas nós a unhas e dentes.
-Aquela Caroline é uma vaca.
–Kitty declarou sentando-se do meu lado no bar.
-O que aconteceu? –eu
perguntei na hora.
-Ela veio com uma conversa
furada de como a Jane era linda e “exótica” e se ela era de “ascêndencia
mista”. –ela falou fazendo os sinais de aspas com os dedos.
-Eu não acredito!
-Nem me fale! –ela bufou –Eu
fingi que não entendi, daí ela falou que era porque a Jane tinha lindos olhos
verdes, mas uma pele tão... Morena. –era óbvio que ela estava imitando o jeito
nojento de Caroline –Eu continuei fingindo que não estava entendendo, daí ela
me perguntou se um dos pais de Jane talvez não fosse inglês.
-O que você disse?
-Que tanto o pai quanto a
mãe da Jane são ingleses, o que é a verdade. –Kitty falou –Daí ela mudou de
assunto. Acho que no fim não teve a coragem de me perguntar o que realmente
queria saber.
Eu estava sentindo desde o
começo que a Caroline tinha um problema com a cor da pele de Jane. Agora ela só
estava provando que era verdade.
-Você acha que eu deveria
contar para a Jane? –Kitty perguntou preocupada.
-Não. –eu decidi –Charlie
gosta dela e é o que importa. Nós vamos ficar de olho na Caroline e falar com
Mary e Lydia. Qualquer coisa a gente acaba com aquela loira aguada.
-Ei!
-Opa, desculpa. –eu sorri de
leve, passando a mão pelo cabelo loiro de Kitty –Você entendeu o que eu quis
dizer.
-Pode deixar.
Kitty acabou falando que ia
procurar por Lydia e saindo dali. Eu decidi que era hora de ficar de olho em
Caroline e Louisa e voltar para o camarote.
A escada para o camarote era
uma daquelas assassinas: vazada e mega lisa. Eu estava subindo olhando para os
meus pés e agarrada ao corrimão porque estava com medo de descer rolando a
qualquer segundo. Justamente por estar olhando para baixo eu topei com um par
de sapatos super lustrados que estava vindo na direção oposta e tinham
resolvido bloquear meu caminho.
Eu levantei a cabeça e dei
de cara com Darcy me olhando como se eu tivesse duas cabeças. Totalmente
injusto ele parar num degrau acima. O imbecil ja era bem mais alto que eu
naturalmente.
-Lizzie. –ele soltou,
parecendo chocado.
-Darcy. –eu fiquei olhando
para ele –Posso passar? –perguntei impaciente, quando ficou claro que ele não
ia sair do caminho.
-Claro. –ele apressou-se
para me dar passagem.
-Obrigada. –eu soltei irônica,
passando por ele e terminando de subir os degraus.
Sabe aquela sensação de que
você está sendo observada? Pois é. Eu estava com ela, por isso me virei para
olhar para Darcy de novo.
Ele estava parado no mesmo
lugar e ao me ver virando ele... Corou?
Espera aí! Darcy estava
secando minha bunda?
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N/A: Por hoje é isso amiguinhos!
O rostinho da vez é o da Lydia, nossa amada pirigute!
Espero que tenham curtido!
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B-jão