sábado, 4 de junho de 2016

Primeiras Impressões - Capítulos 15/16


Capítulo 15

As coisa foram voltando ao normal pela casa pouco a pouco. Bem devagar, mas foram. Obviamente nós não íamos ficar todas sofrendo para todo o sempre. Dor de cotovelo é legal e é necessário curtir um fundo de poço de vez em quando, mas o importante é saber que tem que continuar.

Então nós estávamos continuando.

Mary tinha acabado de ser chamada para seu primeiro projeto grande na agência de propaganda que trabalhava, Jane tinha virado a queridinha de sua chefe, Kitty tinha sido chamada para ajudar em um projeto importante e até Lydia estava namorando algum boy ai que ela não queria nomear.

Todas estavam indo bem e a coisa toda com Darcy e Bingley virou meio que uma memória.

Eu também estava indo muito bem, obrigada por perguntar. Um processo gigantesco brotou na firma onde eu trabalho e todo mundo estava a todo vapor para organizar tudo o mais rápido possível, porque a data da audiência preliminar estava chegando.

A melhor parte era que a última sexta-feira de agosto ia ser feriado! Eu nem tinha planos para fazer coisa alguma, mas meu chefe estava de bom humor porque um caso anterior nosso deu muito certo e todos que trabalharam nele iam poder sair mais cedo na quinta-feira.

Ou seja, eu tinha um pouco mais de tempo livre para fazer algo. Só faltava decidir o que fazer.

Então no sábado anterior ao feriado eu recebi uma ligação.

-Lizzie Bennet!

-Emma Woodhouse!

Emma Woodhouse era uma das minhas grandes amigas na escola. O que é engraçado, porque Emma é mimada ao extremo e eu geralmente não me dou bem com esse tipo de pessoa. Porém ela sempre foi uma mistura bem curiosa de menina mimada e pessoa com um coração absurdamente generoso. O pai dele sempre foi muito protetor (além de hipocondríaco e workaholic) e acabou fazendo dela uma mistura curiosa de independente e apegada. Ela gosta de gerenciar a vida das pessoas ao redor dela e faz tão bem que ninguem nem percebe que está sendo gerenciado até ser tarde demais.

Mas Emma é uma mulher incrível e é pura diversão.

-Eu estou te ligando para te fazer um convite. –ela falou animada.

-Diga.

-Como estão seus planos para o feriado? –ela quis saber.

-Nada demais. Meus pais vão viajar, então não estou indo para casa.

-Quer vir para Portsmouth? –ela perguntou na hora –Eu preciso desesperadamente de um ombro amigo.

Hum, interessante. Emma dificilmente pedia socorro.

-Claro. Por que não? –eu ri com o grito animado dela –Eu vou ser liberada do trabalho as 16 na quinta.

-Vem pra ca então! –ela falou na hora –Você chega a tempo do jantar e nós podemos passar a sexta fazendo nada!

A animação de Emma era contagiante e, antes que eu pudesse pensar melhor, ja tinha concordado.

XxX

Eu acho que não comentei isso antes, mas eu e as meninas temos um carro. Na verdade verdadeira ele é da Mary, os pais dela deram de presente quando ela entrou para a faculdade. Imagina a idade do negócio.

Nós não costumamos usa-lo porque andar de carro em Londres é quase impossível, além de ser caro estacionar e coisa e tal. Normalmente nós deixamos para quando vamos viajar para ver nossos pais.

Eu pedi para Mary para usar o carro para visitar Emma e ela deixou. Todas ja tinham programas para o fim de semana, então eu fui sozinha. Curiosamente Jane e Kitty também estavam visitando amigas nossas da escola; Jane tinha ido ver Elinor e Marianne Dashwood e Kitty foi ver Catherine Morland.

Emma mora em Portsmouth, que fica a pouco mais de duas horas de carro daqui de Londres. É uma cidade portuária super importante. Aliás, é o negócio do pai dela: ele faz transporte marítimo e é dono de 1/3 das docas que existem lá.

Eu saí do escritório na quinta direto para a estrada. Lucy (como chamamos carinhosamente o carro) é velha, mas é firmeza. Eu gosto de dirigir e sentir a paz da estrada, sentir o vento no meu rosto e poder pensar com calma.

Aliás, eu tenho feito muito disso: pensar. E quanto mais eu penso, mais confusa eu fico.

A raiva passou. Eu não sinto mais tanto dela quando penso em Darcy e Bingley. Eu me sinto desapontada. Bastante. Eu sinto que, por algum motivo idiota, esperava mais dos dois. Eu esperava mais caráter, mais coragem.

Claro que eu até tenho que dar crédito pro Darcy: ele veio se declarar para mim na cara e na coragem e todos sabemos que isso não é fácil. Tá, ele foi um animal e só falou besteira, mas ele tentou mesmo assim.

É só um pouco de crédito, mas é melhor do que o saldo negativo que ele tinha antes.

E eu sei que esse assunto está encerrado, morto e enterrado, mas não consigo parar de pensar em tudo o que aconteceu. Todas as vezes que nós nos falamos, todas as vezes que eu o peguei olhando para mim... E ainda não consigo entender como fui tão burra, tão cega.

De certa forma acho que tem muito a ver com a minha implicância com ele. Ele feriu meu orgulho quando nós nos conhecemos e eu nunca gostei do jeito que ele tratava minhas amigas. Mas eu acho difícil acreditar que foi só isso que me impediu de perceber.

As meninas disseram que era óbvio (embora nenhuma delas tenha se dado ao trabalho de me informar), então eu devia ter percebido! Eu nem levei a parada da bunda a sério. Se bem que, sejamos honestas, homens olham para bundas e não tem muito a ver com amor eterno.

Não que Darcy tenha me jurado amor eterno. Aliás, ele parecia querer des-jurar amor bem rapidinho depois que eu dei um fora nele.

Homens.

Eu peguei um trânsito desgraçado na saída de Londres, o que acabou me atrasando bastante. Mesmo assim eu cheguei em Portsmouth pouco depois das sete. A vantagem do nosso “verão” é que o sol ainda estava brilhando forte no céu quando Emma desceu correndo as escadas da entrada de sua casa.

-Elizabeth Bennet! –ela gritou jogando os braços em volta do meu pescoço.

Eu quase caí para trás, mas consegui me apoiar no carro a tempo.

-Emma Woodhouse. –eu respondi abraçando-a –Parece que faz um século que eu não te vejo.

-Faz mais de um ano. –ela falou separando-se brevemente do meu pescoço –Nem parece que nós moramos tão perto. –suspirou –Eu preciso ir para Londres.

-Sim, você precisa. –eu sorri.

Emma é muito bonita. De verdade. Ela parece uma Barbie, toda loira, com suas roupas sempre perfeitas e aqueles enormes olhos azuis. Eu sempre achei engraçado como, embora ela tenha a mesma idade que eu, Emma sempre pareceu mais jovem. Muitas pessoas acham que ela tem 18 ou 19.

-Meu pai está super animado com a sua presença. –ela me informou.

Sr. Woodhouse era uma figura bem curiosa. Como eu disse antes ele é hipocondríaco e workaholic, então conversar com ele é diversão garantida. O Sr. Woodhouse me lembra muito o meu pai, então eu sempre gostei de conversar com ele. Não sabia que era recíproco.

-E o George vai vir jantar conosco. –Emma me informou.

-Ah, o George... –eu abri um sorriso divertido –Ele continua sendo aquela coisa linda pela qual todas nós babávamos?

Emma fez um cara de nojo.

-Sinceramente, eu não sei o que vocês sempre viram nele. –ela falou –O George não é lindo.

-Claro que ele é! –eu protestei –Você não pode dizer que não só porque cresceu considerando-o um irmão.

Emma revirou os olhos e eu ri. Aquela conversa era tão velha quanto a nossa amizade.

Emma tinha um vizinho/amigo da família que era bem mais velho que ela, chamado George Knightley. A irmã mais velha de Emma, Isabella, casou com o irmão caçula dele. Ele sempre frequentou a casa da família e quando nós o víamos, nós nos derretíamos, não só porque ele era muito charmoso e tinha um sorriso incrível, mas também porque eu nunca vi um homem mais educado e maduro em toda minha vida. Claro, Bingley era uma gracinha e um princípe, mas George era um lorde. Mas se fazia 1 ano que eu não via Emma, devia fazer 5 que eu não via o famoso Sr. Knightley.

-Deve ser por isso que você nunca se envolveu como homem nenhum. –eu comentei distraidamente –Com um cara como George em volta, você deve esperar muito dos meros mortais. Ele elevou suas expectativas.

-Homens são criaturas idiotas e eu serei feliz se nunca mais ver um. –ela resmungou.

Isso capturou minha atenção. Emma sempre falou que não ia se casar nunca, mas ela nunca foi amarga ou alguém que odiava homens.

-O que aconteceu? –quis saber.

-Bom, é uma longa história. –ela suspirou –E justamente porque eu preciso de apoio moral.

-Ah Emma... O que você aprontou agora?

XxX

Como eu tinha dito antes, Emma adora se meter na vida alheia, mas dessa vez tinha se superado. A história de forma resumida era a seguinte: ela tentara unir sua assistente pessoal (uma menina chamada Harriet) com um promissor jovem advogado (chamado Philip) por meio de muitos esquemas. Ela achou que tudo estava indo bem, até ela descobrir que, na verdade verdadeira, Philip estivera interessado nela, não em Harriet. E pior ainda, interessado nela pelo status e dinheiro que a família dela tinha!

Philip tentou se declarar para Emma, ela deu um fora nele (obviamente) e agora, menos de quatro meses depois, ele estava noivo! Pelo jeito ele queria só casar mesmo e qualquer mulher com dinheiro ia servir.

Emma estava sentindo-se culpada, porque ajudara Harriet a criar expectativas (e se conheço bem Emma, ela praticamente enfiara as expectativas na goela da menina), só para ver que estivera completamente errada, fazendo a menina decepcionar-se.

-Eu nunca mais vou me meter  na vida dos outros. –Emma jurou ao terminar de contar a história.

Eu tive que engolir uma risada.

-Sério! –ela protestou –Chega desse negócio de dar palpite. Agora só se me pedirem.

-Emma, quando você quer dar palpite na vida alheia você considera até um olhar como um pedido. –eu indiquei.

-Ei, eu sou boa em perceber sinais sutis!

Ela era boa em inventar sinais, isso sim.

Quando entramos na sala (porque gente rica aparentemente se encontra numa sala pré-jantar) o pai de Emma, sr. Woodhouse, estava conversando com...

Uau.

Uau.

Sinceramente, eu não consigo entender essa parada da Emma não querer pegar esse homem!

-Lizzie! –sr. Woodhouse falou com sua voz alta –Quanto tempo! Você lembra de Knightley?

Opa se eu lembro. Eu apertei a mão do pai de Emma, então virei-me para George.

-Oi, Knightley. –eu sorri –Faz muito tempo que eu não te vejo.

-George está bom, Lizzie. –ele sorriu para mim –E sim, faz muito tempo. A última vez que eu te vi você estava indo para a faculdade.

-Nossa. –eita, fazia mais tempo do que eu achava –Eu ja formei e estou até trabalhando em Londres.

-Eu lembro de Emma comentando algo do tipo. –ele falou lançando um rápido olhar para Emma –Você está morando com as outras meninas, certo? Como estão Jane e Lydia?

Em questão de idade eu, Jane, Lydia e Emma temos a mesma. Mary e Kitty são as mais novas, mas elas sempre vieram no pacote.

-Elas estão bem. Todas trabalhando.

-Mas morando em Londres, Lizzie! –Sr. Woodhouse falou de repente –Trabalhar é ótimo e todos deviam fazer, mas Londres? Aquela cidade é um perigo para a saúde de qualquer um! Aquele tanto de gente! Imagine as bactérias, fora os acidentes, os bebâdos... Um perigo.

-Pai. –Emma suspirou.

Acho que algumas coisas não mudam mesmo.

XxX

E daí durante o jantar o universo provou que quer acabar comigo. Eu estava conversando com Emma, enquanto George estava conversando com o sr. Woodhouse quando eu escuto...

-... nossos advogados aconselham. Embora Darcy seja da opinião que...

Sério! Não é possível! Esse homem é onipresente?

-Darcy? –eu cortei antes que pudesse me conter –Darcy Darcy? O advogado da DeBourgh que não tem um nome?

George virou para mim confuso.

-Eu estava pensando em Fitz Darcy, mas eu conheço Darcy Darcy, o primo sem nome. –ele falou com um pequeno sorriso.

-Fitz é seu advogado? –eu perguntei curiosa.

-Ele faz parte do time de advogados da empresa. –ele me explicou –Você conhece Fitz?

-Eu o conheci num casamento que eu fui recentemente. –eu falei sinceramente.

George parecia estar me analisando com cuidado.

-Na Escócia? –ele perguntou.

O jeito que ele estava me olhando estava me deixando desconfortável. Emma estava olhando entre nós dois, claramente curiosa.

-Sim. –eu respondi hesitante.

-Alguma chance de você ser a ruiva que deu um fora fenomenal no primo dele? –George perguntou, um pequeno sorriso em seu rosto.

Eu juro que senti minha cara ficar vermelha. Meu rosto estava tão quente de vergonha que acho que dava para fritar um ovo na minha testa.

Emma tinha se virado para mim, olhos brilhando de curiosidade, quase quicando de vontade de saber a coisa toda.

-Verdade? –ela exigiu.

-Eu... –Jesus amado, estava até gaguejando –Eu não acredito que ele saiu contando pra todo mundo!

-Em defesa dele... –George falou de forma conciliatória –Eu perguntei do casamento e ele me contou de forma geral o que tinha acontecido. Uma dessas coisas era que uma ruiva tinha dado um fora em Darcy e agora ele estava mais chato do que o normal.

Ei, eu não vou me sentir culpada. Aprenda a lidar com foras, homem! Ninguem tem a obrigação de gostar de ninguem, sabia?

-Darcy, Darcy, Darcy... –Emma estava repetindo o nome olhando para o teto, batendo as unhas contra a madeira da mesa –Eu conheço esse nome.

-Ele estava no jantar de Natal que demos ano passado na empresa. –George lembrou Emma –Você disse que ele tinha cara...

-De que tinha chupado um limão. –ela completou, obviamente lembrando-se –Ele ainda tem cara de quem chupou um limão?

-Tem. –eu respondi cruzando os braços.

-E ele se declarou para você? –ela insistiu curiosa.

-Se você pode chamar aquele discurso dele de declaração... –eu resmunguei.

-Ah essa juventude. –Sr. Woodhouse lamentou –Não é a toa que o mundo está perdido.


Eu tenho que concordar com ele.

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Capítulo 16

-Então... Você e o Darcy?

Eu bufei. Devia saber que Emma não ia deixar passar fácil assim. Ela era curiosa ao extremo e eu tinha caído na besteira de abrir a boca na frente dela. Agora tinha que aguentar.

-Sabe, nós não temos mais quinze anos. –eu falei ao ve-la entrar de pijama no quarto onde eu ia passar a noite e se jogar na cama sem cerimônias –Isso não é uma festinha de pijama, pra gente ficar fofocando a noite toda.

-Mas eu trouxe esmalte! –ela falou, balançando o vidrinho roxo.

Eu reverei nos olhos, mas no fim das contas também sentei na cama e ofereci minhas mãos de forma obediente.

-Vai, Lizzie. Desembucha. –ela falou depois de ter começado os primeiros dedos.

Eu considerei seriamente não dizer nada. Ficar quieta, ver se Emma se tocava, mas a verdade era que eu precisava de uma perspectiva nova. Alguem que não estivesse tão diretamente envolvido com a bagunça inteira.

Então no fim eu contei tudo para ela. Desde o primeiro dia que nós nos vimos, até a última mensagem. Quando eu finalmente terminei Emma ja tinha terminado minhas unhas e eu ja estava quase acabando as dela.

Ela ficou em silêncio um pouquinho, como se estivesse pensando antes de falar.

-Você o beijou primeiro. –ela indicou.

-Ei, não foi provado quem beijou quem. –eu prostestei, mas era fraco.

-Sim, mas quem beijou primeiro não importa, a frase saiu errada. O que eu quis dizer é que antes de ele se declarar, antes de você saber como ele se sentia, vocês ja tinham se beijado.

-Você sempre disse que beijos não contam depois da meia-noite. –eu resmunguei.

Emma suspirou e pareceu pensativa, como sempre parecia quando alguem repetia essa frase dela. Eu sempre quis saber de onde ela vinha, mas Emma nunca explicou exatamente.

-Não, eles não contam. –ela falou por fim –Não quer dizer que eles não aconteceram.

-O que você está querendo dizer com isso? –eu falei por fim.

-Eu não quero que você me diga nada. –ela falou –Não estou esperando uma resposta, nem nada, mas, Lizzie... Você não acha que, se você o beijou, alguma coisa tinha ali? Atração? Uma pontinha de vontade, de curiosidade? Será que a razão pela qual essa história não saí da sua cabeça é porque, no fim das contas, você não era tão indiferente quanto acha?

Eu abri a boca, mas Emma levantou a mão para que eu não falasse.

-Você não tem que falar nada para mim. –ela reforçou –Eu só quero que você considere. Talvez você não o odiasse tanto quanto achava. E... –começou com cuidado –Talvez você não esteja tão brava quanto gostaria.

Eu fiquei olhando em choque para Emma. Claro que eu estou brava! E com razão!

-Só pensa com cuidado. –ela pediu mais uma vez, levantando-se –Boa noite, Lizzie.

Eu nem falei nada. Claro que eu estou brava!

E Darcy merece que eu esteja brava com ele. Ele foi um idiota. Qual o problema daquela pessoa? Ele podia ter feito tudo tão mais fácil se ele tivesse dito que...

-Olha, Lizzie, eu sei que você acha que o Darcy é chato, metido e tal... E eu sei que ele passa essa impressão, mas ele é super gente boa.

-Eu não sou bom em conversar com pessoas que eu não conheço.

-Eu tenho dificuldades em me expressar na maior parte do tempo.

As conversas apareceram na minha cabeça sem pedir permissão.

Droga.

Droga.

Eu te odeio, Emma Woodhouse.

XxX

Como prometido, Emma não tocou mais no assunto “Darcy”. Eu mesma tinha passado a noite em claro depois que ela deixara meu quarto. Sim, eu tinha minhas conclusões, mas elas não significam nada. Ponto final. Não quero mais falar sobre isso.

Sério, não quero, porque... Sinceramente, o que adianta? Ele e Charlie tinham ido embora, eu não ia mais ver nenhum deles; nem Fitz ou Caroline. Não adiantava ficar remoendo coisas que não iam levar a nada.

Então eu e Emma fomos passar o dia na cidade, vendo as feiras e almoçamos em um restaurante super fofo. Nós estávamos voltando para a casa dela quando Harriet, a amiga, começou a enviar mensagens desesperadamente.

Emma finalmente cansou-se dos textos sem sentido e ligou para ela.

-Harriet, acalme-se. Eu não estou entendendo nada. –Emma falou com paciência exagerada –Harriet, respire, por favor. Se você desmaiar por falta de ar, nós teremos um problema a mais.

Eu tive que segurar um sorriso. Não era a toa que Emma praticamente comandava a firma do pai. Ela era uma ótima pessoa para se ter do lado numa crise.

-Ele o que? –ela gritou no celular, fazendo várias pessoas ao redor nos olharem com caras estranhas.

-O que foi? –perguntei curiosa.

Emma fez um gesto para eu esperar.

-Hoje? Como assim hoje? –ela gritou mais uma vez, então respirou fundo e tentou acalmar-se –Harriet, você tem certeza? Eu não recebi... –o telefone dela vibrou, indicando uma mensagem –Espera ai. Ja te ligo de volta.

Eu vi, com grande interesse, Emma respirar fundo antes de desligar o aparelho –ignorando os gritos desesperados de Harriet do outro lado. Ela abriu a mensagem e soltou um palavrão que eu nunca ouvira vindo dela antes.

-O que foi? –eu praticamente exigi, me corroendo de curiosidade.

-Aquele filho de uma porca do Elton! –ela esbravejou –Ele vai fazer um “jantar íntimo”... –falou com desprezo, fazendo uma voz afetada -...para apresentar a futura esposa dele para a sociedade e mandou convite para a Harriet! E pra mim! –eu achei que ela fosse arremessar o celular no chão –Babaca! Imaturo! Cretino!

-Hoje? –eu perguntei, porque era fácil deduzir.

-Sim! Hoje!

-E você vai?

-Eu... –ela parou e respirou fundo –Eu tenho que ir. Vai pegar mal se eu não for. Lizzie...

-Nem vem. –eu falei na hora –Eu to vazando. Além do mais, sua amiga vai precisar de um apoio.

-Eu sinto muito. –ela falou sinceramente arrependida.

-Deixa disso, Woodhouse. –falei sincera –Vai la e acaba com a raça desse idiota.

Emma assentiu decidida. Se Elton não fosse um animal eu até ficaria com dó.

Mentira. Ficaria nada.

XxX

Com Emma compromissada pela noite, resolvi ir embora. Mas ja que estava com a tarde livre e Londres ficava perto, resolvi fazer um pequeno desvio e passar em Windsor. Fazia muito tempo que eu não via o Castelo e sempre foi um dos meus lugares preferidos.

Além disso há uma confeitaria la que faz um bolo esponja que eu e as meninas amamos. Eu podia pegar um e levar para casa.

Despedi-me de Emma e do pai dela (deixando beijos para o George) e fui.

Eu passei algumas horas la. Minha parte preferida do verão por aqui é como os dias são longos. Quando eu finalmente peguei o bolo na confeitaria e resolvi voltar ja eram sete horas da noite, mas o sol ainda estava brilhando com força total. Ou o que a gente considera força total por aqui.

E foi aí que meu karma resolveu que eu ja tinha tido dias calmos o bastante e estava na hora de me torrar de novo.

Eu gosto de pegar um estrada secundária que sai de Windsor antes de cair na rodovia principal que leva a Londres. O cenário é lindo, calmo, meio isolado. Sabe, o lugar perfeito para o seu pneu furar.

Eu juro por tudo que é mais sagrado que alguém la em cima me odeia muito. Eu colei taxinha na cruz. Só pode.

Eu respirei fundo e consegui parar o carro no acostamento. Tudo bem, eu gosto de carros, lembra? Eu sei trocar pneus!

Assim decidida e super calma, desci do carro, abri o porta-mala e dei de cara com o estepe mais murcho que ja vi na minha vida. Queria chorar de frustração. Eu tinha checado tudo antes de viajar: gasoline, pneus, óleo... Mas eu esqueci do maldito do estepe! E obviamente nenhuma das outras meninas teria lembrado.

Eu queria chorar de frustração, mas respirei fundo mais uma vez. Dei uma olhadinha no pneu e havia um prego gigantesco enfiado nele. Eu nem tenho ideia de onde isso saiu porque eu não passei em cima de nada suspeito.

Pensei em ligar para o guincho, mas os números que eu tinha só atendiam a região de Londres e a de onde meus pais moravam, não Windsor. Chequei e o sinal da internet era inexistente ali, então resolvi ligar para uma das meninas e ver se elas podiam checar para mim e então retornar.

E adivinha o que? Eu devo ter parado na única estrada no mundo onde não tinha sinal de telefone. Por que, Senhor? Por que? Foi porque eu mentia que estava doente para não ir a missa? Foi porque eu troquei o remédio da Irmã Grace por laxante? Foi só uma vez!

Ta, chega de sentir pena de mim mesma. Passou, superei.

Eu considerei minhas opções. Haviam algumas casas e até um B&B por aqui. O duro é que a maioria das casas eram dos ricos e poderosos e eu duvido que algum deles ia querer me ajudar, então eu teria que andar até o B&B. Nem era tão longe assim, eu só esperava chegar até la antes que escurecesse, e o sol ja estava começando a abaixar. O fim de agosto ja era a época que o dia não durava mais tanto e as nove horas estaria completamente escuro.

Era melhor começar a andar.

Eu tinha acabado de me decidir quando vi um carro vindo na minha direção. Um Mercedes SLS prata. Ótimo, pessoa rica. (Mas sério!!! Esse carro tem porta de asa de gaivota e é pura perfeição! Não que eu fosse saber por experiência própria, porque eu nunca entrei em um).

Bom, não custava nada tentar, então eu balancei os braços.

Miraculosamente o carro foi diminuindo de velocidade até parar perto de mim. A janela do motorista abaixou e uma menina olhou para mim. Ela tinha olhos verdes enormes e o cabelo estava preso numa trança embutida. Ela parecia nova demais para estar dirigindo sozinha e também parecia vagamente familiar.

-Está tudo bem? –ela me perguntou preocupada.

-Meu pneu furou e meu celular não funciona. Eu teria trocado pelo estepe, mas ele está murcho. –eu falei, incrivelmente aliviada por ela ter parado e por ser uma garota.

-Desculpa, mas... –ela parecia estar me analisando –Eu te conheço de algum lugar.

-Eu estou com a mesma sensação. –admiti. Só que eu sou meio ruim com rostos, embora seja pior com nomes.

-Do bar! –ela falou de repente –The Regent! Você me ajudou a ir embora.

Verdade!

-A menina dos martinis com azeitona. –sorri.

-Sim. –ela olhou em volta –Quer vir comigo? Eu estou ficando aqui perto e tenho quase certeza que meu irmão tem uma daquelas bombas que enchem as coisas de ar e dá pra carregar pra la e pra ca. –ela falou incerta.

Gente, que gracinha de menina. Vontade de apertar essas bochechas.

-Por favor. –eu falei sentindo-me ridiculamente aliviada –Aliás, meu nome é Lizzie.

-Eu sou Gina. –ela sorriu para mim –Entra ai.

Eu corri para meu carro e peguei minha bolsa e tranquei tudo. Quase morri quando aquela porta levantou e quase derreti naquele banco de couro.

Por um minuto me lembrei de Darcy e daquele carro ridículo dele, mas empurrei o pensamento para longe. Chega de Darcy na minha vida.

Eu sou mesmo uma anta.

XxX

Sabe aquela sensação de que você está se esquecendo de alguma coisa? Pois é. Eu estava com ela.

Eu chequei minha bolsa para ver se estava com meu celular, as chaves do carro, minha carteira... Tudo estava la. Então não que eu tinha esquecido de alguma coisa física. Era como se estivesse deixando passar algum fato importante.

-Eu e meu irmão estamos ficando num chalé aqui perto. –Gina estava me falando –Normalmente nós ficamos em Derbyshire, mas ele quis ficar mais perto de Londres dessa vez.

-Que sorte a minha. –brinquei de leve.

-O Will está em casa. –ela me assegurou –Quando chegarmos la ele pode te ajudar. Só não deixa a cara azeda dele te assustar. O Will é meio tímido e não sabe falar com estranhos.

E, de repente, tudo clicou. Gina, olhos verdes, chalé em Derbyshire, o carro prata...

Não! Não! NÃO NÃO NÃO!

Isso só pode ser piada. Deus do céu, o mundo não pode ser tão cruel assim comigo! Tem que ser tudo uma grande coincidência!

Mas claro que não era. Os fatos começaram a se ligar na minha cabeça: Gina estava no The  Regent com o irmão, Gina tinha olhos verdes e cabelo preto e era bem novinha.

CACETE, ESSA ERA A IRMÃ DO DARCY!

E Will? Ele chamava William? Depois de toda aquela frescura do Fitz pra me falar o nome de Darcy ele chamava William? Qual o problema com esse nome? Eu tenho um tio que chama William.

Considerei seriamente pedir para ela parar o carro e sair correndo na direção oposta, mas ja era tarde demais: Gina estava entrando por um caminho e eu ja podia ver a casa.

Obviamente o “chalé” deles não era uma casinha de camponês. A casa era enorme e, embora tivesse um ar meio bucólico, dava para ver de longe que era bem cuidade (e bem paga).

Gina parou o carro e desceu, então tive que segui-la. Ela destrancou a porta da frente e foi entrando, eu não tive escolha a não ser ir atrás.

-Will! –ela chamou –Vem aqui.

-Gina? O que foi?

Era a voz dele! Ai meu Jesus amado!

-Eu preciso de uma ajuda. –ela falou.

-Aconteceu alguma coisa? –ele perguntou, a voz se aproximando.

Gina estava falando alguma coisa, mas eu não conseguia ouvir, porque meu coração estava batendo tão alto que parecia estar soando na casa inteira.

Então Darcy apareceu na sala, a testa franzida em preocupação. Daí ele olhou de Gina para mim e os olhos dele se arregalaram em choque, a boca abrindo-se sem som nenhum sair.

-Lizzie? –ele falou a voz carregada de surpresa.

-Oi, Darcy. –eu tenho quase certeza de que não gaguejei.

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N/A: Ah Lizzie Bennet! hahahaha Você só apronta mulher!

Gostaram da nossa participação especial?

E Darcy está de volta com Gina dessa vez!

Imagina no que isso não vai dar. 

COMENTEM!

B-jão

segunda-feira, 18 de abril de 2016

A Senhora de Nárnia - Capítulo 21


Capítulo 21

Susan estava enfrentando dois orcs quando um exército de... Céus, o que era aquilo? Se eles fossem reforços de Sauron estavam todos perdidos!

Pareciam fantasmas e estavam varrendo o campo! Foi quando ela percebeu: eles estavam atacando os orcs.

Aragorn! Ele conseguira!

Viu Gimli a distância, mas não havia tempo para procurar os demais. A batalha ainda estava feroz ao seu redor.

-Majestade! –Reepicheep pulou em seu ombros –Eles conseguiram!

-Finalmente uma boa notícia para nós. –ela concordou, despachando mais três orcs com suas flechas.

-Mestre Gimli! –Reep chamou ao ver o anão aproximar-se –Bom ve-lo vivo.

-Eu digo o mesmo. –o anão falou animado, derrubando mais um orc com seu machado. Então algo pareceu chamar sua atenção –Elfo exibido.

Susan virou-se para ver o que ele olhava e encontrou Legolas escalando uma das criaturas. Sozinho ele derrubou o ninho sobre as costas do animal e, com repetidas flechadas, fez a criatura cair, antes de deslizar graciosamente por sua tromba e pousar no chão.

-Ainda assim, só conta como um! –Gimli protestou.

-Elfo! –Susan bradou, algo irado em sua presença.

Legolas ficou parado em choque, enquanto ela avançou até ele em passos decididos, derrubando sem hesitar ou parar os loucos que tentaram entrar em seu caminho. Quando ela finalmente alcançou-o Susan agarrou Legolas pela gola de sua camisa.

-Eu quero o que você roubou de volta. –ela declarou antes de puxa-lo mais e colar seus lábios aos dele.

Foi como se todo o barulho de batalha ao redor deles parasse de repente e sós os dois estivessem ali agora.

Então os dois se separaram e ficaram se encarando em silêncio. Sem quebrar o olhar mataram os dois orcs que vieram na direção deles.

-Agora está tudo certo? –ela desafiou, arqueando a sobrancelha.

-Acho que eu vou roubar mais um para dar sorte. –ele declarou antes de inclinar-se e beija-la rapidamente.

Legolas saiu dali antes que Susan conseguisse acerta-lo com seu arco. A Rainha respirou fundo.

-Hora de voltar a batalha. –ela declarou para ninguem em particular.

xXx

Susan viu ao longe Eowyn matar o Nazgul. Ela tinha certeza de que a mulher estaria ali, enfiada no meio da batalha. Théoden (como a maioria dos homens no poder) fora muito tolo ao achar que a mulher simplesmente voltaria para casa.

As forças deles tinham sobrepujado as forças de Mordor e a maioria dos orcs se preparava para bater em retirada, mas alguns ainda insistiam em lutar. Fora isso eles estavam decididos a destruir todos os orcs, porque se eles corressem livres, cedo ou tarde trariam mais problemas.

Susan estava enfrentando um quando olhou e viu Aragorn lutando contra outro. Ele estava saindo-se melhor, mas um segundo apareceu atrás dele, espada preparada para um golpe.

Susan empurrou o orc que a enfrentava com toda sua força.

-Aragorn! –ela gritou, mas ja tinha uma flecha voando pelo ar.

Aragorn virou ao mesmo tempo em que a flecha atingiu o orc. Ele lançou um olhar agradecido a Susan, mas de repente seus olhos se arregalaram.

O orc que Susan empurrara voltou para ataca-la. Ela mal teve tempo de levantar seu arco para bloquear o golpe quando um segundo orc apareceu, espada em mãos. Ela nunca ia conseguir defender os dois dessa forma.

Ela ouviu a voz de Aragorn gritar ao fundo, ao mesmo tempo que sentiu a lâmina afundar-se em sua barriga. Quando Boromir apareceu e matou os dois, ela ja tinha caído no chão.

-SUSAN! NÃO! –o capitão gritou, mãos indo para o ferimento, tentando estancar o sangue –Susan! –ele levou uma mão ao colar em volta do pescoço dela –Sua mágica!

-Só tinha uma gota e ele era sua. –ela sorriu suavemente, então levantou a mão e tocou o rosto dele –Acalme-se, Boromir.

-Majestade! –Reep apareceu correndo –Rainha Lucy está na cidade! –ele lembrou de repente –Ela poderá salva-la. Mas temos que leva-la antes que...

Susan sentiu sua cabeça começar a flutuar e estava ficando frio. Sabia que não eram bons sinais, mas ater-se as coisas a sua volta ficava cada vez mais díficil. Sabia que Aragorn estava ali também, mas não entendia mais que isso.

-SUSAN! –Peter chegou correndo –Precisamos leva-la até Lucy.

-Ela nunca vai conseguir chegar a tempo! –Aragorn falou frustrado.

Peter assobiou impossivelmente alto. Uma sombra passou por eles antes de um animal como eles nunca viram antes pousar bem ao lado deles.

-Sekhmet, leve Susan até Lucy imediatamente. –o Rei exigiu.

Boromir ja estava pegando Susan no colo.

-Suba, cavaleiro. –a fera praticamente rosnou para Boromir. O capitão montou no animal, segurando Susan em seus braços –Segure-se firme.

A criatura levantou vôo aparentemente sem esforço algum. O exército de fantasmas ja tinha varrido a cidade de orcs e os cavaleiros de Gondor começavam a aparecer. Boromir nem teve tempo de olhar para a destruição da cidade, antes de Sekhmet estar pousando.

Viu ao longe uma jovem de cabelos escuros, vestida em armadura dando algo para os soldados caídos no chão.

-Majestade! –Sekhmet chamou com urgência.

Lucy virou-se ao ser chamada, então seus olhos foram parar em Boromir e quem ele trazia em seus braços e se arregalaram.

-SUSAN! –gritou desesperada, correndo até a irmã.

-Ela não está abrindo os olhos. –Boromir falou em desespero, deitando-a no chão.

-Não, não, não! –Lucy abriu a boca da irmã e derrubou uma gota de sua poção ali.

-Boromir! –Faramir aproximou-se do irmão –O que...

Boromir abraçou o irmão caçula, apertando-o contra si.

-Você está vivo. –ele murmurou aliviado.

-Eu posso dizer o mesmo. –Faramir retribuiu o gesto –Essa é...

-Ela não está abrindo os olhos. –Lucy falou, lágrimas grossas escapando de seus olhos.

-É minha culpa. –Boromir falou, um peso em seu estômago –Se ela não tivesse usado o que tinha para me salvar...

-Quem ia cuidar de mim? –Susan murmorou de forma fraca, olhos ainda fechados.

-Susan! –Lucy debruçou-se sobre a irmã, abraçando-a de forma desajeitada –Louvado seja.

-Minha Rainha. –Boromir caiu de joelhos ao lado dela e pegou sua mão –Você está bem?

-Estou. –ela assegurou, finalmente abrindo seus olhos –E acho bom você parar de se culpar. Está tudo bem.

Boromir deixou um beijo reverente na mão da Rainha.

-Sim, Majestade.

Faramir estava olhando em choque para seu irmão. O jeito que Boromir estava tratando Susan não era como o de alguem que deseja uma mulher, mas sim como alguém que segue um líder.

Gondor perdera seu Regente para Mordor e estava para perder seu Capitão para Nárnia. Ele mal podia acreditar.

xXx

Lucy estava ajudando com os feridos e a ordem era levar todos os que não corriam risco imediato de morte para as Casas de Cura enquanto ela administrava sua poção primeiro para os casos graves. Pessoas não paravam de entrar na cidade e logo eles teriam que descer aos campos e ver como estava a situação la fora.

Susan, que já estava de pé e pronta para outra, estava ajudando a irmã, Faramir e Edmund a separar os casos. Era doloroso ver quantas pessoas foram perdidas, quantas vidas destruídas. Guerras eram terríveis.

Pippin tinha descido até o campo com Boromir para ver o que podia ser feito la e, logicamente, para procurar Merry.

Eles tinham improvisado um centro de atendimento no pátio da Árvore Branca, mas havia muitas pessoas ali.

Susan viu Aragorn chegar, cercado por cavaleiros de Rohan e os demais. Éomer estava carregando Éowyn nos braços, seu rosto torcido em desespero, molhado por lágrimas. O cavaleiro nem olhou para o lado, antes de carregar a irmã para ser cuidada.

-Aragorn! –Susan chamou.

O guardião seguiu a voz dela e seu rosto iluminou-se de alívio ao vê-la ali. Legolas saiu de trás dele e congelou ao ver Susan de pé.

Então o elfo caminhou na direção dela, passos decididos e Susan sentiu uma leve vontade de sair correndo, porque a expressão dele era séria como a Rainha nunca vira antes.

-Eu estou... –ela começou a dizer, apenas para ser interrompida quando ele laçou-a pela cintura.

A mão esquerda dele afundou-se no cabelo de Susan, puxando o rosto dela para o seu. Essa era a terceira vez que ele a beijava, mas isso era totalmente diferente das leves provocações de antes, da brincadeira.

Isso era sério, era um beijo com propósito, com intenção. Era a primeira vez que ela tinha o corpo colado contra o de alguem de forma tão íntima e, embora as mãos dele estivessem em lugares apropriados, havia algo totalmente excitante correndo pelo corpo dela.

Tinha a ver com o sabor dele, com o calor da pele dele, com a boca dele se abrindo contra a dela e a maciez dos cabelos dele nas mãos dela.

Susan empurrou-o gentilmente.

-Isso não está virando um hábito. -ela alertou.

Legolas abriu a boca, mas ela cobriu os lábios dele com seus dedos.

-Eu e você vamos ter uma longa conversa. –ela informou –Depois disso nós discutiremos essa história de beijos. Ainda há muito o que ser feito.

Legolas respirou fundo antes de solta-la e dar um passo para trás.

-Você tem razão. –ele assentiu por fim.

-Ótimo. –ela abriu um enorme sorriso –Aliás, meus irmãos estão logo atrás de você. Boa sorte.

Ela afastou-se rapidamente e Legolas virou-se, dando de cara com os dois Reis de Nárnia, que não pareciam nada impressionados com ele. E Reep estava ali, espada empunhada.

-Eu posso explicar. –ele falou na hora, totalmente calmo.

-Eu vou adorar ouvir você tentar. –Peter respondeu seco.

Homens têm costumes estranhos, o elfo decidiu-se.

xXx

-Aragorn. –Susan aproximou-se do homem.

Todas as pessoas que estavam em condições de se mover estavam ajudando a organizar a cidade, arrumar alimento e água, enterrar os mortos.

-Susan. –ele abraçou a rainha –Eu não tive chance de dizer mais cedo, você estava ocupada... –o sorriso dele era divertido –Mas vê-la viva é uma bênção.

Susan sentiu seu rosto corar.

-Não tem graça. –ela avisou, então seu rosto suavizou-se –Como você está?

-Exausto. Perdido. –ele admitiu –Não tenho certeza do que deveríamos fazer agora.

-O quer que tenha que ser feito, será feito por todos nós, Aragorn. –ela pegou o rosto dele entre suas mãos –Pare de tomar responsabilidade por tudo, você não está sozinho.

-Eu já devia ter aprendido a lição, hum? –ele provocou de leve.

-Sim, você devia. Essa só é a milésima vez que eu te digo isso.

Os dois compartilharam um sorriso.

-Susan! –Lucy entrou correndo no salão, seu rosto em pânico –Éowyn! Eu não sei o que ela tem, mas eu não consigo cura-la!

-O que? –Aragorn adiantou-se para a jovem Rainha.

-Ela tinha um braço quebrado, que eu ja curei, mas há uma mancha negra nele e ela continua se esvaindo. –Lucy estava quase a beira das lágrimas –Os curandeiros não sabem o que fazer!

Susan e Aragorn correram atrás dela até as Casas de Cura. Éomer estava ao lado da irmã, olhos fixos na forma dela.

Éowyn sempre foi pálida, mas agora parecia que a morte pairava sobre ela, a pele de seu braço negra.

-O que é isso? –Susan perguntou em choque.

-Sopro Negro. –Aragorn falou arregaçando as mangas –Alguem me traga Athelas! –ele gritou para os curandeiros –É comum em quem fica muito próximo de um Nâzgul. Frodo foi afetado pela mesma coisa.

-E agora? –Lucy perguntou preocupada.

-Eu posso ajuda-la. –Aragorn garantiu, molhando um pano e colocando-o contra a testa de Eowyn. Ele lançou um olhar a Susan –Tire Éomer daqui. Faça-o comer algo. Ele não saiu do lado dela para nada desde que a trouxeram.

-Deixe comigo. –a rainha falou acenando.

Ela pegou a mão de Éomer e o puxou. Por um minuto o cavaleiro a seguiu, até perceber que ela o levava para longe de sua irmã.

-Não, eu preciso ficar com Éowyn. –ele falou puxando sua mão.

-Aragorn precisa de espaço para trabalhar nela. –Susan mentiu descaradamente –E você precisa comer. –ela olhou em volta, até ver uma das curandeiras –Você poderia me trazer algo para ele comer?

A jovem de cabelos negros e olhos acinzentados acenou rapidamente com a cabeça.

-Éowyn...

-Aragorn vai ajuda-la. –Susan falou mais uma vez, empurrando-o delicadamente para sentar-se –Você não pode ajudar sua irmã ou seus homens se desabar de cansaço.

Éomer levantou-se num pulo.

-Eu exijo ficar ao lado da minha irmã! –ele bradou para ninguem em particular –Eu exijo...

-Pois eu exijo que você se cale agora mesmo! –a curandeira para quem Susan pedira a comida falou aproximando-se. O olhar dela era congelante. –Isso é um lugar de cura e as pessoas aqui precisam de silêncio para trabalhar e para se recuperarem. Você vai respeitar isso ou eu farei te jogarem para fora daqui, você sendo o temido Leão de Rohan ou não. Entedido? –ela colocou o prato na mão dele –Agora coma em silêncio até Lorde Aragorn chama-lo para ficar ao lado de sua irmã de novo.

Dito isso ela virou as costas e saiu dali.

Éomer ficou parado em choque, o prato de comida em suas mãos. Lentamente ele sentou-se e começou a comer de forma mecânica, ainda surpreso.

Susan estava tentando não rir.

-Quem é essa? –ela perguntou a Lucy.

-Princesa Lothiriel de Dol Amroth. –a jovem respondeu –Ela é irmã de Amrothos.

-O princípe que não tira os olhos de você? –Susan arqueou a sobrancelha.

Lucy corou fortemente.

-Eu não sei do que você está falando. –ela falou rapidamente, antes de sair dali também.

Susan viu Éomer observando a tal princesa.

Hum...

xXx

Susan passou as mãos pelos cabelos e respirou fundo. Estava exausta.

Passara o dia ajudando Lucy, Lothiriel e as demais pessoas na Casa de Cura. Sua irmã finalmente conseguira administrar seu remédio a todos que precisavam e a única coisa que fizera-se necessária fora terminar de arrumar a Casa. Éowyn era agora a única ocupante do lugar, porque curar-se de Sopro Negro levava tempo e cuidado. Éomer voltara a postar-se ao lado da irmã.

Susan passou a mão pelo cabelo mais uma vez, soltando-os apenas para começar a trança-los mais uma vez.

-Rainha Susan.

Susan olhou para o rapaz que vinha em sua direção. Ele era extremamente bonito, beirando no rídiculo. Não fossem as orelhas Susan ia achar que se tratava de um elfo.

-Eu sou Princípe Amrothos, de Dol Amroth. –ele curvou-se diante dela –É uma honra conhece-la.

Sim, ela sabia muito bem quem ele era, porque Edmund o apontara mais cedo e resmungara que ele não parava de olhar para Lucy. Vendo-o de perto –olhos cinzas e cabelos negros –Susan podia entender porque sua irmã não estava la muito incomodada.

-A honra é minha, Alteza. –Susan sorriu para o rapaz.

-Nós estamos muito agradecidos pela ajuda que os Narnianos trouxeram. –ele falou –Vocês têm sido faróis de esperança nesses tempos escuros.

-Eu agradeço, embora você esteja nos atribuindo demais. –ela falou graciosamente –Nós estamos apenas defendendo um mundo que também nos pertence.

Armothos sorriu para ela.

-Vamos, Princípe. –ela riu levemente –Não precisa me amolecer com elogios. O que realmente está em sua mente?

-Você me pegou. –ele deu uma risada sem graça –É que seus irmãos são assustadores e você é conhecida como a Rainha Gentil.

Susan viu-se encantada, mas resolveu guardar para si mesma.

-O que você quer saber da minha irmã caçula?

-Óbvio assim, hein? –ele não parecia envergonhado, muito pelo contrário –Eu nunca vi uma mulher como ela.

Sim, havia algo nos olhos dele que era extramente encantador.

-Se você veio pedir minha bênção, você ja tem. –Susan falou gentilmente –Se você veio pedir permissão para alguma coisa... Bom, Lucy resolve as coisas sozinha. Boa sorte. Você provavelmente vai precisar.

O sorriso de Amrothos era confiante e levemente arrogante quando ele se despediu e se foi. Susan teria pena dele se... Não, na verdade não tinha pena nenhuma dele. Ia adorar ver Lucy colocar o princípe para correr círculos.

-Se sua irmã é como você... -a voz de Legolas soou logo atrás de Susan –Eu quase tenho pena dele.

-Eu não tenho nem um pingo de pena. –ela declarou virando-se para Legolas.

-Seus irmãos exigiram saber minhas intenções. –ele arqueou uma sobrancelha –E Reep apontou aquela espada para o meu nariz o tempo todo.

-Eu também não tenho um pingo de pena de você. –ela informou.

-Eu não esperava nada diferente. –ele provocou de leve –Mas a pergunta permanece... E agora, Majestade?

-Bom, meus irmãos ja perguntaram quais suas intenções. O   que você respondeu a eles?

-Que eu não era louco de falar de você, sobre você, em um assunto tão referente a você sem a sua presença. –ele respondeu como se fosse óbvio.

-Aprendeu bem, elfo. –Susan falou com um sorriso satisfeito.

-Eu vivo para agrada-la, Majestade.

Os dois compartilharam um sorriso, até Legolas suspirar.

-Beijos em momentos de crise a parte, Susan... –ele falou sério –Como estamos?

-Bem, eu estou aqui agora e eu quero saber. Quais suas intenções? –ela cruzou os braços e levantou o queixo em desafio.

Legolas deu um passo para frente, seus olhos colados nos dela.

-Minhas intenções são: conhecer você cada vez melhor, porque eu tenho a impressão que ainda há muito a saber. –ele deu mais um passo para frente –Minhas intenções são conhecer a terra que você ama tanto e te mostrar o lugar de onde eu vim. –outro passo e poucos centímetros separavam os dois –Minhas inteções incluem ver o fim dessa guerra, porque eu quero te ver sorrindo mais. Eu quero tira-la para dançar em um salão cheio de pessoas ou sob um céu estrelado. Qualquer um dos dois é ideal para mim. –ele empurrou uma mecha de cabelo para trás da orelha dela –Eu quero ter mais chances de ouvir sua voz, nem que seja porque você está exasperada comigo. Eu quero estar mais perto de você, Susan... –ele inclinou-se na direção dela –Porque acima de tudo, eu tenho todas as intenções de te beijar agora.

-Você é mesmo muito atrevido, elfo. –Susan murmurou, a boca quase roçando na dele –E eu não disse que aceito suas intenções.

-Bem lembrado. Ela não concordou mesmo.

Susan revirou os olhos e virou o rosto o bastante para olhar para Lucy.

-Posso ajudar, Lucy? –ela perguntou.

-Não. –a jovem Rainha falou com um sorriso inocente –Eu só estava procurando minha querida irmã.

-Nós falamos de suas intenções depois, elfo. –Susan informou a Legolas –Assim eu posso te falar das minhas também.

Legolas arqueou a sobrancelha.

-E você tem intenções?

-Obviamente.

-E quando eu posso ouvi-las? –ele perguntou.

-Não vai ser agora, Princípe Encantado. –Lucy interferiu –Mas, só para você ficar sabendo, eu estou torcendo por você.

Legolas sorriu ao ver as duas irmãs se afastando, porém sua audição ainda pegou o último comentário de Lucy para Susan.

-O tal do Boromir, Reep falou de Éomer e agora o elfo, Susan? Sinceramente, você vai começar outra guerra aqui na Terra Média. Contenha-se.

O tom de Lucy não era acusatório, havia um pouco de exasperação e um pouco de divertimento, mas não foi o efeito que teve em Susan. Ela travou imediatamente.

Se Legolas tivesse que adivinhar ele diria que Susan nunca contou a irmã como as palavras dela a afetaram depois da guerra contra os Calormanos, então Lucy não sabia o que estava falando.

Bom, ele não queria ver Susan assim.

xXx

-Eu não gosto desse elfo. –foi a primeira coisa que Peter disse tão logo viu Susan.

-Que bom que não é você quem precisa gostar dele. –Susan cortou –Agora que isso está fora do caminho... –ela fez um gesto para Edmund continuar.

-Nós estamos pensando em enviar um pedido de mais tropas para Nárnia. –o irmão respondeu –Nós vamos ter um tempo agora, eu imagino e...

-Não, não teremos. –Aslan declarou entrando na sala onde os irmãos se encontravam.

-Aslan. –Peter levantou-se.

-Não haverá tempo para mandar chamar mais tropas. –Aslan falou sério –A tempestade chegou em seu ponto máximo, não há mais nada a fazer a não ser enfrenta-la.

-Mordor nos atacará logo? –Lucy quis saber.

-Não exatamente. –ele respondeu –Vocês devem ir a sala do trono. Os demais estão la para decidirem o próximo passo.

Os quatro irmãos assentiram e os dois mais novos saíram na frente, mas Peter e Susan pararam ao lado de Aslan.

-Eu odeio pedir isso de vocês, meus jovens. –Aslan suspirou.

-Não há nada errado com isso, Aslan, não é mais que bom senso. –Peeter falou sério –Não podemos todos estar na próxima batalha. Talvez não sejamos tão sortudos nela.

-Nós iremos e lutaremos. –Susan prometeu –Edmund e Lucy podem ficar para trás.

O Leão suspirou entristecido.

-É um fardo em meu coração que vocês tenham que reinar tão jovens por períodos tão difíceis. –ele falou.

-Nós não vemos assim, Aslan. –Susan falou com sinceridade –Nós estamos preparando um reino melhor, um mundo melhor para as gerações que virão, assim eles não terão que lutar como nós lutamos. Eles serão herdeiros de paz.

-Ah minha Rainha Gentil. –Aslan sorriu para ela –Que suas palavras ganhem forma e força.

-Claro que ganharão, Aslan. –Peter abriu um sorriso –Quando Susan fala, todos escutam.

-Que bom que vocês sabe.


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